Book advisor: profissional que orienta escritores ganha espaço no mercado

Durante o período de isolamento social, muita gente resolveu tirar da gaveta aquele projeto pessoal antigo. Entre eles, escrever livros. O que alguns desses escritores perceberam é que não é tão fácil quanto parece colocar as ideias em ordem no papel. Nesta parte que entra o book advisor: profissional especialistas em transformar autores amadores em profissionais.

Trata-se de um especialista que ajuda o autor a deixar o livro com conteúdo e estrutura de qualidade, de acordo com o público-alvo da obra.

Eduardo Villela, profissional com mais de 16 anos de experiência em produção e publicação de livros, conversou com o Metrópoles sobre esta nova tendência do mercado.

“Faço a seguinte analogia: se você compra um terreno e quer construir uma casa, não vai fazer a própria planta sozinho e começar a contratar os pedreiros. Uma pessoa que não tem informação em engenharia civil ou não é arquiteta, não vai querer gerenciar um processo de construção. E se o fizer, a residência certamente vai ficar mal feita, os alicerces não estarão sólidos, não vai dar certo. Digo que o trabalho de um book advisor, de construir um livro bem-feito, é uma atividade tão especializada quanto”, pondera.

O profissional acompanha o autor do início ao fim do projeto editorial, orientando-o em cada etapa necessária. São várias as fases: avaliar expectativas do escritor em relação ao livro, escolha do tema e abordagem, análise de mercado e os diferenciais em relação a outras obras já publicadas, estudo do público-alvo de leitores.

“Diferente de um agente literário, o book advisor tem um experiência anterior como editor, editor-chefe e que entende de todo esse processo de construção do conteúdo. Para se tornar um book advisor é preciso ter tempo e experiência no mercado. Tenho 16 anos de carreira, 11 deles como editor, e atuo nesta nova função há 5 anos”, explica Eduardo.

Organização e objetividade

Foi em busca de orientação para o processo de estruturação, produção e até mesmo da abordagem adequada, que Urânio Bonoldi, consultor de gestão com mais de 30 anos de experiência no mundo corporativo, procurou o trabalho de Eduardo.

“Quando vamos escrever um livro, a gente tem uma ideia e o desejo de transmitir isso para o público. O book advisor nos ajuda a estruturar isso para que essa mensagem seja claramente transmitida. É um apoio que vem desde a organização das ideias, até a estruturação dos capítulos e o conteúdo de cada um deles, o que torna possível transmitir uma mensagem clara, eficiente e objetiva”, declara Bonoldi, autor do livro A Contrapartida.

Este não foi o primeiro lançamento do consultor, que assume ter começado os projetos anteriores de forma desordenada e sem o cuidado com a estrutura do conteúdo por, à época, não conhecer a figura de um book advisor.

“Com toda bagagem de executivo que eu tenho, de organização e estabelecer processos, ainda assim não foi o suficiente para entrar neste mundo sozinho. Hoje, eu vejo a importância da ajuda profissional, desde a concepção do projeto até a transmissão da ideia”, pontua.

Sem procrastinação

Rafael Arruda também recorreu ao especialista em produção de livros para realizar seu projeto. Como um jogador de futebol que procura um técnico para orientá-lo dentro de campo, o comunicador contou com a assessoria do book advisor. “O jogador está dentro do campo e muitas vezes precisa de um olhar de fora, que só o técnico tem”, comparou Rafael.

“Quando estamos escrevendo um livro, o olhar é de dentro. São as ideias nossas, um conteúdo que nós estudamos, uma visão de mundo que parte de dentro da gente. O book advisor traz a visão de fora, faz a figura do orientador, do consultor, mentor e também do leitor”, destaca o jovem que contou com a assessoria para escrever o livro Comunicação Inteligente e Storytelling para Alavancar Negócios e Carreiras.

Com o auxílio da assessoria, Rafael confessou que, além dos vários pontos positivos, não teve espaço para procrastinar. “Se eu estivesse sozinho, na correria diária, talvez eu tivesse procrastinado, sem energia, sem tempo ou cabeça para escrever determinado dia. Mas como tinha reuniões marcadas, metas e prazos com o book advisor, eu cumpria com meu compromisso. Nesse sentido foi muito importante”, considera.

Foco no leitor

Nos últimos meses, a internet bombou com lançamentos incontáveis de livros e e-books. Segundo Eduardo, os conteúdos, de diferentes assuntos, que vão desde economia à saúde, com frequência são oferecidos gratuitamente, mas nem sempre atendem as necessidades do público.

“Grande parte das pessoas que lançam um e-books, infelizmente, não têm nenhuma orientação profissional. O Brasil é muito carente em cursos de formação para novos escritores. Quer dizer, as pessoas escrevem ali o seu livro com as melhores intenções, mas, muitas vezes, o conteúdo acaba não ficando bem adequado ao que o leitor procura”, considera Villela.

Para que a obra tenha um alcance considerável, o especialista revela que é preciso identificar quais são os sonhos, as dificuldades, as dores e os objetivos que os leitores, que formam o público-alvo do autor, têm.

“Se o leitor ler o livro e gostar do conteúdo, ele vai indicar para outros amigos e assim a obra chegará ao famoso boca a boca. Um livro bem construído, com conteúdo bem feito, é voltado às necessidades do leitor”, resume o especialista que já lançou mais de 600 livros de variados temas.