Bisneto do Visconde de Taunay lança livro após difíceis experiências
De acordo com o diplomata Raul de Taunay, o “Poemas do Desabrigo” foi escrito enquanto estava em locais inóspitos e insalubres
atualizado
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Para o diplomata Raul de Taunay, de 68 anos, o amor pela arte vem de família. O poeta, com oito livros publicados, é bisneto do Visconde de Taunay e está lançando a nona coletânea de poesias: “Poemas do Desabrigo”. A obra é lançada nesta quinta-feira (27/4), às 19h30, na Embaixada da Índia (Quadra 805 do Setor de Embaixadas Sul).
O DNA artístico da família vem de longa data. Tudo começou com Nicolas-Antoine Taunay, que fez parte da Missão Francesa de 1816, quando os primeiros artistas europeus chegaram ao Brasil. “Ele aprendeu o ofício (de pintor) com Jacques Louis-David e foi professor de (Jean-Baptiste) Debret, que documentou os costumes do país”, explica o escritor.
A linhagem artística não parou por aí. Um dos filhos de Nicolas, Felix-Emile Taunay, tornou-se filósofo e atuou como professor do Imperador Dom Pedro II. Felix, então, teve como herdeiro Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle, que viria a ser o Visconde de Taunay, importante escritor do século 19, autor de “Inocência”, uma das principais obras do do romantismo brasileiro.
Porém, Raul divide sua inspiração romântica com seu lado aventureiro no livro “Poemas do Desabrigo”. “(A obra) leva esse nome porque boa parte dos poemas foram escritos enquanto eu estava em locais inóspitos, insalubres”, conta o autor.
Mais do que trazer aspectos da realidade, a poesia deve ser referência do que há de mais belo na linguagem. A palavra tem um poder extraordinário
Raul de Taunay
Como diplomata, Raul de Taunay já serviu em países como França, Espanha, Angola, Moçambique e Coreia do Norte. Atualmente, o escritor está lotado na embaixada da República Democrática do Congo, na África. “Não é incomum eu estar em regiões sem acesso à internet e cheias de conflitos”, diz.
Ao todo, 20 de seus anos foram vividos em Brasília. Sua experiência pela cidade foi documentada (poeticamente, é claro) no livro “Urbe Extrema – Versos Brasilienses” (2012). Também é possível encontrar dois textos do livro “Poemas ao Desabrigo” escritos enquanto o autor estava na capital: “Lamentares” e “Pé no Chão”. Confira, na íntegra, o primeiro:
Lamentares
O tempo passou
E eu não consegui mudar
O que no fundo sou:
Uma ventania
Que venta sozinha,
Um deserto oco
Que não silencia,
A desolação tardia
Que esconde na rima,
O acre amargoso
Da vida contida.
Quisera encontrar os anjos,
Ouvir que o meu caso
Não é exclusivo.
Escutar que há outros
Em busca de abrigo.
Saber que enquanto
Uns morrem sofridos,
Nas torres de vidro
Se vive escondido.