Biografia mostra genialidade e peso de Marco Nanini na cultura do país
O Avesso do Bordado: Uma Biografia de Marco Nanini mostra como a história cultural do Brasil se mistura com o personagem
atualizado
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O ator Emiliano Queiroz, ao comentar o que distinguiria Marco Nanini, disse: “Desde quando o conheci, o que mais me chama atenção é o acabamento que dá aos personagens. Nem todos veem, mas ele se preocupa com o avesso do bordado”. A definição foi escolhida pela autora Mariana Filgueiras para dar título a biografia do intérprete de Lineu e muitos personagens.
O Avesso do Bordado: Uma Biografia de Marco Nanini é uma abordagem centrada no personagem e também na história do teatro e da televisão brasileira. Afinal, em 60 anos de carreira, o ator ajudou a escrever importantes capítulos da cultura nacional.
“O Nanini viveu 60 anos da história da nossa dramaturgia. Como eu iria contar a vida dele, sem falar do teatro político, do besteirol. Não tem como descolar o personagem e do seu contexto? Achei que fazendo assim [intercalando a vida do personagem com a história cultural], eu ia atrair mais leitores”, defende Mariana, em entrevista ao Metrópoles.
Ao longo das 300 páginas, é possível se deparar com o começo da trajetória nos palcos, a parceria com Dercy Gonçalves, a famosa República Resedá (co-habitada por Wolf Maya, Zezé Motta e Lucélia Santos), a chegada à televisão, o sucesso histórico de O Mistério de Irma Vap, o cinema e a televisão.
Mesmo se tratando de um personagem vivo, Mariana Filguerias não se furtou a mostrar também os lados (por assim dizer) negativos de Nanini. Notadamente sua briga com Marília Pêra, seu lado mais irrascível e impaciente (apelidado, pelo ator, como um “irmão gêmeo) e os fracassos nos palcos.
“Ninguém é só uma coisa. Assim como os personagens, o Lineu não era só certinho, todos personagens têm muitas camadas. Ele tem um lado mais caseiro, porque ficou muitos anos na loucura. Somos sempre contraditórios. Como um ator que fez tantas coisas faz como ele, acaba sendo muitas coisas. Eu precisava um pouco mergulhar na vida dele, como era a rotina de trabalho”, explica a autora.
Marco Nanini na televisão
Lineu, para uma grande geração de fãs, talvez seja o personagem que ocupa o imaginário quando o assunto é Marco Nanini – conhecido pela quantidade gigantesca de papéis, seria injusto afirmar que é o “mais conhecido” do ator. A Grande Família ficou quase 14 anos no ar e foi uma das sitcons mais famosos do Brasil, e tinha no elenco Marieta Severo, Pedro Cardoso, Guta Stresser, Lúcio Mauro Filho, Marcos Oliveira, Andréa Beltrão e Tonico Pereira.
Em O Avesso do Bordado, o leitor vai poder conhecer as brigas dos bastidores de A Grande Família e as mudanças promovidas pelo elenco no texto original, além de compreender como Marco Nanini construiu e mudou Lineu por diversas vezes.
“A história de A Grande Família pega todas as mudanças do governo Lula e da ascenção da Classe C. É um e pelho da transformação social do Brasil. Bancou personagens que muita gente queria tirar. Mas acho que a grande virada [do Nanini] na TV foi com o Guel Arraes, nas produções de Comédia Especial. Eram clássicos da literatura brasileira exibidos na TV aberta, foi revolucionário”, pontua.
Artista vivo
Sobre biografar um personagem ainda vivo, Mariana Filgueiras aponta:
“Tem sempre essa mítica, muito difundida por biografos homens, porque a história sempre foi contado pelos homens, de só se pode fazer biografia de pessoas mortas. Tem vários tipos. Essa é ‘uma’ das biografias do Nanini, que, por ter ssido sempre muito dirigido, me deu total autonomia”.
Repórter de cultura, com passagens por diversos jornais e televisão, a autora aponta que O Avesso do Bordado e Marco Nanini a levaram “para um passeio pela cultura brasileira”. Ela defende o livro como uma forma de documentar parte da história das artes no Brasil.
“Falta documentação da nossa cultura popular. É tudo contado de forma oral. Mulheres subalternizadas e grandes cantoras negras não têm biografias. A história cultural brasileira sempre foi contada por homens brancos da elite. Seira muito bom se os grandes artistas contassem suas histórias. Precisamos de muitos livros, filmes e documentários”, conclui Mariana Filgueiras.