Biografia desfaz mentiras e mostra a grandeza de Jorge Amado
Resultado de sete anos de pesquisa, livro apresenta as múltiplas faces do escritor baiano, um dos autores mais populares do Brasil
atualizado
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No final da década de 1940, aos 35 anos, Jorge Amado já acumulava trajetória de grandes emoções. Com 11 livros publicados, havia sido preso por militância política e cassado como deputado federal. Mesmo assim, ao entrar por aqueles dias na Gallimard, editora francesa que publicara seu primeiro livro no país – Bahia de Todos os Santos –, em 1938, ficou pasmo quando o célebre escritor existencialista Albert Camus o cumprimentou, ainda que de longe e por breves segundos. O baiano nem se dava conta de seu prestígio e reconhecimento.
“Quase meio século se passaria até tomar conhecimento da resenha derramadamente elogiosa escrita sobre seu Jubiabá pelo autor franco-argelino”, escreve a jornalista Joselia Aguiar em Jorge Amado – A Biografia, lançada pela editora Todavia.
Essa é só uma das várias passagens reveladoras da história de um dos escritores brasileiros mais populares de todos os tempos. Curadora das duas últimas edições da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a autora passou sete anos pesquisando para o projeto, debruçando-se sobre jornais e revistas de época, missivas trocadas por ele com amigos do Brasil e do mundo, ouvindo pessoas que viveram na mesma época.
“Trata-se de uma biografia de múltiplas faces”, avisa Joselia em entrevista ao Metrópoles. “Tentei dosar a vida como escritor e a vida pessoal, a relação com amigos, a atuação política, a recepção entre leitores e críticos”, conta a baiana, há duas décadas vivendo em São Paulo.
Erros históricos e injustiças
É uma obra robusta e completa. Ao longo de 640 páginas, uma narrativa envolvente dá conta das várias jornadas e batalhas a que o biografado se lançou ao longo da vida, desde os tempos de guri, na Bahia, até a ida para o Rio de Janeiro, o envolvimento com o partido comunista, os 10 dias de prisão, a perseguição do Estado Novo de Getúlio Vargas, o exílio, a consagração, passando pelas impressões acerca da vida e literatura e como esses caminhos se imbricavam.
O livro também aproveita para rever equívocos históricos e injustiças. O mito de que o partido comunista soviético teria sido responsável pela divulgação da obra de Jorge Amado no exterior cai por terra, pois alguns de seus trabalhos foram publicados na França e nos EUA antes de saírem na antiga União Soviética. A autora destaca também o quanto a literatura do escritor, por tratar da cultura afro-baiana e afro-brasileira, era julgada por olhares racistas.
“Ele esteve preocupado em valorizar a contribuição afro-baiana e afro-brasileira, e determinado desde a primeira hora a enfrentar as grandes questões brasileiras”, defende a jornalista. “Se for pensar bem, é esquisito que, a certa altura, resenhistas e críticos tenham começado a usar a expressão ‘folclórica’ para alguns dos seus livros. ‘Folclórica’ para quem? Essa é uma pergunta que fica”, provoca.