Autor de 20 anos explora em livro polêmica entre evangélicos e gays
O paranaense Gustavo Magnani escreveu em 40 dias o romance “Ovelha – Memórias de um Pastor Gay”, lançamento da editora Geração
atualizado
Compartilhar notícia
Já no subtítulo “Ovelha – Memórias de um Pastor Gay” diz a que veio. O livro recém-lançado pela editora Geração, pega carona numa polêmica. De um lado, homossexuais em busca do reconhecimento de seus direitos, de outro, líderes religiosos que pregam contra o avanço dos costumes baseados em suas leituras da Bíblia.
O autor, o paranaense Gustavo Magnani, resolveu pôr mais lenha nessa fogueira e imaginou a história de um homem que leva vida dupla. Influenciado pela mãe, evangélica ardorosa, torna-se pastor, mas não consegue se livrar do próprio desejo. Entre um culto e outro, entrega-se ao sexo com outros homens em lugares sujos.
Para narrar o cotidiano do pastor, Magnani baseou-se no que ele mesmo viu ao longo de 10 meses, quando frequentou uma dessas igrejas neopentecostais. A vida de um homossexual promíscuo ele descreve baseado em conversas com amigos gays. Diz que não se baseou na vida de ninguém em particular, mas que faz referências veladas a personalidades como Marco Feliciano e Silas Malafaia.
“Ovelha – Memórias de um Pastor Gay” foi escrito em apenas 40 dias, segundo contou o autor em entrevistas. A urgência da escrita é perceptível no resultado. Em alguns momentos, o romance lembra as obras de Cassandra Rios e Adelaide Carraro.
As duas autoras faziam grande sucesso nos anos 1970 com histórias que pretendiam soar sérias, mas eram na verdade literatura barata a remoer temas escandalosos – como a vida sexual de um senador, por exemplo. A vantagem de Gustavo Magnani em relação a elas é que ele tem apenas 20 anos e deixa antever habilidade na carpintaria literária.
Gustavo constrói personagens com eficiência, torna-os críveis. Consegue dar sentido, por exemplo, à forma violenta e amoral com que o protagonista lida com o sexo. Também acerta ao criar um ritmo delirante nas idas e vindas no tempo — à beira da morte numa cama de hospital, o protagonista narrador repassa sua história em jorros de memória.
Criador de um blog literário, o literatortura.com, o escritor estreante demonstra ser leitor atento e aproveita-se disso na sua escrita. Polêmicas à parte, e considerando-se a pouca idade, é de se prever que um bom escritor esteja por vir.