Ariel: livro infantojuvenil debate temas como transfobia, gordofobia e racismo
Do autor Jared Amarante, obra acompanha um príncipe trans e quilombola que vai parar no Quilombocéu, após sofrer transfobia do próprio pai
atualizado
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Necessários, os debates sobre racismo, transfobia e gordofobia, cada vez mais, têm ganhado espaço nas produções de televisão, cinema e literatura. Com o objetivo de fazer com que os mais novos também se familiarizem com os temas e se sintam aceitos, o autor Jared Amarante lança, neste sábado (30/1), o livro Ariel – A Travessia de um Príncipe Trans e Quilombola.
Sexto livro de Jared, Ariel acompanha a travessia e transição de Ariel, nomeadamente Ariele por seus pais, um menino transexual, gordo e preto, que, mergulhado em seu mundo, é levado a percorrer sua ancestralidade no Quilombocéu – local onde ele se reafirma para o mundo como um garoto trans, vindo a ser coroado príncipe da paz com um pente garfo entregue por Deus.
“Gosto de reafirmar que os corpos trans, pretos e gordos sempre tiveram voz, mas o mundo é que não tem ouvidos ou, melhor, não quer escutá-los. Então essa obra não é para falar por eles, mas trazer pertencimento, autoestima e fomentar debates, porque o racismo, a transfobia e a gordofobia destroem o sentimento de alegria e competência, além de enraizar ainda mais na sociedade a ideia de que esses corpos não podem receber afeto e nem serem admirados”, afirma Amarante.
Para o autor, Ariel é uma maneira de fazer com que estas pessoas se sintam representadas de alguma forma. “Fazer com que esses corpos sejam protagonistas, ocupem o lugar de príncipes e princesas, ainda mais o Brasil, que lidera o ranking de países que mais mata trans e travestis. E os corpos trans, pelo estupido moralismo, são considerados um ‘erro, uma aberração, sem valor social, então podem morrer’. E isso somado a raça, fortalece a transfobia”, disse.
“Imagina uma criança, adolescente ou adulto, preto, trans e gordo? Onde ele é visto? Como pode se sentir acolhido num mundo que nega seu corpo e sua existência? Que rotula o corpo gordo como doente e incapaz? Isso é gordofobia; é olhar para o corpo gordo e já negá-lo, julgá-lo. Sendo que ser magro também não é sinônimo de saúde, e gordo não é sinônimo de doença”, completou Jared.
Ele ressalta que o livro surgiu com o propósito de unir pensamentos e desmascarar preconceitos: “Que as pessoas cis, brancas e magras que tocarem esse livro possam se educar e fazer algo, ou estarão fazendo a manutenção da opressão desses corpos. E é uma obrigação de todos movimentar e transformar a estrutura social, pois não podemos criar crianças racistas, preconceituosas e gordofóbicas”.
Desejo antigo de Jared, Ariel levou quatro anos para ser concluído. A obra é prefaciada e comentada pelo psicólogo Welington Oliveira, especialista em gênero e sexualidade e ilustrada por Nathan Henrique – que é um homem trans e preto. Além disso, o livro conta com diversas entrevistas de homens e mulheres trans de várias regiões do país.
Por conta da pandemia de Covid-19, o livro Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola será lançado em um bate-papo on-line com o autor, neste sábado (30/1). Os ingressos para o lançamento estão sendo vendidos por R$ 50 e dão direito a um exemplar da obra.