50 anos de Maio de 68: como a revolta estudantil inspirou a literatura
A revolução reverberou não só na França, mas motivou escritores ao redor do mundo
atualizado
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Berço das liberdades individuais, da libertação da palavra e da emancipação das mulheres. Os acontecimentos de Maio de 68 — protestos realizados na França e que completam 50 anos em 2018 — foram responsáveis por uma verdadeira revolução moral, muito instigada por filósofos e escritores da época, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Mais que intelectuais, com obras relevantes ainda hoje, esses nomes atuaram diretamente junto aos líderes do movimento estudantil.
Maio de 68 trata, sobretudo, do legítimo compromisso político dos escritores. Sartre está no alto dos seus 63 anos quando estoura a revolução e já é conhecido pelo engajamento em causas humanitárias ao redor do mundo: dos discursos veementes para os alunos da Sorbonne às visitas aos líderes das fábricas em greve por toda a França. O filósofo e escritor foi um dos principais rostos do episódio histórico e viu suas ideias político-sociais reverberarem desde a publicação de Crítica da Razão Dialética, quatros anos antes do movimento.Apesar de os agentes de Maio de 68 serem exclusivamente homens, a rebelião dos estudantes serviu para reascender o debate feminista — adormecido em 1944, após a conquista do direito ao voto e reestimulado pelo livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, em 1949. Ao lado de Sartre, Beauvoir foi grande opositora ao regime do General De Gaulle. Ambos visitavam líderes do movimento para prestar auxílio aos estudantes revoltosos de Maio de 68, em Paris.
Os anos que se seguiram às passeatas foram férteis para a literatura. Três títulos se destacam nesse período: Forget 68 (Esquecer 68, em tradução livre), de 1968, marca a análise juvenil de um dos líderes do movimento, Daniel Cohn. No livro, o atual deputado do partido verde da Alemanha reflete sobre as falhas da sua geração e reconhece a importância da rebelião para as mudanças dos costumes, em particular, nas relações entre homens e mulheres.
Ainda em 1968, Tom Wolfe propunha a reflexão sobre a derrocada do idealismo em Teste Ácido do Refresco Elétrico. No exemplar, o jornalista norte-americano acompanhou o autor de Um Estranho no Ninho, Ken Kesey, em sua viagem para divulgar o uso do LSD.
Inspirada por Beauvoir, Betty Friedman escreveu A Mística Feminina. Nele, a autora endossa o crescimento do feminismo a partir de 1968, abordando fatos históricos como a queima de sutiãs e a invenção da pílula anticoncepcional. O romance de Olivier Rolin também é leitura preciosa para os curiosos do tema. Tigres de Papel conta a história de um militante tentando acabar com o imperialismo.
No Brasil…
Em terras tupiniquins, também há uma infinidade de obras literárias e artigos acadêmicos sobre o assunto, mas os ensaístas indispensáveis para leitura são Zuenir Ventura, Fernando Gabeira, Regina Zappa e Ernesto Soto.
Em 1968 — Eles Só Queriam Mudar o Mundo, Zappa e Soto destacam os principais acontecimentos da época, mês a mês, trazendo, ainda, entrevistas com personalidades como Chico Buarque e Edu Lobo.
Por duas vezes, Zuenir Ventura foi inspirado pelo período. O resultado foi 1968 — O Ano Que Não Terminou e 1968 — O Que Fizemos de Nós. Se no primeiro, o escritor reconstitui os fatos ocorridos no Brasil (que vivia sob o regime da ditadura militar), na sequência, Ventura faz um balanço dos fatos e os seus legados para a atualidade.
Atual deputado pelo Partido Verde, Fernando Gabeira teve seus escritos roteirizados e transformados em um longa-metragem homônimo: O Que É Isso Companheiro, dirigido por Bruno Barreto.