Identidade negra e ativismo se manifestam por meio da arte
Linguagens diversas, como as artes plásticas e a poesia, embalam trabalhos de autores de diferentes gerações
atualizado
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As telas de Josafá Neves desafiam a tradição antes mesmo da primeira pincelada. Em vez do habitual suporte branco, neutro, o artista brasiliense inicia seus trabalhos a partir de um fundo escuro. “Escureço para clarear”, explica. “É assim que me afirmo como negro na arte”, continua o autor.
Neves acaba de retornar da Venezuela, onde participou da I Bienal del Sur. Atualmente, desenvolve o projeto Diáspora. Primeiro, visita escolas da rede pública de ensino e dá oficinas de pintura. Depois, reunirá obras autorais e trabalhos realizados nos encontros para uma exposição em maio de 2016, na Galeria Athos Bulcão.
Personalidades nacionais serão representadas nas telas. Além de um autorretrato, Neves já pintou o intelectual Milton Santos, os sambistas Cartola e Clementina de Jesus e a tocadora de pífano Zabé da Loca. “Tento resgatar esses nomes para trabalhar a nossa autoestima”, explica o artista, de 43 anos. “Pelos livros didáticos, infelizmente, você ainda não tem referências positivas”.
O artista busca na figura da mulher inspiração para várias de suas telas. Não à toa, uma de suas primeiras individuais foi intitulada “Maternidade”, montada em 2003 na galeria da Faculdade Dulcina de Moraes. À época, dedicou a mostra à mãe, Laura. “Quando comecei a pintar, em 1996, procurei muito essa representação da mãe negra, das madonas, das mulheres africanas carregando seus filhos”, descreve.
Conheça outros artistas de inclinações políticas em suas obras:
Antonio Obá
Trabalhando entre a performance, o desenho e a pintura, o brasiliense formou-se pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e se desdobra como professor e ilustrador. Ele é um dos nomes que integram o Elefante Centro Cultural.
Gabriel Martins
O cineasta mineiro causou frisson no Festival de Brasília deste ano com o poderoso curta “Rapsódia para o Homem Negro”. O filme alegoriza questões de religião de matriz africana, ancestralidade e violência a partir da vingança de Odé, um jovem negro que perdeu o irmão durante uma ocupação em Belo Horizonte. Martins é sócio de André Novais Oliveira (“Ela Volta na Quinta”) na produtora Filmes de Plástico.
Grupo Teatral Embaraça
Neste ano, a companhia formada na UnB pelas atrizes Ana Paula Monteiro, Fernanda Jacob e Tuanny Araújo roda o Distrito Federal com o espetáculo de estreia, “Pentes” (leia crítica). A peça narra a afirmação de mulheres negras por meio dos seus cabelos. Cumpre temporadas curtas no Gama (20/11 e 21/11), em Taguatinga (23/11 e 24/11) e na Vila Telebrasília (28/11 e 29/11).
José Amâncio
Radicado em Brasília desde 1976, o poeta carioca revisita história e espiritualidade por meio de versos metafóricos e oníricos, como em “Segredo 44” (abaixo). Publicou seus poemas nos livros “NEGROJORGEN” (2007) e “Batom d’Amor e Morte” (2014), ambos editados pela Thesaurus.
Segredo 44
A existência
A negrejar
Tatuou-se em ti
A semente
A enegrecer
Embrionou-se em ti
A vida
A negritude
Cicatrizou-se em ti
A beleza
A negrura
Instalou-se em ti
Tássia Reis
A rapper paulista carrega timbres de jazz e R&B para suas canções, carregadas de crônicas urbanas e melodias pop. Seu EP homônimo, lançado em 2014, revela um trânsito constante entre grooves (“Asas”) e rimas (“Meu RapJazz”).