Ícone de resistência à ditadura em SP, Cine Bijou será reaberto em 22
Reinauguração do espaço é obra de dois cinéfilos; artistas e anônimos deram apoio financeiro
atualizado
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São Paulo – O Cine Bijou, um dos poucos cinemas de rua da capital paulista, será reinaugurado em 25 de janeiro de 2022. Depois de 26 anos fechado, o cinema da Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, será reaberto por dois cinéfilos.
Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez acham fundamental que um dos poucos cinemas de rua volte à vida. “O Bijou atravessou toda a ditadura, em um momento sombrio da nossa história. Foi ali que as pessoas assistiram toda a filmografia que era censurada. É a preservação da memória e um ato de resistência”, conta Cabral ao Metrópoles.
A saga da dupla começou em 2019, quando o antigo teatro que ali funcionava foi fechado e o ambiente corria risco de virar um bar ou uma igreja. “Não pensamos duas vezes e logo alugamos o espaço, mesmo sem ter um futuro planejado”, relembra.
Com um aluguel de R$ 6 mil por mês, foi necessário iniciar uma campanha para ajudar nos custos. Assim, a dupla conseguiu doações anônimas e de famosos como Walcyr Carrasco e Patrícia Pillar, que é, até hoje, uma das principais apoiadoras do espaço.
As doações, no entanto, não passaram de R$ 30 mil e a repaginação do ambiente, que chegaria a cerca de R$ 600 mil, exigiu de Cabral e Vázquez a aplicação de recursos próprios para reerguer o cinema aos moldes do que era no passado.
“Vamos mudar apenas a tela, porque a projeção atualmente não permite mais seguir com a antiga. O intuito é que ele seja original, então estamos mantendo tudo, até as poltronas e o acabamento do cinema, assim como era nos anos 60.”
Inaugurado em 1962, o Bijou encerrou suas atividades em 1996. O espaço foi palco de filmes polêmicos em relação à ditadura militar e trouxe à cidade produções de renomados cineastas estrangeiros.
Cinemas de rua
Com a chegada dos shoppings, o cinema de rua começou a entrar em decadência no país. Em São Paulo, a evidência foi a chegada do primeiro empreendimento comercial do tipo, o Iguatemi, inagurado em 1966, e a chegada do Cinemark no país, em 1997.
Para o jornalista e cinéfilo Miguel Barbieri, esse foi uma marco na divisão do segmento. “O serviço de rua já estava muito ruim, porque o ar condicionado não funcionava e não tinha a segurança que um shopping center oferecia. O serviço de empresas como o Cinemark entregava conforto e começou a crescer com força em todos os shoppings”, relata.
Para Cabral, é certo que os tempos mudaram e a dupla sabe que, para o público que almejam alcançar e para os filmes que serão lançados, não poderão cobrar ingressos com valores superiores a R$ 15. Segundo ele, o custeio do ambiente também será uma questão mesmo depois da inauguração, mas afirma que é necessário “lutar para manter a chama acesa”.
Pandemia e o impacto no setor
Ao passo em que o Bijou retoma as atividades em breve em São Paulo, o Rio de Janeiro perdeu um icônico cinema de rua, o Cine Roxy, que ficava em um dos bairros mais conhecidos da cidade, Copacabana, na zona sul da capital.
Após 83 anos de existência, a pandemia e os streams foram suficientes para interromper a programação do cinema que foi palco de alguns dos maiores lançamentos nacionais e internacionais.
A pandemia da Covid-19 impactou de forma significativa o setor. De acordo com estudo feito pela consultoria PwC sobre a indústria do entretenimento e da mídia, o segmento apresentou uma redução de 86% nas atividades em 2020.
A pesquisa aponta também que a venda de ingressos de cinema teve uma queda de 65% em 2021 quando comparado a 2016. Se observarmos o ano de 2020, quando a pandemia estava mais acentuada, o impacto foi ainda mais expressivo, com um percentual equivalente a cerca de 78% menor.
Segundo o levantamento, a perspectiva é que o mercado brasileiro cresça pouco menos que o global até 2025: cerca de 4,7 e 5% ao ano.