Humor de direita ganha espaço e muitos seguidores na internet
Um dos principais representantes do movimento e o Canal Hipócritas, considerado o “Porta dos Fundos da Direita”
atualizado
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“Nosso canal só tem um intuito: mostrar o homem pelado”. É com esse slogan que Augusto Pacheco, Bismark Fugazza e Paulo Souza apresentam o objetivo do Canal Hipócritas, que vem crescendo no YouTube desde 2017, quando os humoristas gravaram uma paródia batizada de Bolsomito.
Na sequência do vídeo de boas-vindas do canal, eles explicam: “Nosso homem pelado não tem criança pegando nele, não é arte moderna, não tem lei Rouanet. É o imperador de um conto chamado A Roupa Nova do Imperador”.
Os três relembram a tradicional história, do rei que sofre um golpe de um alfaiate e caminha nu acreditando que está usando uma roupa especial, que só pessoas muito inteligentes podem ver. “Quando uma criança grita que o rei está nu, todo o império admite que está vendo um rei pelado. O Canal Hipócritas é essa criança que está lá para abrir os olhos do povo”, concluem os integrantes.
Alinhado a pautas conservadoras, com críticas que vão da defesa do aborto à ideologia de gênero e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), o canal se tornou um dos principais representantes do “humor de direita”, que tem como precursores figuras como Danilo Gentili, Rafinha Bastos e outros. O formato, no entanto, leva a muitas comparações com o Porta dos Fundos.
“A gente fica feliz com esse paralelo, porque queremos ser o contraponto. Lá atrás, quando o Paulo fundou o canal, a referência era justamente o Porta. Eles têm uma maneira de produzir que a gente acha muito boa e inteligente, no entanto, temos ideologias diferentes”, afirma Augusto, em entrevista ao Metrópoles.
Apesar de terem uma equipe e uma receita menor que a produtora de Porchat, Duvivier e outros, ele garante que o Hipócritas já está em vantagem na internet. “Temos um numero de seguidores inferior e um engajamento maior”, diz.
O segredo do sucesso? Esquetes de humor ácido e, diga-se de passagem, bastante corajosas. Segundo o grupo, o objetivo é oferecer uma opção de entretenimento para quem não curte nem o Porta dos Fundos nem o humor da Globo, que eles classificam como “porcaria”, resguardados pelo direito à liberdade de expressão.
Durante passagem por Brasília na última semana, o grupo visitou parlamentares com os quais simpatizam e se divertiram ao lado do presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson. A trupe gravou vídeos, postado no canal, na série “Vale A Pena Ver de Novo”. A produção satiriza os ministros do STF e os compara com profissionais do sexo.
O tipo de conteúdo que fazem, geralmente, corre o risco de sair do ar. “Há um vídeo em especial, chamado Suprema Felicidade, em que tecemos uma crítica ao STF, que ficou indisponível no YouTube por um logo tempo sob justificativas, digamos, duvidosas. Depois, voltou ao ar”, lembra Augusto.
Apesar das piadas, consideradas por muitos politicamente incorretas, o grupo garante que recebe mais apoio que ataques. “Até o presidente da República já falou que assiste ao nosso canal e gosta dos vídeos”, comemora. “As pessoas se identificam com nosso pensamento e sabem que não recebemos um centavo de nenhum político e empresa. Sobrevivemos de doações”, completa.
Questionado se os integrantes se consideram apoiadores de Bolsonaro, Augusto confirma, mas faz ressalvas: “Não concordamos com tudo, tá? Mas queremos que esse governo dê certo porque as coisas precisam mudar. Nesse cenário de polarização, as pessoas têm deixado de por muitas coisas importantes na balança, falam sem pesquisar, sem saber como funciona as leis e a política. Nosso papel também é esclarecer isso de forma descontraída”.
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Não é só o Canal Hipócritas que conquistou internautas que se identificam com os ideais de direita. Apesar de estarem em menor número que os perfis mais alinhados a pautas progressistas – ao menos no cenário mainstream –, eles vem crescendo em número e relevância na web.
Alguns até já conquistaram o follow da família Bolsonaro. O presidente, por exemplo, segue páginas como Ódio do Bem, acompanhada por mais de 339 mil pessoas, e canal do Joaquin Teixeixa, que classifica seu humor como “+18”.
Já Michelle se diverte com páginas de memes da família, como o Bolsochele. Gosto que ela, aliás, compartilha com Carlos, que se diverte com os memes do Bolso Peixe.
Para além desses produtores de conteúdo, que se viram com as ferramentas das redes sociais, há quem represente o um humor menos ligado a questões políticas e mais dispostos a confrontar o politicamente correto.
Um dos destaque neste nicho, quer os brasileiros gostem ou não, é Nego Di, que apesar de ter deixado o BBB21 com rejeição recorde, ainda tem um público de pelo menos 1,4 milhão de pessoas no Instagram.