Greve de roteiristas nos EUA acende alertas para a profissão no Brasil
Roteiristas dos EUA entraram em greve na terça (2/5) e lutam pelo aumento salarial e acordos trabalhistas que se adequem aos streamings
atualizado
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A greve dos roteiristas de Hollywood, que iniciou nessa terça-feira (2/5) após os profissionais do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA) não entrarem em acordo com grandes estúdios e plataformas de streamings por melhores condições de trabalho, acendeu um alerta sobre a precariedade do ofício em território nacional.
A Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA), responsável por “representar e defender os direitos dos autores de roteiros e argumentos de obras audiovisuais de qualquer natureza”, declarou apoio à paralisação em território americano e afirmou que luta pelas mesmas pautas e direitos dos profissionais no Brasil.
Rafael Peixoto, diretor de Políticas Públicas e Relações Institucionais da ABRA, afirma: “A gente está brigando, tanto lá quanto aqui, pela questão do pagamento dos diretos conexos e pelo não sucateamento da profissão do roteirista. Hoje a gente é o início de todo o projeto audiovisual, tudo nasce no roteiro”.
A gente [roteiristas] não vem sendo nem bem recompensado monetariamente nem bem tratado em termos de crédito.
Rafael Peixoto
O diretor ainda citou situações que envolvem o trabalho dos roteiristas, principalmente quando se fala sobre os streamings. Ele afirma, por exemplo, que as plataformas — ainda não regulamentadas no Brasil e, por isso, ainda sem garantias para profissionais — fecham contrato de exclusividade com roteiristas, mas só fazem o pagamento em caso de trabalho.
“O desdobramento dessa greve lá [nos EUA] podem se refletir nas relações de trabalho entre os streamings e os roteiristas brasileiros. A gente espera que o governo cumpra sua função de fazer a regulamentação do streaming como já vem prometendo desde o início do governo”, finaliza Rafael.
Já Edvaldo Silva, mestre em artes e multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e escritor do livro Da Válvula ao Pixel, aponta que a revolução na forma de consumir conteúdos audiovisuais, provocada pela revolução do streaming, “impactou enormemente a cadeia produtiva, no Brasil e no mundo”.
“Muito tem se falado sobre direito autoral e direito patrimonial, que é relativa à propriedade intelectual da obra como um todo. Um modelo existente no mercado de streaming é a cessão do direito patrimonial, onde você se desfaz da sua própria obra. Isso é terrível para os criadores e roteiristas”, explica.
Greve dos roteiristas
Os profissionais do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA) entraram em greve na terça-feira, após o acordo trabalhista vigente entre a associação e os grandes estúdios de Hollywood chegar ao fim sem acordos comerciais e trabalhistas.
O sindicato afirma que a decisão da greve se deu após seis semanas de tentativas de acordos com estúdios, plataformas e talentos para aumentos salariais e acordos trabalhistas, com foco no grande lucro gerado pelas produções para os streamings.
Entenda o impacto que a greve de roteiristas pode causar na indústria
“A direção e conselho do WGA, atuando sob autorização de seus membros, votou para declarar greve, efetiva a partir de 00h01 desta terça-feira, 2 de maio. A decisão foi tomada após seis semanas de negociações com Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner, NBC Universal, Paramount e Sony, sob o guarda-chuva da Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP)”, diz nota da WGA, publicada nas redes sociais.
A Aliança de Produtores de Filmes e TV afirma que a greve pode afetar cerca de 600 produções para cinema, televisão e streaming. Em um primeiro momento, a imprensa norte-americana já afirma que talk-shows de sucesso foram paralisados pela greve.