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Gatos viram ícone do mercado editorial com estouro da ficção de cura

A ficção de cura, que tem como enredo cenários reconfortantes e conclusões incríveis, faz sucesso nas redes sociais com a imagem do gato

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Mulher sentada lendo livro digital, enquanto segura caneca de café. Gato preto aparece deitado no colo da mulher - Metrópoles
1 de 1 Mulher sentada lendo livro digital, enquanto segura caneca de café. Gato preto aparece deitado no colo da mulher - Metrópoles - Foto: Getty Images

O romance Bem-Vindos a Livraria Hyunam-dong (ed. Intrínseca), da autora Hwang Bo-reum, traz um cenário reconfortante e um enredo profundo, além de ter sido a porta de entrada no coração dos fãs brasileiros para a healing fiction, ou ficção de cura. A obra não lançou o termo, mas popularizou no Brasil outras produções com potencial de deixar o “coração quentinho”, que têm uma característica em comum: o uso de gatos.

A ficção de cura é um gênero literário que engloba livros acolhedores, que permitem ao leitor mergulhar no desenvolvimento dos personagens e nas relações humanas. O cenário dessas obras é, geralmente, livrarias ou cafeterias, enquanto seu elenco tenta encontrar um sentido na vida. E, de um jeito ou de outro, um gato acaba surgindo no enredo.

O estilo chegou até mesmo ao mundo da inteligência artificial. O ChatGPT, por exemplo, descreve assim um “cenário reconfortante com animais”: “Em uma cadeira de balanço na varanda, um gato de pelagem macia se espreguiça ao sol, seus olhos verdes brilhando enquanto observa as folhas dançando ao vento. Ao seu lado, um livro aberto repousa, as páginas levemente viradas pela brisa. O cheiro do papel e da madeira da cabana se mistura ao aroma das folhas secas do lado de fora”.

Imagem colorida de gato miando com fundo rosa

E quando o assunto é ficção de cura, a figura do gato se destaca, principalmente em obras nascidas no Japão e na Coreia do Sul. O animalzinho doméstico, mundialmente conhecido por sua personalidade curiosa e brincalhona, tornou-se o rosto do mercado editorial nacional.

Somente neste ano, editoras nacionais lançaram cinco livros de ficção de cura em que os gatos são o foco principal. São eles: Os Gatos do Café da Lua Cheia (ed. Intrínseca); Vou te Receitar um Gato (ed. Intrínseca); Se os Gatos Desaparecessem do Mundo (ed. Bertrand Brasil); Neko Café (VR Editora); e Um Gato em Tóquio (VR Editora).

“Observamos que depois da pandemia de Covid-19, que foi um período tão difícil e de tantas perdas, as pessoas estavam procurando por histórias mais leves e reconfortantes, que funcionassem como uma válvula de escape para aliviar o estresse”, aponta Marina Ginefra, editora de aquisições da Intrínseca.

Mas por que os gatos?

Os gatos são personagens bastante comuns nessas narrativas, e assim como a presença de um pet na vida de uma pessoa, são um dos motivos que tornam essas histórias terapêuticas.

Marina Ginefra

A presença dos gatos na ficção de cura vai muito além do conforto que os animais passam. Doutor em literatura japonesa e autor do livro Um Gato em Tóquio, Nick Bradley esclarece que o animal faz parte de uma longa tradição no Japão, que viu, em certo momento da história, o bichinho como uma espécie de protetor da palavra do Buda.

“Há uma longa tradição de gatos em histórias no Japão, que remonta ao primeiro romance já escrito no mundo — O Conto de Genji, da autora Murasaki Shikibu. Há uma cena-chave nessa história que envolve um gato, que era frequentemente retratado em manuscritos ilustrados e compartilhado amplamente. Isso popularizou a representação de gatos na arte, assim como na literatura, fazendo com que artistas como Utagawa Kuniyoshi os pintassem como tema”, inicia.

O autor explica que os gatos foram levados ao Japão para “proteger os textos budistas de serem comidos por ratos e camundongos a bordo”, o que fez com que o animal passasse a ter um “papel de protetor da palavra do Buda”.

“Mas provavelmente o maior impacto que causou a tendência dos gatos nos romances japoneses modernos começou com o celebrado autor Natsume Sōseki, que, ao retornar ao Japão em 1903 de Londres, onde estudou literatura britânica por dois anos, começou a escrever uma história curta chamada Eu Sou um Gato, que era uma crítica satírica à sociedade Meiji contemporânea, contada através dos olhos de um narrador gato em primeira pessoa. Sōseki foi o autor mais querido da ficção japonesa moderna e seu rosto chegou a ser impresso por um tempo na nota de mil ienes”, completa.

Imagem colorida de gato olhando para cima, observando tutor

Popularização dos animais

E quando o assunto é o motivo da popularização repentina dos gatos, Nick concorda com a editora de aquisições da Intrínseca: a Covid-19 pode ter sido gancho importante para que a ficção de cura ganhasse mais espaço no mercado e no coração do público.

“Por que o resto do mundo agora abraçou essa tendência, não poderia afirmar com certeza. Talvez esteja ligado à Covid, e as pessoas estarem mais em casa com seus gatos. Talvez seja simplesmente algo que as editoras no Ocidente descobriram que agrada ao público leitor”, finaliza.

Nas redes sociais, a ficção de cura ganha cada vez mais destaque. A prova é o sucesso de vendas do gênero na última Bienal do Livro de São Paulo, que aconteceu no mês passado. Os livros Meus Dias na Livraria Morisaki (ed. Bertrand Brasil); A Biblioteca da Meia-Noite (ed. Bertrand Brasil); Amêndoas (ed. Rocco); O Impulso (ed. Rocco); Bem-Vindos à Livraria Hyunam-dong (ed. Intrínseca); e Vou te Receitar um Gato (ed. Intrínseca) elencam a lista de mais vendidos do evento.

@rechcamila Você iria nessa clínica? 🫢 Vou te receitar um gato é um daqueles livros que você lê em uma tarde, e fica com a sensação de que o segredo dos grandes problemas do dia a dia mora nos detalhes. 🐱✨ Amei que a história se passa em Kyoto e fiquei imaginando as ruas por onde passei 🥹 #voutereceitarumgato #dicadelivro #intriseca #kindlegram #bookstagram #healingfiction #kyoto ♬ som original – Camila Rech

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