Fotógrafas de Brasília: conheça a história por trás do lifestyle
Quando uma jovem recebe uma câmera e começa a tirar fotos, é difícil imaginar que um dia poderá ganhar dinheiro com algo que parece um hobby
atualizado
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A fotografia lifestyle busca registrar momentos da vida real: casamentos, gestantes, partos, aniversários ou até mesmo um dia aleatório são recordados de forma especial. Em Brasília, há diversos profissionais de destaque na área, principalmente mulheres, que buscam espaço para se destacarem em um mercado ainda marcado por machismo e preconceito. Entre os nomes que trilham trajetória de sucesso estão Diana Bracarense, Paula Leon, Bárbara Bastos e Renata Souza. As quatro têm uma coisa em comum: buscam sempre capturar o sentimento.
Quando uma jovem recebe uma câmera e começa a tirar fotos, é difícil imaginar que um dia poderá ganhar dinheiro com algo que parece um hobby. No entanto, esse não é o caso dessas mulheres. Todas têm uma história de vida e motivações para começar na carreira. Entre influências familiares e gosto pessoal, elas trilharam seus caminhos e conquistaram espaço com muito profissionalismo e afeto.
A captura da alegria real
“Comecei a tirar fotos de brincadeira, quando eu tinha 16 anos, por que ganhei uma câmera bem antiga do meu pai”, conta Renata Souza. “Naquela época, nem imaginava virar fotógrafa, mas também não me identificava com mais nada. Imagina, nem existia Instagram ainda, minhas amigas ficavam doidas com as fotografias!”, lembra. Quando se deu conta, a brasiliense estava fazendo ensaios e seguindo a carreira dos sonhos.
Em 2012, a jovem foi aos Estados Unidos para cursar fotografia no Art Institute of Tampa, e, em 2013, retornou ao Brasil para cursar publicidade e propaganda. Formada em 2016, ela tem fotografado casamentos, mulheres, casais, gestantes, ensaios para marcas de roupas e qualquer pessoa que se interessar pelo seu trabalho. Uma visita ao seu site já confirma sua estética diferenciada, com retratos que parecem ter saltado de uma revista de moda.
É isso o que busco nas minhas fotos. A alegria real das pessoas de estarem vivendo aquele momento
Renata Souza
Renata acredita que a indústria da fotografia ainda é dominada por homens. “Fico feliz em ser uma mulher que tenta mudar isso. Outro dia, inclusive, fui a um encontro chamado Cafeína, feito por mulheres fotógrafas para mulheres fotógrafas, experientes e iniciantes, com o intuito de compartilhar conhecimento, experiências e assim uma ajudar a outra a crescer mais e mais. Queremos fortalecer a nossa presença no mercado”, avalia.
“Pela grande maioria das minhas clientes eu percebo que sou contratada não somente pelo meu estilo fotográfico mas também por ser mulher”, afirma. “Isso já cria um vínculo entre nós, já faz com que a modelo se sinta mais à vontade”, analisa Renata.
A fotógrafa diz também que busca mostrar ações naturais em suas fotos e prefere apenas dirigir a cliente, em vez de posá-la. Para ela, tudo influencia sua fotografia. “Estou constantemente pensando nisso. Mesmo quando não estou imaginando especificamente fotos, eu estou conectada com algo que se relacione [à fotografia]”, aponta.
Em família
Formada em pedagogia, Paula Leon também nunca imaginou que se tornaria fotógrafa. Isto é, até começar a tirar fotos com um amigo. Juntos ingressaram no curso de fotografia básica. Em seguida, ela criou uma empresa em 2011, juntamente com outros fotógrafos – incluindo seu marido, Janio. “Depois de aprender as primeiras noções, fiz várias outras aulas on-line”, recorda a profissional. “Acho que, como todo trabalho, temos de estar sempre estudando. Então tento me atualizar o máximo possível”, recomenda.
Quanto à sua fotografia, Paula busca focar em ambientes como a natureza e até o lar de seus clientes. “Cresci em São Paulo (SP), em acampamentos, e um deles, que eu fui dos 7 aos 18 anos, não tinha nem telefone, nem TV. Era totalmente imerso na natureza. Então isso é muito forte, minha conexão com a natureza, de você estar descalço, pisando na grama, brincando”, salienta. Ela deve aos pais essa conexão com o mundo natural e o foco no elemento lúdico de suas fotos.
A fotógrafa se inspira bastante nas fotos antigas que lembra dos próprios álbuns de família. “[Gosto de uma fotografia] descabelada; uma criança descabelada, correndo de calcinha no quintal. Eu acho esse tipo de imagem muito gostosa. Me emociono muito quando pego as minhas fotos antigas e vejo esses tipos de construção”, coloca. Por isso, buscou especializar-se em trabalhar com famílias: “Quanto mais, melhor. Se tiver mais crianças, mais parentes, mais bichos… Nossa, aí eu tô no céu (risos)”.
Mercado feminino
Diana Bracarense conta que sempre teve uma paixão pela fotografia e decidiu cursar artes plásticas na Universidade Estadual de Minas Gerais. Nativa de Belo Horizonte, ela se especializou em fotografia e xilogravura, e ainda fez licenciatura em Brasília na área de artes visuais, pós-graduação na UnB em arte, educação e tecnologias contemporâneas e completou tudo com um mestrado em educação na State University of New York, nos Estados Unidos.
“Vejo em Brasília muito destaque nos homens fotógrafos, diferentemente de em minha cidade natal. Aqui há grandes mulheres fotógrafas crescendo no mercado e que merecem destaque”, avalia Diana. “O olhar sensível, a compreensão do nervosismo da noiva, por também já ter sido noiva, e a liberdade das modelos de ficar mais à vontade com outra mulher são nossos diferenciais”, completa.
Mãe fotógrafa
Há oito anos, Bárbara Bastos começou a tirar fotos. Formada em psicologia, a fotógrafa clinicou durante cinco anos atendendo idosos e crianças. “Eu gostava muito da minha profissão, mas certo dia eu vi [um ensaio] da minha prima, olhei para a foto e pensei: “É isso que eu quero para mim”, afirma. Ela descreve seu trabalho como “humanizado”, sempre buscando se colocar no lugar do outro. Especializada no estilo newborn, focado em recém-nascidos, ele explica que trabalhar com bebês é extremamente exigente.
“Eu vejo que, na fotografia newborn, entram novas pessoas [na profissão] todos os dias e muitas desistem rapidamente porque é muito difícil”, ressalta Bárbara. “Exige tanto fisicamente, com um ambiente quentinho – usamos um aquecedor –, quanto psicologicamente, é preciso muita paciência. Os iniciantes não têm a habilidade de fazer o neném dormir, em posicioná-lo perfeitinho”, avalia.
Bárbara ainda atribui uma melhora no seu trabalho à sua própria experiência como mãe. “Tive problemas no meu pós-parto, tive complicações fortíssimas para amamentar, tive todas as doenças mamárias possíveis”, recorda. “Quando chegava um bebezinho [no estúdio] e a mãe transparecia estar com muito sofrimento ali na amamentação, antes de eu ser mãe, até conseguia me colocar no lugar dela. Mas quando você passa por aquele sofrimento, você realmente cria uma total empatia”, acredita.
“Me colocar ali no lugar da outra pessoa e tentar ajudá-la, tentar dar o melhor de mim, entender mais ainda quais são as expectativas daquele registro e mostrar para ela que o sentido da foto não é publicar no Instagram, não é você estar linda, maravilhosa. Muitas vezes as mães vêm [para o estúdio] e falam: ‘Não, vamos tirar foto só do neném’. A importância para mim dessas fotos é a conexão, é a relação. Então, mesmo que elas não venham maquiadas – eu sempre sugiro que venham –, fazemos um clique de mãe e filho”, pontua.