Filho dos donos da Escola Base perdoa jornalista: “Somos amigos”
Em entrevista ao Metrópoles, Ricardo Shimada fala do livro que lançará sobre o caso e a repercussão do documentário do Globoplay
atualizado
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O ano é 1994. Uma denúncia de abuso sexual a crianças de 4 anos de idade em uma escola de São Paulo muda pra sempre a vida dos donos da instituição e de suas famílias, antes mesmo de o inquérito policial ser encerrado. Quase 30 anos depois, Valmir Salaro, primeiro jornalista a repercutir o caso na imprensa, revisita o episódio no documentário Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado, lançado pela Globoplay este mês. Entre as pessoas a que Salaro pede perdão está Ricardo Shimada, filho de Icushiro e Maria Aparecida Shimada, que na época do escândalo tinha apenas 14 anos de idade.
Quando as investigações provaram que o casal e demais acusados não haviam cometido crime, o estrago já estava feito. Ricardo viu os pais serem condenados pela opinião pública, teve a casa onde cresceu depredada e passou anos nutrindo um sentimento de revolta por aqueles que condenaram sua família injustamente. Hoje, com 42 anos, ele não só aceitou participar da produção da Globo, como se prepara para lançar um livro contando a sua versão da história.
Em entrevista ao Metrópoles, Ricardo afirma que tem recebido muito apoio e mensagens de carinho após a estreia do longa. Ele ainda garante ter perdoado o jornalista que trouxe o caso à tona sem ouvir o lado de seus pais. “Todas as pessoas que entraram em contato comigo foi para falar da questão do perdão. Pessoas contando suas questões particulares sobre família, que estavam passando por momentos difíceis, e que com meus depoimentos puderam ver os problemas delas de outro ângulo”, disse.
Ricardo conta que nem mesmo após os pais provarem sua inocência, a vida da família voltou à normalidade. A mãe, Maria Aparecida, entrou em depressão e tentou suicídio por duas vezes. Em 2007, ela descobriu um câncer, já em estágio terminal, e faleceu meses depois. Icushiro teve vários AVCs e morreu devido a um infarto em 2014, antes de receber todas as indenizações a que tinha direito.
“O documentário serve para mostrar que podemos sim perdoar. Deus morreu na cruz por nossos pecados. É difícil o perdão? Para mim que agora tenho entendimento sobre as escrituras não. Com o entendimento em Cristo fica fácil”, diz, ao explicar como conseguiu passar uma borracha nos acontecimentos do passado.
Ricardo Shimada
O Filho da Injustiça
Em O Filho da Injustiça, que tem previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2023, Ricardo pretende esclarecer não só o resultado das investigações, mas contar como o episódio abalou seu passado e presente. A obra é feita a quatro mãos, com o jornalista Emílio Coutinho, que também assina o livro Escola Base – Onde e Como Estão os Protagonistas do Maior Crime da Imprensa Brasileira. “O projeto nasceu há 4 anos, mas o lançamento acabou atrasando por conta de alguns imprevistos no meio do caminho”, explica o autor.
“Agora, com o tema das fake news em voga, o lançamento vem a calhar. Na verdade, creio que Deus quis que este livro ficasse pronto agora”, ressalta o escritor, que sonha em ver pelo menos uma edição de O Filho da Injustiça em cada faculdade de jornalismo do país.
Questionado sobre o sentimento que nutre hoje por Salaro, ele revela que depois de muitas mágoas e culpa, os dois se tornaram amigos. “O documentário serviu para o Valmir ter um pouco de paz. Hoje, tenho só sentimentos bons por ele e posso dizer que ganhei um amigo. Trocamos mensagens quase que semanalmente, para falarmos da vida”, conclui.