Famosos e vídeos curtos: por que o TikTok virou a rede social da pandemia
Com adesão de cantores e artistas, a ferramente registrou crescimento de 35% desde a instalação da quarentena por causa do coronavírus
atualizado
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Após o início do período de isolamento social, decorrente da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o mundo se voltou a procurar novas formas de entretenimento que fossem práticas, acessíveis, mantivessem a socialização e que ajudassem a diminuir o estresse causado pelo momento de crise.
Nesse período, uma rede social chinesa, que aos poucos começava a “mostrar as caras” deste lado do mundo se tornou um grande fenômeno: o Tik Tok. Com ferramentas próprias de edição e maior parte do conteúdo focada no humor, paródias/redublagens de memes, músicas e desafios, a plataforma se tornou um sucesso entre os jovens e também entre os famosos.
De acordo com pesquisa da Kantar Ibope no Brasil, o acesso ao Tik Tok durante a quarentena aumentou aproximadamente 35% entre os adolescentes e jovens adultos. Além disso, a plataforma também teve um aumento de acessos de 24% entre adultos de 35 a 55 anos e de 14% vindos de pessoas com idade acima dos 55 anos.
Dados do Google Trends brasileiro também demonstram essa crescente do aplicativo. Segundo o serviço, as pesquisas no site relacionadas ao Tik Tok. aumentaram em até 100% no período da quarentena, atingindo o pico em 12 de abril. Só no Distrito Federal, as pesquisas envolvendo o nome da plataforma aumentaram em 69%.
Não à toa, vários famosos começaram a recorrer à plataforma e têm feito bastante sucesso por lá. É comum ver vídeos de artistas como Anitta, Maisa, Pabllo Vittar, os apresentadores Celso Portiolli,Evaristo Costa e até mesmo o comediante Renato Aragão, o Didi, tem viralizando também em outras redes sociais.
Somente há 40 dias no Tik Tok, Simone, que faz parceria com a irmã Simaria, é a cantora brasileira com maior número de seguidores na plataforma com mais de 4,7 milhões de fãs e alcançando marca superior a 17 milhões de curtidas.
Outras celebridades brasileiras têm se divertido por lá, carregando consigo uma legião de fãs com os vídeos de até 60 segundos. São eles Whindersson Nunes, com 7,1 milhões de seguidores, e alguns vários outros que estão na casa dos 6 milhões, entre eles Maísa, Lucas Rangel e Tirullipa.
Duração, humor e música
O Tik Tok, aplicativo da empresa chinesa Bytedance Inc., comprou o Musical.ly em 2018 e angariou a audiência do software de dublagem de músicas da plataforma. Com o um conteúdo voltado mais para a música, a rede social chinesa se tornou um dos principais atrativos principalmente para os mais jovens, é o que explica Gilson Schwartz, professor livre-docente em economia do audiovisual do Departamento de Cinema, Rede e TV da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo.
“O foco do Tik Tok em vídeos de curta duração e música parece funcionar como o principal atrativo para a audiência mais jovem. Além disso, o foco em entretenimento e o uso de um algoritmo que produz maior diversidade e surpresa a cada acesso são atrativos reconhecidos pelos especialistas como inovações da plataforma frente ao Facebook, por exemplo”, ressalta o Schwartz.
@whinderssonnunesAmora saborosa ??♬ som original – anastaciabrasiliano
O professor destaca ainda, que 70% dos usuários da plataforma tem entre 17 e 24 anos de idade e que esse crescimento nos últimos meses reflete um fenômeno de “envelhecimento” de outras redes sociais. “Parece que a cada geração de adolescentes surge espaço para pequenas inovações e propostas de marketing renovadas”, afirma.
Do ICQ ao Facebook, passando pelo Orkut, Instagram e Whatsapp, parece que a cada 5 anos surge um vácuo, um cansaço frente aos algoritmos de uma rede e a emergência de uma nova geração que vê as redes existentes como coisas de ‘velhos’ (pessoas com mais de 30 anos de idade)
Gilson Schwartz
Apesar do crescimento recente, o pesquisador pondera que o Tik Tok está entre as 10 redes sociais mais acessadas no mundo, mas que os números da plataforma ainda não chegam a um quinto dos acessos do Facebook. Além disso, ele explica que a popularização no Ocidente não chega a ameaçar os outros aplicativos, pois depende das ações de uma “guerra cultural” entre China e Estados Unidos.
“É uma guerra que passa por todos os setores da tecnologia digital, como indica a reação dos EUA à expansão da Huawei, outra gigante chinesa que atua na infra-estrutura de telecomunicações e componentes eletrônicos. Acho difícil nesse contexto uma rede social chinesa ameaçar o status quo dominado pelas gigantescas plataformas norte-americanas. Mas é uma guerra cultural, uma disputa por soft power (poder de influenciar culturas e comportamentos) que está apenas começando”, opina.
Notificação
Na última quinta-feira (14/05), o Procon de São Paulo notificou a ByteDance Brasil, braço nacional da empresa chinesa dona da Tik Tok, pelas acusações de violações nas regras sobre privacidade de crianças feitas à plataforma.
A medida é um desdobramento de ações judiciais iniciadas nos Estados Unidos, pela FTC (Federal Trade Comission), órgão que fiscaliza os direitos dos consumidores no país norte-americano.
De acordo com o Procon-SP, “a empresa deverá informar se disponibiliza o aplicativo para qualquer usuário-consumidor e a partir de quais critério, assim como se exclui informação de usuários menores de idade quando constatada a falta de consentimento dos respectivos representantes legais”.