Famosos cedem o Instagram para ativistas negros: entenda o movimento
Com a atitude, nomes como Djamila Ribeiro e Spartakus ganham mais projeção: especialista pontua que ação deve ter continuidade
atualizado
Compartilhar notícia
Celebridades como Paulo Gustavo, Tatá Werneck e Ingrid Guimarães estão aderindo a um novo movimento que tomou conta das redes sociais nesta semana. Dando continuidade ao #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam), pessoas brancas famosas estão cedendo suas contas no Instagram para que ativistas pretos possam compartilhar seus trabalhos com um novo público, atingindo um número maior de seguidores.
Desde a morte do ex-segurança negro George Floyd, de 40 anos, asfixiado por um policial branco nos Estados Unidos, vários debates sobre o espaço das pessoas pretas na sociedade e a constante presença do racismo vieram à tona. Entre eles, o fato de pessoas brancas tentarem “tomar” o espaço de fala de um negro.
Paulo Gustavo anunciou na última terça-feira (2/6) que, durante um mês, a escritora Djamila Ribeiro tomaria conta de seu perfil no Instagram. Uma das maiores vozes do movimento negro brasileiro, Djamila compartilhará conteúdos para os 13 milhões de seguidores do ator.
“Durante esse mês, vamos tratar de relações raciais, de lugar de fala, racismo estrutural e tantos outros temas fundamentais para a sociedade. Vamos discutir como nós podemos impactar na realidade de grupos sociais vulnerabilizados. Vivemos num país cujas desigualdades possuem origens históricas e entender esse processo nos ajuda a pensar o futuro”, explicou a escritora.
Tatá Werneck também aderiu ao movimento. Ela cedeu seu Instagram a Linn da Quebrada, artista multimídia, cantora, atriz e compositora. “Nesse momento de mobilização, é fundamental que possamos dar passos adiante. Tô seguindo muitas pessoas novas e vendo que preciso aprender muito, principalmente em relação a pôr em prática atitudes antirracistas. Temos sim uma dívida histórica! Uma desigualdade profunda e uma sociedade moldada pelo racismo estrutural”, escreveu a humorista na publicação.
Já Ingrid Guimarães cedeu sua conta ao youtuber Spartakus, que já deu início aos trabalhos com uma live sobre genocídio negro. A jurada do Masterchef Brasil, Paola Carosella, emprestou o perfil para o ativista e bacharel em direito Winnie Bueno falar sobre questões raciais e de gênero.
Veja as manifestações nas redes:
Doutoranda na Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-DF) e da irmandade Pretas Candangas, Juliana Cézar Nunes comentou sobre o movimento e frisou a importância de ser algo contínuo, e não apenas momentâneo. Além disso, a ativista lembrou que os negros não precisam de voz, mas de espaço para projetá-la.
“O que me preocupa é quando a parceria passa a ser a ocupação desse lugar. Bacana que artistas brancos venham somar nessa luta, isso com certeza aumenta o público dos ativistas negros. Mas é fundamental que esse protagonismo na ação contra o racismo permaneça com as pessoas negras, que seja de fato uma parceria, que os brancos reflitam sobre as pessoas que eles contratam. Quantas pessoas negras estão em suas equipes? Então não adianta ceder o perfil na rede social e sua prática continuar racista, a mudança precisa ser estrutural, ser verdadeira e levar em conta que a população negra não precisa de voz, mas de espaço para projetar sua voz. Não pode ser episódico porque a cultura não vai ser modificada sem rupturas, não vai ser modificada com um dia na TV brasileira de comentaristas negras todas em um programa“, explicou Juliana.
A doutoranda ainda lembrou que todas as pessoas precisam ser antirracistas, não apenas os pretos. “Quando o movimento negro brasileiro também incorpora o Black Lives Matter já com esse acúmulo [de negros com voz], o fato de pessoas brancas passarem a usar essa tag, falar sobre o assunto, é importante, a gente defende, as pessoas precisam ser antirracistas”, observa. “Isso é algo que pode, de fato, ampliar um debate e alcançar uma outra parcela da população”, pontua.
Pelo mundo
A iniciativa, porém, não para por aqui. Lady Gaga entregou sua conta, nesta sexta-feira (05/06), a ONGs que combatem o racismo. Ela ainda se comprometeu com o fato de publicar conteúdos sobre a comunidade negra em todas as redes sociais. Selena Gomez vai convidar líderes influentes negros para assumir sua conta e falar com os 179 milhões de seguidores. A primeira convidada foi Alicia Garza, cocriadora do movimento #BlackLivesMatter.
Já o cantor Shawn Mendes doou o Instagram a jovens negros na linha de frente da luta contra o racismo. A primeira convidada é Zyahna Bryant, ativista estudantil e organizadora de uma petição que pediu a remoção da estátua do general Robert Lee da cidade de Charlotesville (EUA).