Mostra traz fotos grotescas e surreais de Roger Ballen para Brasília
Ambientes inóspitos, poses estranhas e feições assustadoras são comuns em seus registros e dão o tom da exposição “Transfigurações”
atualizado
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É quase impossível olhar para as fotos do nova-iorquino Roger Ballen, de 67 anos, e não sentir alguma espécie de repulsa. Ambientes inóspitos, poses estranhas e feições assustadoras são comuns em seus registros e dão o tom da exposição “Transfigurações”, em cartaz na galeria principal da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul).
Porém, é essa retrospectiva — a primeira do fotógrafo no Brasil — que prova o toque magistral do artista: é impossível desviar o olhar de seus registros. A estética do grotesco, que garante um ar surreal às fotos, comprova que o belo não é necessário para a reflexão e apreciação da arte.
Suas imagens são costuradas pela escolha singular das pessoas, dos objetos e do espaço que são fotografados, pela estranheza de gestos, pela relação sui generis entre os elementos que compõem a imagem, além de evocarem uma proximidade entre humanidade e animalidade.
Daniella Géo, curadora da exposição
A mostra também conta com uma expografia peculiar. As fotos são distribuídas em temas temporais por paredes pintadas em tons escuros e pouco iluminadas. Tudo para que o visitante seja inserido no universo grotesco apresentado pelo fotógrafo.
As séries “Shadow Chamber” (2000-2004), “Boarding House” (2005-2008) e “Asylum of The Birds Series” (2008-2013) são, de fato, as mais perturbadoras. Temas como loucura, perversão, desespero e reclusão tomam conta das fotos de Ballen. Foi com esses trabalhos que o artista saiu da representação fiel dos seres humanos, partindo para um imaginário psicológico repleto de crueldade e pavores insolúveis.
Também se destacam os retratos da série “Platteland” (1986-1994) e “Outland” (1995-2000), ambas realizadas em subúrbios e cidades rurais da África do Sul, país em que o fotógrafo vive desde 1982. Ali, percebe-se o uso da técnica da fotografia documental, mas com os objetivos de acentuar os traços surrealistas que “animalizam” as pessoas.
Ao fim, vale a pena prestar atenção na série “The Theatre of Apparitions” (2005-2013), a última concluída pelo artista e apresentada ao público pela primeira vez na retrospectiva brasileira. Nela, o artista cria imagens em vidros para fazer representações do inconsciente. O tom assustador, surrealista e provocador continua presente, é claro.