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Márcio H Mota usa a luz para criar obras que se movem

Participando neste momento de mostras na Caixa Cultural e na Alfinete Galeria, o artista brasiliense comenta sobre seu trabalho e sua principal matéria-prima

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Uma das atuais fronteiras da arte contemporânea, o chamado video mapping é tão antigo quanto o cinema. A técnica consiste, basicamente, em projetar imagens em movimento sobre objetos ou superfícies irregulares de variada ordem.

Marcio H Mota vem esmiuçando o mapeamento de vídeo nos últimos anos. Neste exato momento, ele está em cartaz na cidade em duas mostras coletivas de vocação tecnológica e espírito inquieto. São dois diferentes e recentes trabalhos que, juntos, dão ideia dos interesses que o têm movido.

Na Alfinete Galeria, ele participa de “Tech-Tech” ao lado de nomes da cidade como Luiz Olivieri, Jackson Marinho e Oziel. Márcio contribui com uma obra que aproxima (literalmente) o video mapping da ancestral pintura. Sobre uma tela a óleo onde fez um autorretrato, o autor projeta uma segunda imagem, esta criada por software, formada por diversas superfícies coloridas. Essas zonas de cor, com o passar do vídeo, vão se movimentando e assim o que se vê ali na tela pendurada na parede é uma pintura que lentamente se move.

Na Caixa Cultural, ele aparece como um dos artistas brasilienses convidados para dar uma cor local à mostra nacional “Reconvexo Itinerante”. Ao lado de nomes quentes como Eder Santos, André Amparo e Fernando Rabelo, Márcio se destaca com a peculiar videoinstalação “Boneca Sobre o Cavalo”. Para ela, tomou emprestados brinquedos da filha, Manu, de 1 ano e 6 meses. Sobre os rostos da bonequinha e de seu cavalinho, ele projeta o próprio rosto (devidamente alterado em vídeo) e a própria voz (igualmente manipulada) para trazer palpável perversidade a esses elementos tão fofos do imaginário infantil.

Trata-se de um desdobramento da série “Objetos de Estimação”, na qual Márcio se utiliza do video mapping para emprestar feições adultas (quase sempre as dele, certa feita as de sua mulher) a bonequinhos de gesso, todos com cunho infantil. Nos áudios, os personagens ganham monólogos ou diálogos confessionais sobre opressão. Um tanto perturbadores, esses pequenos monstrinhos já puderam ser vistos em mostras coletivas no Museu Nacional Honestino Guimarães e no Museu dos Correios. Eles formam hoje a face mais frequente – e mais conhecida – do múltiplo Márcio H Mota.

Tempo e movimento
Foi um caminho comprido, e bastante pessoal, para Márcio H Mota, aos 32 anos, chegar a este momento da carreira. Seu trajeto passou pela música. Ele aprendeu a tocar violão ainda garoto, por influência de um dos irmãos mais velhos, e na sequência passou para a bateria. Tocou na banda Gilbertos Come Bacon, que despontou na cena roqueira brasiliense da última década.

Márcio nunca pegou aulinha de nenhum dos dois instrumentos. Ele seguia na intuição. E na intuição virou videomaker para o coletivo Corpos Informáticos, de Bia Medeiros, sem nunca antes ter se sentado numa ilha de edição. Foi um momento definitivo para o então estudante de artes visuais da Universidade de Brasília que não estava lá muito certo de que rumo tomar. Bia, sua professora e mentora, deu-lhe um norte.

“Eu aprendi na porrada a mexer com vídeo”, define Márcio, sem meias palavras, sobre o tempo em que integrou o Corpos Informáticos, entre 2006 e 2009. “Trabalhando com a Bia e com o grupo, eu aprendi a ser experimental, aprendi a não ter ideias pré-concebidas. E aprendi, ao mesmo tempo, a ter a disciplina necessária para desenvolver um trabalho, fazer projetos, participar de editais, encarar a arte como uma profissão.”

Ao lado de Fernando Aquino, seu colega de UnB, Márcio H Mota montaria por um breve e decisivo período a dupla Tutameia, levando um passo adiante sua perspectiva com vídeos e projeções. Ali começava a se esboçar a linguagem que ele hoje manipula.

“Para além da narrativa, entendi o vídeo como uma plasticidade. O vídeo está para mim como a tinta está para um pintor ou como a argila, para um escultor”, compara Márcio. Nesse sentido, ele entende que seu percurso no audiovisual ainda tem a ver com aquele seu primeiro interesse pela música. “Tanto a música quanto a imagem trabalham com tempo e movimento.”

 

Luz e espaço
A primeira mostra individual de Márcio H Mota tomou pé na Alfinete Galeria. Em agosto de 2014, ele ergueu por lá a exibição “Imagem em Processo/Paletas de Vídeo”, na qual esmiuçava justamente essa ideia de tempo e movimento.

Apropriando-se de imagens e áudios de diversas procedências, ele apresentou uma série de trabalhos em que combinava video mapping, videoarte, instalações sonoras e projeção em fumaça. Todas essas dinâmicas servindo ao artista para desestruturar a imagem como unidade, escarafunchando a imagem até que ela se reduzisse a seu mínimo: luz e espaço.

Um filme da série “Rambo”, por exemplo, teria um de seus frames fragmentado até Márcio atingir sua célula digital, o pixel, num processo em que a imagem figurativa se tornava abstrata. Mesmo ainda sendo uma obra de Sylvester Stallone, este “Rambo” de Márcio H Mota estava aberto a mil outras possibilidades estéticas e políticas.

Pois Márcio aprendeu com Bia Medeiros que uma obra de arte nunca está pronta. Uma obra de arte está sempre performando. Assim um trabalho alimenta o outro e este “Rambo” foi o ponto de partida que o levou à instalação “O Silêncio de Napalm”, apresentada no Museu Nacional dentro da recente mostra “Ondeandaaonda”, uma panorâmica de arte candanga montada para o aniversário de Brasília.

Partindo da bélica banda sonora original de “Rambo”, com seus tiros e explosões em dolby, Márcio voltaria à Guerra do Vietnã. Numa sala escura, em meio a uma névoa de glicerina e no contra-luz, ele recriaria a emblemática imagem da menina Pam Thi Kim Phúc, nua, queimada por napalm após o bombardeio americano sobre o povoado de Trang Bang, nas cercanias de Ho Chi Minh.

Dentro daquela sala, montando a instalação com ajuda do galerista e iluminador Dalton Camargos, às vésperas da abertura da exposição, Márcio entendeu que podia abrir mão do som. Entendeu que aquela imagem, terrível, prescindia do som que o levara até ali.

Márcio H Mota assim devolvia a uma cena tantas vezes já vista, e repetida, o impacto do horror.

 

“Tech-Tech”. Até 31 de outubro, na Alfinete Galeria (116 Norte, Bloco B, Loja 61; 9981-2295). De quarta a sábado, das 15h às 19h30. Entrada franca. Livre.

“Reconvexo Itinerante”. Até 1º de novembro, na Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3 e 4; 3205-9448). Terça a domingo, das 9h às 21h. Entrada franca. Livre.

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