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Karina Dias exercita o olhar e o tempo em videoinstalações intimistas

Vencedora da primeira edição do prêmio Transborda Brasília, artista plástica confirma seu lugar de destaque na cena local

atualizado

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Daniel Ferreira/Divulgação
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As duas ferramentas de Karina Dias são o olhar e o tempo. Respeitando ambas as dimensões, ela vem se tornando uma das principais artistas visuais brasilienses de sua geração. A recente láurea na primeira edição do prêmio Transborda Brasília apenas confirma seu lugar de destaque na cena local.

Em cartaz na Caixa Cultural até 20 de setembro, a mostra coletiva “Transborda Brasília”, que reúne os 20 finalistas do prêmio, traz a inédita videoinstalação que rendeu o prêmio principal a Karina. “Ao Largo” (2015) foi filmada na praia de Pipa, litoral do Rio Grande do Norte, e vale como fidedigna introdução ao olhar e ao tempo de Karina Dias.

Ocupando uma parede da galeria, o campo visual da projeção é tomado integralmente por uma imagem de mar aberto. No canto esquerdo do quadro surge uma embarcação de grande porte, tornada pequena pela distância. O navio atravessa lentamente toda a cena até vazar pelo canto direito. Servindo também como suporte para o projetor, uma caixinha completa a peça. Em seu interior, numa tela, pode-se ver uma segunda imagem, um detalhe do motor do barco, com um som abafado de engrenagem mecânica.

Karina Dias costuma operar na dinâmica entre amplidão e concentração. Essa caixa que serve de projetor, por exemplo, dialoga com as caixinhas da série “Souvenir” (2011). Inspirada nos cobogós tão comuns à arquitetura brasiliense, a artista montou pequenos objetos abrigando monitores em que se vê imagens as mais prosaicas: uma superquadra, uma calçada da Esplanada, a fachada da Igrejinha. Pequenas narrativas poéticas do dia a dia.

Infância e viagens
“Não tenho interesse pelo espetacular”, explica Karina Dias, brasiliense de 45 anos, lembrando que alguns de seus primeiros vídeos foram registrados na 308 Sul, a quadra em que passou a infância. “A câmera é a extensão do meu olhar e o olhar solicita tempo.”

Nesse sentido, filmar a 308 Sul, mais do que um rito de passagem, acabou por se revelar um procedimento estético definidor da lírica cotidiana de Karina Dias. Por passar longas horas estudando na biblioteca da Universidade de Brasília (UnB), acabou registrando aquele pedaço do campus. Quando morou em Paris, numa temporada acadêmica, espremida num apartamentinho de 32 metros quadrados, apontou a câmera para a janela e registrou a vizinhança.

“Quando penso nisso, acabo lembrando de minha infância. Quando viajava para o interior com minha família e, à noite, o programa era ficar olhando o céu, olhando a paisagem noturna”, comenta Karina. “Quando viajava, achava o deslocamento dentro do carro tão interessante quanto a chegada.”

Não estranhe então que Karina Dias, em sua carreira acadêmica, tenha se tornado professora da UnB e ali tenha criado uma disciplina a partir de seus interesses pessoais e profissionais. Ela lecionou Poéticas da Viagem, no Centro de Excelência em Turismo, justamente para poder desenvolver sua pesquisa — e atualmente está dando aulas de Elogio à Viagem, num desdobramento desse processo. Para ela, o trabalho no ateliê e o expediente em sala de aula são duas frações do mesmo olhar.

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