IA emerge como aliada criativa de artistas plásticos: veja trabalhos
A Inteligência Artificial (IA) se tornou uma aliada poderosa para artistas plásticos que buscam explorar novas possibilidades criativas
atualizado
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A arte sempre foi um reflexo do seu tempo e, com o avanço da tecnologia, a Inteligência Artificial (IA) se tornou uma aliada poderosa para artistas que buscam explorar novas possibilidades criativas. Apesar de toda a controvérsia que paira sobre o tema, artistas plásticas como Mayara Ferrão e Katia Wille se destacam por utilizar a ferramenta para ressignificar narrativas e criar obras inovadoras que dialogam com o passado e o presente.
Mayara Ferrão, de Salvador (BA), utiliza a ferramenta para explorar e ressignificar o afeto entre mulheres negras e originárias. Em sua série mais recente, ela se apropria de imagens coloniais de domínio público para criar registros ficcionais de trocas afetivas que nunca foram retratadas devido ao racismo.
“A importância política de utilizar a IA para reconstruir essas imagens de afeto é tentar borrar o imaginário que nos aprisiona em uma narrativa amarga de desamor e abusos”, explica Mayara.
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Sua obra busca preencher lacunas históricas e apresentar uma visão humana, utilizando a tecnologia para transformar traumas do passado em um presente mais democrático.
Em meio a muitos debates éticos sobre o assunto, a artista destaca a relevância da IA para criadores independentes, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades financeiras. “Produzir a partir de ferramentas tecnológicas é uma forma de nivelar as possibilidades de fazer arte”, explica.
Na avliação de Mayara, a IA permite que artistas como ela concebam ideias e imagens que demandariam muito investimento para serem realizadas fisicamente. “Eu me aproprio dela [IA] e não o contrário”, ressalta, enfatizando a importância de manter a autoria e a ética no uso da tecnologia.
Uma nova forma de enxergar a arte
A carioca Katia Wille, por sua vez, é uma artista que combina inteligência artificial com suas obras, criando uma interação dinâmica entre tecnologia e arte. Em seu projeto ToTa Machina, exibido no Museu de Arte Sacra de São Paulo em 2020, Katia utilizou algoritmos de IA e robótica para gerar uma conexão única com o espectador.
A “magia” funciona com auxílio de câmeras que focalizam o espectador, seguindo seus movimentos, e outras que utilizam a robótica para permitir a movimentação da arte de acordo com as reações faciais do público. “As obras se movimentavam de acordo com as emoções mapeadas pelos algoritmos, criando uma interação onde a obra ‘via’ e respondia ao visitante”, comenta.
Essa fusão de técnicas tradicionais com tecnologia adiciona uma camada de complexidade e inovação às criações de Wille, permitindo experimentações que, segundo ela, seriam impossíveis de viabilizar manualmente.
Para Katia, a IA oferece inúmeras ferramentas e recursos que ampliam as capacidades criativas dos artistas, especialmente os independentes. “A IA pode gerar ideias, auxiliar na pesquisa de referências e até realizar tarefas repetitivas, permitindo que os artistas se concentrem em aspectos mais criativos e conceituais de suas obras”, diz.
Arte vs IA
Apesar de crescente, o uso da IA na arte não é isento de controvérsias. Emily L. Spratt, historiadora da arte e especialista em inteligência artificial, argumentou em entrevista recente à AFP que as novas ferramentas de criação de imagens com IA são mais “entretenimento” do que arte, apesar de suas inúmeras possibilidades.
Spratt diz que por se tratar de uma novidade, o uso da ferramenta na arte ainda não é discutido de forma correta, porém, acredita que mais cedo ou mais tarde, isso vai acontecer.
“Infelizmente, o discurso sobre a arte criada por inteligências artificiais ainda não está pronto, mas acho que está a caminho e deve emergir no âmbito da história da arte”, salienta.