Gu da Cei abre primeira exposição individual em galeria de Ceilândia
Jovem talento do Distrito Federal expõe suas obras na Risofloras, espaço do Jovem Expressão, a partir deste domingo (9/4)
atualizado
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Bastante conhecido na cena local e com vários prêmios conquistados Brasil afora, Gu da Cei abre, neste domingo (9/4), sua primeira exposição individual, Vigie, Corpo-Transporte!, com curadoria de Elilson Nascimento (PE). A mostra, realizada pela Galeria Tachotte & Co, em um esforço de ativar os espaços culturais destinados às artes visuais em Brasília, fica aberta até o dia 30 de abril, com visitação sempre das 14h às 18h, na Galeria Risofloras, em Ceilândia.
Na exposição, Gu apresenta seu conceito de “contravigiar”, o que, de acordo com ele, significa lançar um novo olhar não apenas para o direito ao espaço urbano, à mobilidade e à privacidade, como também à prática do coletivo e do público.
“A ideia de contravigiar vem dessa vigilância inversa. Em 2018, fui a primeira pessoa a solicitar as imagens do sistema de reconhecimento facial do transporte coletivo para fins não policiais. Queria saber como estava se dando o tratamento das imagens. De início, não queriam me ceder essas imagens, mas acabaram fazendo, porque era meu direito”, conta.
Elison, curador, lembra que o episódio inspirou algumas das obras que serão exibidas. Na produção Passa em Sobradisney (2019), por exemplo, Gu usa as imagens do sistema de reconhecimento facial para criticar e ironizar o atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que “à época queria restringir o passe livre estudantil e trazer a Disney para a região de Sobradinho“.
“Gu parece se transmutar em uma plataforma coletiva, lembrando-nos de que nossos corpos, transportes de singularidades, afetos, histórias, memórias e percursos, têm sido tomados, capturados, registrados e disseminados como meros transportes de dados”, comenta.
Descentralização cultural
Antes de apresentar sua primeira exposição individual, o filho de maranhenses, artista visual e produtor cultural teve suas obras expostas em pelo menos 26 mostras, além de ter vencido o Prêmio de Arte Contemporânea Transborda Brasília e ser selecionado pelo EDP nas Artes, do Instituto Tomie Ohtake.
Apesar disso, ele não esconde a alegria de expor “em casa”, na cidade em que cresceu e se formou enquanto artista. “Eu fico muito feliz de estrear na galeria Risofloras, única do tipo em Ceilândia, e um espaço dedicado à descentralização cultural”, celebra.
Em parte significativa de suas obras, Gu critica o fato de a região administrativa, com 51 anos recém-comemorados e considerada a mais populosa do DF, ainda ser tão negligenciada pelo poder público.
“Essa exposição mostra o quanto a minha expressão é permeada e inspirada por Ceilândia, e de certa forma reforça essa luta por descentralização cultural, por quebrar estereótipos. Ceilândia é uma região muito rica em expressões e linguagens artísticas, mas muita gente só a conhece como uma antiga invasão. Por isso, alguns dos meus trabalhos de intervenção urbana buscam contar a real história da cidade”
Gu da Cei
Ele cita a fotografia de uma placa exposta em frente ao Museu Vivo da Memória Candanga, onde é possível ler: “Vila IAPI: esse território pertence à Ceilândia”. “Na época da construção de Brasília, famílias que foram para Ceilândia foram retiradas dali com a justificativa de que o plano hídrico da cidade seria comprometido. Hoje, aquele lugar virou um setor de mansões. Sempre foi uma questão de classes”, conclui.
Serviço
Vigie, Corpo-Transporte
Deste domingo (9/4) até o dia 30 de abril. Visitação de segunda a sábado, das 14h às 18h, na galeria Risofloras (Ceilândia Norte). Entrada franca. Classificação indicativa livre.