Galeria XXX reúne de arte erótica a obras de Portinari e Aleijadinho
Rogério Carvalho criou com acervo pessoal o espaço em casa, no Jardim Botânico. São mil peças, na maioria de artistas brasilienses
atualizado
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A escultura de um homem em tamanho natural pendurada na fachada alerta o visitante que aquela casa, localizada em um dos condomínios mais distantes do Jardim Botânico, tem algo de diferente. Em vez de servir de residência, como as outras localizadas na região, a construção abriga a Galeria de Arte XXX. “Não fui eu que escolhi a casa, ela que me escolheu”, afirma Rogério Carvalho, proprietário da galeria.
O espaço é bem distribuído. Um hall serve de recepção, enquanto o salão principal se torna espaço para expor as obras de arte. Além disso, o local conta com duas reservas técnicas, um escritório de arte e um ambiente de residência para artistas.
Eróticos, contemporâneos e clássicos
“Criei um espaço em que pudesse trabalhar com diversas demandas do mercado da arte”, diz Rogério. No escritório, ele atende clientes interessados em comprar e vender peças de valor artístico, enquanto um ambiente composto por uma suíte e dependências de serviço permitem a hospedagem de artistas para que possam produzir obras dentro do espaço.
O acervo da galeria é composto por mil peças que fazem parte do acervo pessoal de Rogério. Na maioria, foram produzidas por artistas brasilienses e contemporâneos. “Gosto de obras que lidem com a sexualidade”. Entre eles, estão Antônio Obá, Fernando Carpaneda e Renato Rios.
Não à toa, o título do espaço remete ao “triplo X”, classificação americana para filmes pornôs, levando Rogério e sua galeria a ganharem fama de ser um espaço “devasso”. Porém, há na coleção outros temas e obras mais antigas produzidas por mestres da arte, como Aleijadinho, Mestre Valentim, Portinari e Tarsila do Amaral.
Um cliente por vez
O atendimento na Galeria XXX é diferente de qualquer outro: o visitante tem que marcar com antecedência a visita ao espaço. Porém, o que parece um empecilho à primeira vista é, na verdade, uma vantagem. “Busco fazer um atendimento personalizado, para que as pessoas conversem sobre o que quiserem e fiquem à vontade para apreciar a obra”, explica.
Nesse contexto, até mesmo a comercialização da obra é facilitada. Estando a sós, Rogério pode se inteirar sobre os gostos dos visitantes e também explicar sobre as peças. “Além disso, como o espaço tem a estrutura de uma residência, as pessoas podem visualizar melhor a obra na casa delas”, explica.
Caçador de obras perdidas
Carioca de 44 anos, Rogério vive em Brasília desde 1974 e não pensa em arredar o pé da capital. Arquiteto por formação, passou 15 anos no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde atuou ao lado da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) no resgate de obras de arte desaparecidas e chegou a ocupar a gerência nacional de bens móveis do instituto.
Para ele, a experiência serviu para treinar o faro em reconhecer obras de arte. Como teve que aprender a reconhecer as obras de arte roubadas – muitas delas sequer eram preservadas durante o sumiço – acostumou-se a observar os pequenos detalhes e compreender tecnicamente o que torna a peça verdadeira e sua qualidade.
Além disso, ainda no Iphan DF realizou a revitalização da Igrejinha da 308 Sul e do Palácio da Alvorada e sua capela anexa. Foi curador do Palácio da Alvorada e Planalto entre 2009 e 2016, resgatando uma série de obras e móveis nacionais.