Exposições “Poema 193” e “Monumento” movimentam a Funarte
A mostra “Poema 193” traz desenhos de Diego de Santos enquanto a “Monumento” cria uma grande instalação ao jardim da entidade
atualizado
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O Complexo Cultural da Funarte está recheado de atrações. Além do festival “Hilaridade Fatal – Festival de Brasília do Bom Humor Brasileiro” ocupar os dois teatros da instituição durante a semana, os visitantes terão acesso a duas exposições a partir desta quinta-feira (16/2).
A Galeria Fayga Ostrower recebe a mostra “Poema 193”, que traz uma série de desenhos, filmagens e objetos produzidos pelo cearense Diego de Santos em 2015. Para além do conteúdo apresentado pelo artista, destaca-se o trabalho dele com o material utilizado: ele os incendiou parcialmente.
Os quadros feitos em papel e caneta esferográfica utilizam das partes queimadas para contar histórias – e sonhos – comuns à infância. Estão lá imagens de céus estrelados, anjos e trilhos de ferrovias. Elementos que permeiam a imaginação dos mais jovens.
As conchas queimadas ao chão partem para outra reflexão. Segundo Yana, esses objetos marítimos simbolizavam a sexualidade nas religiões pagãs e o “caminho do peregrino” no cristianismo. Tomados pelo fogo, o conjunto adota um teor sombrio e ganha novas significações.
Um monumento ao progresso
O jardim verde da Funarte contrasta com a terra vermelha revolvida. Ao centro, um carro destruído serve de base para a bandeira da capital – ambos completamente sujos pelo barro. Embora seja uma boa ideia, o visitante não precisa dar a volta na instalação, pois o carro gira vagarosamente sobre si mesmo.
Em um primeiro momento, a obra criada especialmente para a Funarte pelos artistas Adriano Guimarães (DF), Fernando Guimarães (DF) e Ismael Monticelli (RS) provoca um espanto e dá um ar de compreensão. Amaciado do choque, é possível perceber os questionamentos provocados pela instalação.
O barro vermelho em meio ao verde do jardim é exatamente aquilo que as pessoas sentem: um incômodo provocado pelo humano que modifica a natureza. Ao automóvel e à bandeira acrescenta-se a concepção de um progresso que nunca chegou de fato a Brasília, além de uma tímida crítica ao modo de produção do mercado automobilístico – grande representante do modelo de trabalho capitalista.
A instalação também faz um jogo com a palavra monumento. Trata-se de uma referência a algo construído para perpetuar a memória de alguém ou de uma pessoa relevante a uma determinada sociedade. No trabalho, o que se apresenta é um objeto constante na vida das pessoas, mas também visto como algo menos importante, indigno de ser rememorado.
É possível compartilhar da afirmação feita pela curadora da “Monumento”, Daniela Name. “Ao criarem seu próprio eixo com esses desastres, é como se eles investissem na necessidade de paralisia, de silêncio e de contemplação para redesenhar metas e mapas. Menos veloz e mais opaca, essa jornada talvez seja a única cartografia possível em meio aos destroços”, conclui.