Com 2% de espaço, mulheres lutam para ganhar o mercado mundial de arte
Pesquisa da Arnet mostra que o mercado artístico é ocupado, em sua maioria, por homens. Artistas relatam sua luta para mostrar seu trabalho
atualizado
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O universo do entretenimento, de forma geral, ainda está longe de valorizar (e remunerar de maneira igualitária) o trabalho das mulheres, principalmente quando o assunto é salário, se comparado ao valor destinado aos homens. No mercado de arte mundial, não é diferente. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo site Artnet no mês passado, mais de US$ 196,6 bilhões foram gastos em leilões de arte entre 2008 e os primeiros cinco meses de 2019. Desse total, o trabalho feito por mulheres representa apenas US$ 4 bilhões, cerca de 2% do montante.
Um exemplo divulgado pela própria pesquisa mostra a discrepância considerável e a desvalorização do trabalho de uma mulher: em 2018, um quadro da pintora britânica Jenny Saville foi vendido por US$ 12,5 milhões, um recorde para artistas vivas. No ano seguinte, uma obra do escultor americano Jeff Koons conseguiu US$ 91,1 milhões, transformando o feito de Jenny apenas em uma nota de rodapé dos jornais com foco em arte.
“As mulheres ainda são diminuídas”
Em conversa com o Metrópoles, a artista plástica santista Kalina Juzwiak, de 35 anos, afirmou que há uma luta árdua e diária para que mulheres consigam entrar nesse mercado, um meio reconhecidamente machista.
“Hoje, lido muito melhor com isso. Quando comecei, sentia muita falta, e eu me diminuía um pouco. Tinha medo de chegar nos lugares, já chegava achando que era menor. Eu até tive uma fase de esconder minha imagem, usava roupas mais largas”, recorda. “Eu ainda tenho cara de novinha, sou loirinha”, completa.
“Com o tempo, fui percebendo que nós, mulheres, temos um diferencial que os homens não têm. Temos um olhar, uma sensibilidade. Se a gente nasce com certa facilidade, a gente tem que usar isso a favor, e não ter medo de usar”, afirma Kalina, conhecida como Kaju.
Quanto mais a gente se posiciona e fala de igual para igual, mais a gente mostra que não precisa agradar ninguém, a gente só é.
Kalina Juzwiak
Museus espalhados pelo mundo
Outro dado divulgado pela Artnet mostra que em 18 dos maiores museus dos Estados Unidos, 87% têm sua coleção produzida por homens, sendo 85% deles brancos. Já nas feiras de Art Basel, que acontecem em Basel, Miami e Hong Kong, as mulheres representaram menos de 1/4 dos artistas expostos nos últimos quatro anos.
Visando conquistar seu espaço nesse gigante mercado de arte e, ao mesmo tempo, empoderar mulheres, Kalina uniu o útil ao agradável: a artista busca trabalhar e mostrar em sua arte a luta diária do núcleo feminino em busca do empoderamento, ajudando jovens artistas a atingir seus sonhos e acreditarem em si mesmas.
“Eu tenho minhas obras por si só, elas passam uma linguagem. Geralmente, sempre trabalho com mulheres, desconstruo a figura delas de uma forma feminina, mas com muita força. Minha arte passa força. Ela tem um minimalismo, tem uma leveza, porém, transmite uma presença. Nas minhas redes, incentivo as pessoas a serem elas mesmas. 80% do meu público é feminino, e eu busco empoderar a questão do se conheça, para que você possa ser mais você”, relata.
Eu sou uma mulher independente, moro sozinha, construí meu negócio, tenho 35 anos e não tenho namorado, não tenho filhos, e está tudo bem com isso. Eu empodero os outros “sendo”. A partir do momento que você simplesmente “é”, você empodera as pessoas a “serem” também.
Kalina Juzwiak
Kalina, que tentou viver do seu trabalho artístico na Europa, contou que a crença de que o mercado de arte no Brasil é desvalorizado é distorcida, se comparada a outros locais do mundo: “O mercado na Europa é ainda mais fechado. O brasileiro está muito mais aberto para novidades, quer ser o primeiro a descobrir um artista legal e, na Europa, as pessoas são muito mais conservadoras.”
Quando questionada sobre uma mensagem que deixaria para mulheres que estão entrando no mundo da arte, Kaju respondeu: “Principal é se preocupe menos com os outros, e seja mais você. Permita ser mais autêntica. Não ache que você é demais. Pare de pensar nos outros e seja mais você”.
Cursos
Além de trabalhar com sua arte e suas redes sociais para tentar empoderar as mulheres, Kaju, que já teve trabalhos reconhecidos em nível nacional e internacional por grandes marcas, também lançou um curso on-line de mentoria artística, para que todos consigam encontrar a sua essência e ter a sua própria voz em um espaço cada vez mais competitivo.
“O curso Viva da Sua Arte tem um viés de autoconhecimento, mas aborda todas as frentes e departamentos de ser artista: identidade, expressão, sua marca, quem é seu público, como você se comunica. Mas sempre olhando para você, o para fora é uma consequência”, explica. Para saber mais sobre os cursos de Kaju, clique aqui.
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