Brasília, enfim: exposição mostra versão da cidade criada com Inteligência Artificial
Christus Nóbrega criou a exposição Brasília, enfim com base nas memórias de histórias contadas pela mãe e ajuda de Inteligência Artificial
atualizado
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Brasília é marcada pelas construções modernistas desenhadas por Oscar Niemeyer e pelo planejamento urbano repleto de organização de Lúcio Costa. Quem conhece a cidade, mesmo que pouco, consegue reconhecer os traços marcantes do arquiteto que deram a identidade da capital federal. E não é diferente na exposição Brasília, enfim.
Idealizada pelo artista plástico Christus Nóbrega, a mostra reúne fotografias de pessoas e monumentos criados com ajuda de Inteligência Artificial (IA). Em quatro atos, é possível reimaginar a história da construção da cidade e sentir vontade de explorar monumentos que poderiam, mas não existem no desenho original.
“É uma exposição que trata de ficções sobre Brasília. Quando eu era muito pequeno, minha mãe vinha muito a Brasília, e, quando ela voltava, sempre trazia na mala muitas histórias sobre o que era. Ela descrevia essa cidade, que é completamente diferente de todas as outras do mundo, e eu ficava imaginando o que seria”, explica o artista.
Nóbrega resolveu resgatar essa imaginação e aproveitar a expertise da irmã, que ensina sobre IA na Universidade de Brasília, para recriar a capital. “Essa exposição junta os saberes dessas duas mulheres importantes da minha vida, que contei para uma máquina e ela deu forma”, explica.
Brasília, enfim ocupa o complexo cultural da Praça dos Três Poderes até 18 de junho. No Espaço Oscar Niemeyer, ela fala sobre a arquitetura e a construção da cidade. Subindo um pouco, o Panteão da Pátria apresenta “imagens das pessoas” — criadas pela imaginação de Christus — que colocaram a mão na massa para erguer a cidade no fim da década de 1950 e, por muitas vezes, são esquecidas.
No Espaço Lúcio Costa ele apresenta uma versão do que seria o plano urbanístico da cidade e encerra os atos da mostra no Museu Histórico de Brasília, onde fala sobre um Paulo Freire que implantou canteiros de leitura nas obras.
Um gostinho da exposição
A mostra começa em um desenho exposto no Espaço Oscar Niemeyer, o qual seria uma representação do Plano Piloto trabalhado como a região dos setores dos ventos. A proposta é que eles reforcem as ideias de amplitude, velocidade e poesia que é a cidade aos olhos de Christus.
No Setor Vento Norte ele dá o start na construção da cidade e faz alusão tanto aos povos originários que viviam por lá, quanto às lendas urbanas que acompanharam o nascimento de Brasília. O Setor Vento Sul imagina a presença de mulheres na construção civil e cria o primeiro sindicato feminino, mas também começa a mostrar prédios históricos como o Observatório dos Quatro Ventos.
A obra causou confusão e fez algumas pessoas acreditarem que ela realmente existia. “Uma das vezes em que eu estava aqui, tinha um senhor com a filha e ele estava tentando reconhecer os monumentos, mas achando todos os prédios estranhos. E aí ele começou a pesquisar onde ficava o Setor de Contemplação dos Ventos em Brasília. Ele não achou, é claro, e veio perguntar do que se tratava”, lembra o artista.
Ainda na ideia de que a cidade é toda setorizada, ele apresenta a Cidade dos Mortos no Vento Leste. Inspirado no modernismo da capital, ele reforça a igualdade proposta pelo movimento na hora da morte, em que todos se tornam iguais. Para fechar, o paraibano apresenta o que seria um setor monumental na região Oeste.
“A exposição, de uma certa forma, evidencia coisas que estavam ocultas nessa história e que talvez não tivessem acontecido, mas que eu desejaria ver. Então é um Brasil de mais justiça, mais igualdade de gênero, um país que respeita suas tradições, seus povos originários”, avalia o artista.
A revolta da IA
Quem assistiu filmes sobre Inteligência Artificial com certeza imaginou como seria se as máquinas realmente se voltassem contra os humanos. Com o avanço dessa tecnologia, a possibilidade é outra: que elas roubem os postos de trabalho. Mas Christus Nóbrega encontrou um jeito de fazer da IA uma aliada, que chegou a se rebelar um pouco durante o processo de criação da mostra.
“Brasília é uma cidade internacional, uma cidade que comporta todas as embaixadas do mundo. Então imaginei que essa cidade poderia ter um museu que comportasse toda a história do mundo, um Museu do Mundo. E foi super interessante, porque na hora que eu estava construindo esse museu junto com a IA, ela me pregou uma peça e se recusou a fazer o Museu do Mundo”, relembra o artista.
Ele explicou ainda que a máquina o alertou sobre os conflitos éticos do espaço. Para ela, selecionar o que entraria no museu, excluiria muitas outras coisas existentes. “E ela disse: ‘O risco de você cometer deslizes éticos e morais é muito grande. Então talvez a ideia de um Museu do Mundo não seja uma ideia tão social assim’.”
Serviço
Brasília, enfim
Até 18 de junho, no Complexo Cultural da Praça dos Três Poderes (Espaço Oscar Niemeyer, Panteão da Liberdade, Espaço Lúcio Costa e Museu Histórico de Brasília). Visitas de terça a sexta, das 9h às 18h, e sábado e domingo, das 9h às 17h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.