Barbara Wagner: brasiliense ganha o país com fotos de cultura popular
Seus registros fogem do padrão técnico da fotografia e revelam o desencaixe do indivíduo numa cultura em constante transformação
atualizado
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A brasiliense Barbara Wagner, de 37 anos, é uma artista incomum. Suas fotografias artísticas fogem do padrão por realçarem a iluminação provocada pelo flash e buscarem ângulos díspares acerca das culturas populares brasileiras. No início, esses registros provocam uma sensação de estranhamento.
Porém, um olhar atencioso sobre seus trabalhos permite perceber a real intenção da artista: revelar o desencaixe do indivíduo numa cultura em constante transformação. “Me interessa a tradição em movimento”, diz a fotógrafa, em entrevista exclusiva ao Metrópoles. Sua proposta foi tão bem recebida no circuito artístico do país que os grandes patronos da arte brasileira também se interessaram pelo seu trabalho.
Além de ser uma das quatro finalistas do Prêmio Pipa 2017, o mais importante da arte contemporânea brasileira, Barbara teve alguns de seus trabalhos adquiridos pelo Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e pelo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Inclusive, duas fotografias suas compõem a exposição “Entre Nós”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília até 18 de setembro.
Trajetória
Nascida em Brasília, Barbara permaneceu por apenas seis anos no Planalto Central. Ela se mudou com a família para Maceió (AL), onde viveu até os 16 anos, e depois partiu para Recife (PE), cidade em que vive até hoje. “Meus trabalhos, em grande parte, falam sobre as culturas populares de lá e do agreste pernambucano”, explica.
“A comunidade foi criada durante a época da construção de Brasília, nos anos 1950. Seus moradores eram considerados teimosos por reconstruírem à noite os barracões destruídos pelo poder público durante o dia. Eles me chamaram muita atenção por terem uma sabedoria particular sobre a vida por trás de toda a energia e vulgaridade presente em seus gostos e comportamentos”, conta.
Inspiração
Mais do que um ensaio que leva o nome da cidade em que nasceu, há uma reflexão sobre ser brasiliense que permeia todos os trabalhos de Bárbara. “Toda vez que penso em Brasília me sinto uma pessoa desencaixada. Meus familiares não nasceram na mesma cidade que eu. Não me lembro de como é viver na cidade que nasci. De certa forma, é esse o sentimento que está inserido nas fotos que produzo”, conta.
O contato com as culturas populares da cidade em que mora se deu por conta de seu trabalho na agência de fotografias Lumiar. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2003, Bárbara vivenciou o período em que as redações começaram a se digitalizar.
“A rotina se alterou muito rapidamente, permitindo uma produção de matérias mais frias, sem a necessidade de serem publicadas com rapidez”, relembra. Assim, ela começou a frequentar diversos grupos que tornariam seus objetos de pesquisa.
Entre eles, os carnavalescos, os fiéis da igreja pentecostal e moradores de favelas. Assim, suas fotografias ganham certo caráter documental. Porém, o flash estourado e a busca por ângulos díspares afastam a ideia de que o trabalho de Barbara Wagner seja puro documento.
Mais do que documentar culturas populares, eu busco retratar a forma como os indivíduos dessa cultura se enxergam naquele ambiente.
Barbara Wagner
Até 2009, a artista trabalhava como freelancer para diversos meios de comunicação com o intuito de trazer à tona os costumes dos povos nordestinos. Daí em diante, ela começou a trabalhar somente com a pesquisa e a produção fotográfica e cinematográfica (vídeo-instalações), valendo-se de editais públicos e premiações para garantir o sustento. E, hoje, colhe os frutos pelo trabalho.