“Árvore de armas” causa polêmica e é retirada do Aeroporto de Brasília
O artista plástico Marcio Rapello integrava a mostra Natal Arte. Inframerica aponta questões de segurança
atualizado
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Uma árvore de Natal montada com armas de brinquedo virou o centro de uma polêmica entre o artista Marcio Rapello e a administração do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek. De um lado, o autor da obra alega censura e, do outro, a Inframerica aponta questões de segurança para retirar a peça controversa.
A escultura faz parte da exposição Natal Arte, que conta com 40 trabalhos de artistas de Brasília, como Rafaela Gravia e Darlan Rosa. A mostra tem curadoria de Mel Vianna e Aciole Félix.
De todas as obras, apenas a de Marcio Rapello, intitulada Árvore do Apocalipse, foi retirada momentaneamente da exposição. Para o artista plástico, a ação é um ato de censura. “São armas de brinquedo presas com lacres e cabos de aço. É impossível [os objetos] serem desacoplados. Tudo foi comunicado com 10 dias de antecedência”, diz. A peça estava na área de desembarque, próximo ao ponto de táxi.
A pintura, com tinta fluorescente amarela e verde, foi feita durante três dias. Na madrugada dessa terça (11/12) para quarta-feira (12), Rapello finalizou a obra no saguão do aeroporto – o processo durou cerca de quatro horas. A retirada ocorreu na tarde de hoje.
Pretendia deixar o espectador livre para entender aquilo que o seu conceito já moldado o permitia. Era uma obra bastante aberta. Vi várias reações. Uns enxergavam um apoio a [Jair] Bolsonaro, outros percebiam uma crítica ao presidente eleito
Marcio Rapello
Questão de segurança
A Inframerica, empresa responsável pelo Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, nega qualquer ato de censura contra a polêmica árvore. Em nota, a administração alegou questões de segurança.
“A Inframerica externa sua posição de respeito ao direito de livre manifestação artística. Contudo, o exercício de tal direito deve preservar a infraestrutura aeroportuária e a integridade dos usuários, e não se sobrepor aos valores fundamentais, como o inegociável direito à segurança dos passageiros e das operações aéreas. O aeroporto é uma área de segurança da aviação civil e o porte de todo e qualquer armamento, seja ele de fogo ou não, deve estar de acordo com as regras estipuladas. A obra mencionada estava situada em área pública, onde poderia ser apropriada para uso de má-fé e por consequência ameaçar os direitos acima mencionados”, afirma a empresa em nota.
Mel Vianna, uma das curadoras da exposição, também discorda de que a árvore tenha sido alvo de algum tipo de cerceamento. “Ele não foi retirado da mostra, pedimos apenas uma outra obra. O aeroporto alegou questões de segurança. Estamos conversando para resolver”, falou.
Ao Metrópoles, Rapello confirmou que pretende protestar na nova produção e estuda exibir a obra antiga, com as armas de brinquedo, no Museu Nacional da República (Eixo Monumental).
A Natal Arte, que abre nesta sexta-feira (14/12) e segue até o dia 25, é um projeto do Instituto de Produção Socioeducativo e Cultural Brasileiro (IPCB) com apoio financeiro da Secretaria de Esporte e Turismo do Distrito Federal. Segundo a assessoria da pasta, o órgão apenas cumpriu um termo de fomento e não tem envolvimento com a parte artística da mostra.