Artista de Ceilândia chega à final do maior prêmio de arte do país
Antonio Obá, que vive atualmente em Vicente Pires, foi um dos quatro artistas selecionados para concorrer ao Prêmio PIPA de 2017
atualizado
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“Uma surpresa. Uma grande surpresa”. Essas foram as palavras usadas por Antonio Obá, 33 anos, ao saber que estava entre os quatro finalistas do Prêmio Pipa, o concurso avaliado como o mais importante do país no que diz respeito à arte contemporânea brasileira. Com uma produção artística intensa – ele participou de 11 exposições só em 2016 –, suas obras relacionam símbolos religiosos, questões raciais e política. “Apesar de trabalhar essas questões, não sou um ativista. Trabalho com o que me incomoda, não com incômodo do mundo”, explica.
Por isso, Obá fala sobre seu ofício como se tratasse de algo íntimo e completamente natural em sua vida. “Eu não domino meu processo artístico. É algo que surge de mim, do meu corpo, e que pesquiso a fundo, de modo a construir um material físico”, diz. Atualmente, trabalha com performances, pinturas e esculturas.
Um de seus trabalhos mais conhecidos é a performance “Atos da Transfiguração”, em que ele – completamente nu – esfrega em um ralador uma estátua de gesso que representa a Nossa Senhora Aparecida, negra, até que ela se torne completamente branca. No final, Obá pega o pó branco da santa e espalha pelo próprio corpo. Trata-se de uma crítica ao racismo velado no Brasil.
Histórico
Nascido em Ceilândia, Obá sempre gostou de desenhar. “Eu era aquele aluno da escola que melhor desenhava, mas nunca havia levado arte a sério”, conta. Isso mudou aos 15 anos, quando ele se mudou para Vicente Pires e passou a frequentar a sala de recursos voltada a jovens superdotados na escola pública de Taguatinga.
O professor-coordenador da sala de recursos também era artista plástico e me abriu os olhos para o ofício. Depois que concluí o ensino médio, ele me chamou para dar aulas de arte numa escola particular.
Antonio Obá
Daí, Obá passou a dividir o tempo entre o trabalho na escola e as aulas de publicidade da Universidade Católica de Brasília (UCB). Depois de três anos, largou tudo para iniciar a licenciatura de artes na Faculdade Dulcina de Moraes e começar a produzir suas obras.
Hoje, ele é professor de artes no ensino público e dá aula na mesma sala de recursos onde foi aluno, em Taguatinga. Seu ateliê está instalado na casa em que vive com os pais, um distribuidor de gás e uma autônoma. “A família sempre foi muito próxima e me apoiou. Em todas minhas decisões, falavam apenas ‘Tem certeza? Então vamos nessa'”, lembra.
Este ano ele está por conta do Prêmio PIPA, que exige alguma dedicação em virtude das disputas e das exposições. Sobre isso, ele pede, brincando: “Por favor, votem em mim!”.
Pipa
Os artistas finalistas participarão de uma série de eventos ligados à premiação. No dia 16 de julho, eles poderão concorrer ao Prêmio PIPA Online, em que os internautas votam pelo site no artista preferido. Em 7 de agosto, o primeiro e o segundo artista mais votados receberão R$ 10 mil e R$ 5 mil, respectivamente.
Entre 23 de setembro e 26 de novembro, os artistas farão uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para participarem do Prêmio PIPA Voto Popular. Lá, o público poderá escolher o preferido até dia 5 de novembro. O valor desta premiação é de R$ 24 mil.
Já o Prêmio Pipa, definido pelo júri da premiação, concede R$ 130 mil e uma residência artística em Residency Unlimited, em Nova York (EUA). Tanto esse quanto o PIPA Voto Popular serão anunciados em 18 de novembro.