“Arte é para cutucar”, diz autora sobre mostra “Pourquoi Pas?”
Com obras assinadas por ex-consulesa da França, exposição reúne imagens de personalidades brancas com pele escurecida
atualizado
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A mostra “Pourquoi pas?” (“Por que Não?”) gerou polêmica antes mesmo de estrear. Ex-consulesa da França, Alexandra Loras modificou 40 imagens de personalidades da política, do esporte e do mundo pop.
Escolheu somente pessoas brancas, como Xuxa, Silvio Santos, o presidente Michel Temer e a ex-presidente Dilma Rousseff. Por meio de edição no Photoshop, escureceu a pele dos retratados. As obras abrem para visitação neste sábado (2/12), na galeria Rabieh, em São Paulo.
Assim que divulgou as primeiras fotos da exposição, Alexandra foi acusada nas redes sociais de perpetuar o “blackface”. No século 19, artistas de teatro brancos pintavam o rosto com carvão para representar personagens negros de maneira maliciosa. A técnica também reverberou no cinema em filmes como “O Nascimento de uma Nação” (1915) e “O Cantor de Jazz” (1927).
Morando no Brasil desde 2012, a artista francesa rebate as acusações e afirma que “pelo menos a polêmica trouxe debate”. “Eu, como negra, tenho lugar de fala sobre a negritude e posso falar sobre isso como eu quero. A mulher negra pode usar o viés que ela quiser. Respeito as opiniões, mas também tenho a minha”, defende a ex-consulesa.
Alexandra já previa que “Pourquoi pas?” despertaria reações negativas – “arte é feita para cutucar” – e diz que o reequilíbrio social do mundo passa pela responsabilidade dos brancos. “Somos todos responsáveis. Mas o branco tem privilégio, apesar do passado colonizador e racista. Ele está com a chave do jogo nas mãos e precisa entender como o mundo é para nós.”
Quero que as pessoas visualizem como é o mundo para os negros, como é ver um mundo invertido. Estamos longe do equilíbrio. Temos narrativa de supremacia branca na segunda maior população negra no mundo. É um absurdo
Alexandra Loras, artista
“Artivismo”
A falta de representatividade “no Congresso, no Senado, na mídia, nos executivos de empresas, nos desenhos animados, nos livros didáticos” instiga Alexandra a se definir como uma “ativista” em defesa da diversidade e do empoderamento negro e feminino.
“É uma forma de falar através das minhas imagens e dessa proposta. Para que possamos tocar de maneira artística em assuntos pesados. Se começo a falar pela militância, fica frontal. As imagens marcam”, acredita a francesa.