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Arte contemporânea africana ganha destaque em duas exposições no DF

Ex-África, no CCBB, e Daqui Pra Frente, na Caixa Cultural, valorizam a expressão artística produzida atualmente no continente africano

atualizado

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Leonce Raphael Agbodjelou/Jack Bell Gallery
Leonce Raphael Agbodjelou
1 de 1 Leonce Raphael Agbodjelou - Foto: Leonce Raphael Agbodjelou/Jack Bell Gallery

Agosto em Brasília começa com duas exposições dedicadas à arte contemporânea africana. No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a Ex-África reúne 18 artistas da África e dois afro-brasileiros em diversos suportes: da pintura a vídeo-arte. A Caixa Cultural também tem seu período de homenagem ao continente com Daqui Pra Frente – Arte Contemporânea em Angola, que contempla o trabalho recente de três artistas do país africano.

As duas exposições têm suas aberturas ao público nesta quarta-feira (8/8). No último domingo (5), a organização do CCBB se movimentava entre as salas para garantir os últimos detalhes da mostra, que vai até outubro. Entre funcionários do centro cultural, estavam dois artistas montando suas obras: o ganês Ibrahim Mahama e o egípcio Youssef Limoud.

Embora visualmente muito diferentes, os dois trabalhos têm um ponto em comum: foram feitos com materiais coletados no Brasil. Os artistas buscaram pedaços de escombros nas cidades pelas quais passaram, com o intuito de simular a devastação das metrópoles africanas. Mahama assina Paraíso Perdido Não Orientável, instalação imensa que ocupa tod o Pavilhão de Vidro do CCBB.

Clara Campoli/Metrópoles
Ibrahim Mahama e seu Paraíso Perdido Não Orientável: montadores tiveram liberdade criativa

 

“Acreditei nas pessoas que montaram as peças, deixei que eles soltassem a imaginação. Nós somos muito controladores atualmente, deveríamos permitir que os nossos processos criativos fossem como os das crianças, mais soltos”, argumenta o ganês. A obra demorou quatro dias para ficar pronta e é uma maneira de refletir sobre o passado a partir dos materiais sucateados: a decadência dos objetos faz pensar sobre o consumo.

Munido de uma vassoura e de um sorriso gentil, o artista plástico e escritor Youssef Limoud terminava de acertar, na tarde de domingo (5), os últimos detalhes de sua obra: Maqam. É uma destruição organizada, baseada no conceito de ruína. O egípcio montou, com materiais diversos, uma instalação inspirada nos resultados da Primavera Árabe. Seu país natal não foi destruído literalmente, mas sofreu com a insurreição.

Clara Campoli/Metrópoles
O egípcio Youssef Limoud acerta os últimos detalhes de sua instalação, Maqam: “A geometria é muito importante para a minha arte. Como organizar os elementos, este é o verdadeiro trabalho”

 

“Falar sobre ruínas tem um significado muito amplo. A destruição no Egito foi parcial, a ruína é emocional. No coração das pessoas, o sonho ruiu”, detalha o artista. A temática da guera, no entanto, é apenas mote para o processo artístico. “Arte pode lidar com qualquer ideia. É sobre estética, com qualquer tema. Se você vê fotos ou vídeos de guerra, acaba se dessensibilizando. A arte traz de volta a experiência humana”, define.

A arte contemporânea africana deu as costas a dois preconceitos longamente estabelecidos; por um lado, o estigma do artesanato e, por outro, as referências etnográficas. Nos centros urbanos percebe-se nitidamente um vigoroso aumento da produção artística. Último continente a entrar nesse universo, a África agora também faz parte da cena global, com todas as vantagens e desvantagens

Alfons Hug, curador da exposição Ex-África

A África contemporânea se apresenta com outras temáticas e outros suportes no CCBB. A exposição é dividida em quatro partes: a primeira, Ecos da História, lembra da diáspora negra e da escravização dos povos africanos durante o período colonial. As obras sugerem uma reflexão amarga sobre a relação entre a pobreza, o desemprego, as recentes migrações e aspectos relacionados aos tempos dos navios negreiros. Nesta parte, destaca-se a série Ex-Votos, do brasiliense Dalton de Paula.

Depois, em Corpos e retratos, a estética corporal dos povos africanos é valorizada nas belíssimas fotografias do nigeriano J. D. Okhai Ojeikere em sua série Hairdo Revolution e também nos famigerados autorretratos do senegalês Omar Victor Diop. O sul-africano Mohau Modisakeng traz sua expressão corporal em intrigantes vídeoartes.

12 imagens
Sem título, de Arjan Martins
Frame do curta Cambeck, de Binelde Hyrcan
Ex-Votos A, de Dalton Paula
Nairóbi, de Guy Tillim
Abebe, de J.D. 'Okhai Ojeikere
1 de 12

Milho, fogão e aquecedor, de Andrew Tshabangu

Andrew Tshabangu/Gallery MOMO
2 de 12

Sem título, de Arjan Martins

Pedro Agil/Galeria A Gentil Carioca
3 de 12

Frame do curta Cambeck, de Binelde Hyrcan

Binelde Hyrcan/Divulgação
4 de 12

Ex-Votos A, de Dalton Paula

Sé Galeria/Divulgação
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Nairóbi, de Guy Tillim

Guy Tillim/Divulgação
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Abebe, de J.D. 'Okhai Ojeikere

J.D. 'Okhai Ojeikere/Divulgação
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Lagos Drawings, de Karo Akpokiere

Karo Akpokiere/Divulgação
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Gênesis X, de Kudzanai Chiurai

Kudzanai Chiurai/Goodman Gallery
9 de 12

Tríptico sem título, de Leonce Raphael Agbodjelou

Leonce Raphael Agbodjelou/Jack Bell Gallery
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12 Projeções de Janelas, Ponte City, de Mikhael Subotzky e Patrick Waterhouse

Mikhael Subotzky e Patrick Waterhouse/Divulgação
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Frame do vídeo-arte Inzilo, de Mohau Modisakeng

Mohau Modisakeng/Whatiftheworld
12 de 12

Omar Ibn Saïd, de Omar Victor Diop

Omar Victor Diop/Magnin-A Gallery

Drama Urbano é a próxima parte da exposição, que trata da atual situação das metrópoles africanas em vídeos, fotografias e ilustrações. A Ex-África se encerra com Explosões Musicais, que transforma as galerias do CCBB no Clube Lagos: do afrobeat de Fela Kuti ao pop nigeriano.

O trio de Angola
A Caixa Cultural também abre exposição sobre arte contemporânea africana: Daqui Pra Frente propõe uma discussão sobre a tensão entre ex-colônia e colonizador. Com obras dos angolanos Délio Jasse, Mónica de Miranda e Yonamine, e curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe fotografias, vídeos e instalações, num mapeamento da fronteira estética entre a Angola de hoje e as imagens de um passado colonial recente.

7 imagens
Série Além Mar, de Délio Jasse
Série Erosion, de Mónica de Miranda
Biting Nations, de Mónica de Miranda
Cross Winds, de Mónica de Miranda
Casa Portuguesa, de Mónica de Miranda
1 de 7

Série Além Mar, de Délio Jasse

Délio Jasse/Divulgação
2 de 7

Série Além Mar, de Délio Jasse

Délio Jasse/Divulgação
3 de 7

Série Erosion, de Mónica de Miranda

Mónica de Miranda/Divulgação
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Biting Nations, de Mónica de Miranda

Mónica de Miranda/Divulgação
5 de 7

Cross Winds, de Mónica de Miranda

Mónica de Miranda/Divulgação
6 de 7

Casa Portuguesa, de Mónica de Miranda

Mónica de Miranda/Divulgação
7 de 7

A arte de Yonamine

Yonamine/Divulgação

O trabalho de Délio Jasse consiste num embate direto entre a crise do modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos, como a guerra e o exílio. O fotógrafo registrou rostos em uma antiga feira de antiguidades de Lisboa, nos colocando à frente das identidades que o colonialismo insistiu em apagar.

Mónica de MIranda, por sua vez, registra identidades plurais inspiradas pela existência enquanto artista itinerante. Por fim, o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, com referências do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do cenário político e econômico do país africano.

Ex-África
7 de agosto a 21 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB (SCES, Trecho 2). Entrada franca. Livre para todos os públicos

Daqui Pra Frente – Arte Contemporânea em Angola
Na Caixa Cultural Brasília (SBS Quadra 4, lotes 3/4 – Edifício Anexo da Matriz), de 8 de agosto a 30 de setembro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Classificação indicativa livre

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