Arnaldo Antunes expande os sentidos com a mostra “Palavra em Movimento”
Museu dos Correios recebe até 8 de novembro uma retrospectiva do poeta roqueiro com três décadas de artes visuais
atualizado
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Mais familiar aos ouvidos do público como cantor de rock e compositor pop, o músico paulistano Arnaldo Antunes desenvolve carreira fértil também como poeta e como artista visual. Um tanto desse outro lado do popstar pode ser visto no Museu dos Correios, até 8 de novembro, dentro da mostra retrospectiva “Palavra em Movimento”.
O título desta exibição soa bastante feliz, uma vez que é justamente a palavra — mais do que signos e significados, o elemento físico chamado “palavra” — que dá liga aos mil diferentes suportes provocados a cada vez pelo irrequieto Arnaldo Antunes (ex-cantor dos Titãs) ao longo de três décadas de atividade. Percorrendo o quarto andar do Museus dos Correios, o visitante se depara com vídeos, fotografias, instalações, colagens e gravuras.
Todos esses objetos de natureza híbrida têm a palavra como fio condutor do olhar. E como qualquer palavra já traz significado(s) nela embutido(s), boa parte da aventura lúdica de Arnaldo Antunes passa pela ideia de provocar pequenas narrativas na cabeça do visitante. Algumas dessas narrativas são apenas trocadilhescas, outras cortejam o dadaísmo, outras tantas esmorecem diante do apelo gráfico próprio da poesia concreta. E nos momentos mais radicais, a narrativa implode junto com a palavra, perdendo sua identidade visual e assumindo formas e cores.
É o caso da série “Caligrafia” (1998-2003), aqui representada em 20 peças de monotipia, feitas com tinta de carimbo, em que Antunes toma emprestado alguns de seus próprios versos para, brincando nas telas, reordená-los e assim descobrir atividades pictóricas insuspeitadas. De certa forma, este movimento também está nas 15 videoinstalações feitas com monitores digitais, exibindo fotos tiradas no meio da rua, caso da recente “O Interno Exterior” (2014-2015).
Concretismo e cultura pop
Para estabelecer filiações, o curador Daniel Rangel recorre ao conceito de “verbicovisual”. Cunhada pelo modernista irlandês James Joyce e difundida nas letras brasileiras graças aos poetas concretistas, essa expressão dá conta de que um poema, em realidade qualquer poema, se compõe de três dimensões: verbal, sonora e visual.
Tornado poeta sob o som (e a fúria) dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Arnaldo Antunes traz ainda cores tropicalistas, asperezas punk rock e um bocado desta cultura audiovisual tão contemporânea que mistura design, publicidade, urbanismo e fotografia no mesmo arcabouço intelectual.
Vale notar que dois objetos presentes nesta exposição, os conceituais “Peito Feito”(2002) e “Luz Inside Incide Light” (2010), já tinham sido apresentados aos brasilienses, no ano passado, dentro da mostra “Luzescrita” da Caixa Cultural. Naquela ocasião, a montagem trazia objetos de Antunes, Fernando Laszlo e Walter Silveira numa mesma toada. Desta feita, no bojo de uma retrospectiva de seu autor, essas peças ganham mais contexto e mais força.
Até 8 de novembro, no Museu Nacional dos Correios (Setor Comercial Sul, Quadra 4, Lote 256, 3213-5076). De terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h. Entrada franca. Livre.