Equipe brasiliense de hip-hop representará o Brasil em torneio mundial
A Cia. Have Dreams participará pelo terceiro ano consecutivo do World Hip-Hop Dance Championship, maior competição de dança de rua do mundo
atualizado
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Uma das expressões mais marcantes da cultura urbana, a dança de rua será reverenciada no mês de agosto, no World Hip-Hop Dance Championship – competição internacional realizada em Phoenix, no Arizona (EUA). Composta por 30 dançarinos brasilienses da Cia. Have Dreams, a Seleção Brasileira de Hip-Hop disputará o primeiro lugar do pódio com mais de 4 mil dançarinos, de outros 48 países. Entre eles, Alemanha, Canadá, China, Japão, Holanda, Argentina, África do Sul e Estados Unidos.
Esta não será a primeira viagem dos brasilienses ao exterior. Fundada em 2010 pelo coreógrafo e diretor Rafael Nino, a Have Dreams é figura garantida nas principais disputas, dentro e fora do Brasil, há, pelo menos, quatro anos. “Tem sido um caminho de muita luta e resistência. Nas primeiras viagens, não tivemos nenhum patrocínio nem apoio do governo. Tivemos de tirar o dinheiro do bolso e isso impediu que muitos bailarinos pudessem ir”, relembra Rafael Nino.
Mesmo em menor número, o grupo se manteve entre os 29 melhores do campeonato mundial em 2015, ano em que 58 equipes estavam na disputa. No ano seguinte, foram eleitos campeões sul-americanos, em Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Desta vez, patrocinados, a Have Dreams irá levar 30 componentes ao Arizona e, com staff mais robusto, esperam superar os “favoritaços”: Estados Unidos, Nova Zelândia e Filipinas.A preparação para o campeonato é intensa. Aproximadamente 10 horas semanais de ensaios coletivos, fora o treino individual de cada integrante. “O ideal é nos dedicarmos exclusivamente aos treinos, mas temos de dividir nosso tempo com outras atividades. A maior dificuldade é a falta de investimentos, isso torna quase impossível sobreviver só da dança”, considera o fundador.
Escritores da liberdade
Nascido em Fortaleza, Rafael chegou a Brasília aos 9 anos de idade, acompanhando os pais em busca de mais oportunidades profissionais. Fã do Michael Jackson, foi apresentado na escola, em Ceilândia, ao hip-hop e, desde então, não parou de dançar. “Perdi vários amigos para o crime. Muitos foram presos. Outros, mortos. A dança me salvou. Mostrou que havia alternativas”, conta o dançarino.
Aos 14 anos, resolveu profissionalizar o hobby. Começou buscando aprender os passos com os mais experientes. “Na minha época, não tinha essa quantidade de tutoriais disponíveis atualmente nas redes sociais. Assistia aos videoclipes na TV e ficava observando os dançarinos mais velhos”, relembra. Convencer a família de que era possível viver da dança não foi fácil. O apoio chegou só depois de os parentes perceberem a “mudança de vida” de Rafael.
Em 2004, o ceilandense de coração viajou para Joinville, em Santa Catarina, a fim de estudar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Voltou a Brasília e participou de vários grupos locais, antes de fundar o próprio time. “Assisti ao filme Escritores da Liberdade e achei que a história de superação deles tinha tudo a ver com a minha e de tantos garotos dedicados à dança”, declara Rafael.
O nome do coletivo foi inspirado na música I Have a Dream, trilha do longa-metragem protagonizado por Hilary Swank.
Resiliência
Desde maio deste ano, membros da companhia apresentam-se em escolas públicas e particulares do Distrito Federal com o espetáculo Resiliência. A palavra, em voga nos discursos de motivação, remete à capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
A iniciativa visa incentivar adolescentes a seguirem seus sonhos e apresentar uma realidade longe do crime e das drogas. Na montagem, a ideologia do grupo, determinado a reencaminhar jovens em situação de vulnerabilidade social, fica ainda mais evidente. “Somos a prova de que é possível sonhar e realizar”, ressalta o coreógrafo.
Durante 45 minutos, os 30 bailarinos profissionais se revezam no palco, levando aos jovens das escolas uma coreografia com influência de danças urbanas e contemporâneas. “Acredito que o nosso diferencial no palco seja a mistura de muitas culturas e, principalmente, os ritmos latinos como o reggaeton e o funk brasileiro”, explica Rafael.