Entenda sucesso das produções espanholas da Netflix: veja quais assistir
Sucessos recentes da plataforma como a série White Lines e O Poço mostram força de filmes e séries da Espanha no Brasil. Saiba o porquê
atualizado
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Nos últimos meses, em meio a pandemia do novo coronavírus, algumas produções estrangeiras começaram a bombar na Netflix. Títulos originais, há pouco tempo adicionados na plataforma ou até então “escondidos” viraram tema de publicações nas redes sociais e se tornaram um verdadeiro sucesso, como O Poço e o Milagre na Cela 7.
Porém, quando falamos dos títulos que têm a Espanha como origem, o sucesso é a ainda mais estrondoso no Brasil. Durante esse período de quarentena, as produções espanholas estiveram quase que diariamente no Top 10 dos mais vistos no serviço de streaming em terras tupiniquins.
Nos últimos três meses, por exemplo, pesquisas por séries e filmes de origem espanhola dispararam no Google, de acordo com a ferramenta Trends, que acompanha as pesquisas no site. Filmes como Um Contratempo, suspense do diretor Oriol Paulo lançado em 2016, tiveram aumento repentino de buscas no mesmo período.
Essa popularidade revela o sucesso recente de produções da Espanha na Netflix. Após o fenômeno global que se tornou La Casa de Papel, outras séries como Vis a Vis, Elite e a recém-lançada White Lines, também de Alex Pina – criador das duas primeiras –, entraram de vez nas listas das favoritas dos brasileiros.
Filmes como O Poço (2019), A Casa (2020), Um Contratempo (2016), O Silêncio na Cidade Branca (2020) e Durante à Tormenta (2018) se revezaram e estiveram durante vários dias entre os títulos mais assistidos no streaming. De acordo com Roberto Franco, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP), esse sucesso se dá principalmente por conta da afinidade cultural.
“As produções espanholas são sucesso no mundo todo. É um fenômeno. Mas no Brasil, ainda mais, porque somos um país latino. Tanto aqui, como no México ou na Espanha, o melodrama é a forma predominante de entretenimento. Gostamos das reviravoltas, dos personagens apaixonados e exagerados, das tramas ‘rocambolescas'”, afirma.
Investimento
Com a popularização dos serviços de streaming, que de certa forma “democratizaram” o mercado cinematográfico, produções não-americanas começaram a fazer bastante sucesso mundo afora. Além disso, países como a Coréia do Sul, aumentaram os investimentos para o setor audiovisual, que resultaram em títulos como Parasita, do diretor Bong Joon-Ho, que foi o maior vencedor do Oscar 2020.
Porém, na Espanha, a estratégia foi um pouco diferente, é o que explica Roberto: “O investimento não aumentou. Pelo que sei, ao contrário, diminuiu. Mas o interessante é que eles montaram um sistema de produção regional muito vigoroso e a produção independente ganhou qualidade e profissionalismo. Soma-se a isso uma ótima tradição literária comprometida com o espectador. As condições estavam dadas para aproveitar a oportunidade oferecida pela Netflix”.
Polos de produção
Parte de uma estratégia conhecida da Netflix, que faz investimentos pesados e parcerias para o aumento de produções locais, a Espanha fez ótimo proveito do mercado que a plataforma de streaming americana proporcionou. Só em 2020, a parceria rendeu sucessos como A Casa, O Silêncio na Cidade Branca e a série White Lines.
“A Netflix hoje tem um papel estratégico para todos os produtores. A diferença entre ela e os estúdios tradicionais é que tem um verdadeiro compromisso com a performance nos vários países em que atua. É claro que uma Disney também tem, mas ela atira mirando o mundo todo. São produtos americanos que despertam interesse global. Já a Netflix produz primeiro para o Brasil, para a Argentina, para o México e assim vai”, explica Roberto.
“Se der certo, eles alavancam para o mundo inteiro. Tanto que montam estruturas regionais de produção, ao contrário dos estúdios tradicionais que produzem tudo em Los Angeles. Essa lógica da Netflix vale para a Amazon e quem mais entrar no streaming. Produção regional para o mercado global. Quem souber aproveitar a oportunidade vai se consolidar como polo de produção”, completa.
E o Brasil?
Apesar de não se consolidar como um dos polos de produções da Netflix de bastante sucesso, como a Espanha, o Brasil tem caminhado para quem sabe, num futuro próximo, ter sucessos globais como La Casa de Papel. Primeira original da plataforma no país, a série 3% (2017), por exemplo, é a produção de língua não-inglesa mais vista nos Estados Unidos.
Para o especialista, um dos principais motivos para as produções brasileiras não emplacarem de forma global é o roteiro. “Nossas salas de roteiro são acanhadas e nossa tradição dramatúrgica ainda rarefeita. Melhorou muito, mas ainda temos uma caminhada longa pela frente. Também acho que precisamos produzir mais filmes e séries de gênero. Na comédia vamos bem, mas falta suspense, ação e horror, se possível misturado!”, opina.
Em 2020, a expectativa era de que a Netflix investisse mais de R$ 350 milhões em produções originais brasileiras, de acordo com Greg Peters, diretor global de produtos da empresa, em painel na Futurecom, no ano passado. Nas últimas semanas, o principal lançamento foi a comédia Ricos de Amor, que esteve no Top 10 da plataforma e no próximo dia 10 de junho, estreia a série Reality Z, mais nova aposta do streaming.