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Entenda o impacto que a greve de roteiristas pode causar na indústria

Roteiristas entraram em greve nesta terça (2/5) e lutam pelo aumento salarial e acordos trabalhistas que se adequem aos streamings

atualizado

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Foto colorida de cartazes sobre a greve de roteiristas em Hollywood - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de cartazes sobre a greve de roteiristas em Hollywood - Metrópoles - Foto: Michael M. Santiago/Getty Images

Os profissionais do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA) entraram em greve nessa terça-feira (2/5), após o acordo trabalhista vigente entre a associação e os grandes estúdios de Hollywood chegar ao fim sem acordos comerciais e trabalhistas. Profissionais da área já ventilam possíveis atrasos em lançamentos, número este que pode atingir cerca de 600 produções.

O Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos afirma que a decisão da greve se deu após seis semanas de tentativas de acordos com estúdios, plataformas e talentos para aumentos salariais e acordos trabalhistas, com foco no grande lucro gerado pelas produções para os streamings.

“A direção e conselho do WGA, atuando sob autorização de seus membros, votou para declarar greve, efetiva a partir de 00h01 desta terça-feira, 2 de maio. A decisão foi tomada após seis semanas de negociações com Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner, NBC Universal, Paramount e Sony, sob o guarda-chuva da Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP)”, diz nota da WGA, publicada nas redes sociais.

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Atores se juntaram ao movimento
Roteiristas de Hollywood entram em greve e lutam por direitos trabalhistas
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Eles buscam melhores condições de trabalho e proteção jurídica frente às novas tecnologias

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Roteiristas de Hollywood entram em greve e lutam por direitos trabalhistas

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Sendo assim, os membros do sindicato devem parar de prestar serviços em qualquer projeto que tenha jurisdição sobre o sindicato.

A Aliança de Produtores de Filmes e TV afirma que a greve pode afetar cerca de 600 produções para cinema, televisão e streaming. Em um primeiro momento, a imprensa norte-americana já afirma que talk-shows de sucesso foram paralisados pela greve.

De acordo com o The Wrap, os programas Last Week Tonight with John Oliver, The Late Show with Stephen Colbert, Jimmy Kimmel Live, The Tonight Show Starring Jimmy Fallon e Late Night with Seth Meyers não vão entrar ao vivo por conta das paralisações.

No Twitter, o showrunner Jon Hurwitz, responsável pela série Cobra Kai (Netflix), afirmou que o lançamento da quinta e última temporada da produção vai atrasar por conta da greve de roteiristas.

Impactos no mercado

Profissionais da indústria já dão como certo o atraso de produções e o impacto significativo que a paralisação terá em filmes, séries e programas internacionais — o que também traz consequências para estreias marcadas em território nacional.

Relembrando a greve dos roteiristas em 2007, que marcou a paralisação do setor audiovisual americano e custou milhares de dólares ao mercado em uma briga que durou 100 dias, o diretor criativo e roteirista Carlos Tetél Queiroz afirmou que “o debate vai muito além dos possíveis atrasos”, pontuando investimentos milionários e agendas de talentos envolvidos.

“Estamos falando de uma cadeia que opera cronogramas bem longos, com investimentos milionários, em produção e no lançamento destas propriedades. Existe a agenda dos talentos envolvidos, cláusulas e contratos que certamente sofrerão o impacto de qualquer paralisação. A indústria levou um tempo considerável para normalizar a sua cadeia produtiva depois da greve dos roteiristas de 2007. O diálogo hoje se dá também em torno da sustentabilidade do sistema de criação, do fator humano desta cadeia”, disse ao Metrópoles.

“Nos Estados Unidos, a WGA é uma entidade importante, que encabeça algumas batalhas da classe dos escritores e roteiristas há bastante tempo. Partindo do histórico de bom engajamento que a WGA e outros representantes de classe possuem, acredito que teremos atrasos, sim, programas que consomem um enorme trabalho de roteiro serão impactados em suas rotinas de produção quase que imediatamente”, completou.

Marina Rodrigues, produtora executiva focada em políticas públicas para o audiovisual, pontua: “Não dá para falar em números concretos, mas assim como em 2007, a greve pode trazer prejuízos financeiros aos estúdios e também ao espectador pelo tempo que estarão paralisadas, mas é algo necessário e que vem da reivindicação dos trabalhadores há muitos anos.”

A produtora, no entanto, pondera que os atrasos de produções não serão sentidos de imediato, já que ainda não se sabe a duração da greve e muitas séries e filmes já estão finalizados ou em processo de pós-produção.

“Hoje no streaming impera a lei dos conglomerados, em que muitas vezes você trabalha apenas se aceitar a vender seus direitos patrimoniais (ou seja, você se desfaz da sua própria obra). Nos Estados Unidos, atualmente, os conglomerados tem escolhido não seguir com obras em catálogos — mesmo que elas ainda estejam com o licenciamento vigente — ou desistindo de lançar certos títulos para não ter que pagar com os residuais, que é uma cota que o autor deve receber através da receita comercial do título”, explica ela.

“Consequentemente, essas ações causam danos progressivos aos trabalhadores, que vão contar com baixos salários em uma estrutura econômica cada vez mais cara e que se recupera de altas inflacionárias recentes pela pandemia. Hoje é quase impossível um roteirista ou qualquer outro profissional da indústria audiovisual sobreviver somente desta atividade”, finaliza.

E o Brasil?

Mas e o Brasil, como fica em meio à paralisação dos roteiristas? Rafael Peixoto, diretor de Políticas Públicas e Relações Institucionais da Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA), apontou que os profissionais nacionais também lutam pelas mesmas pautas que a WGA, principalmente quando se fala sobre os pagamentos de direitos conexos pelos streamings.

“Aqui no Brasil, a gente sofreu um processo de não regulação dos streamings que é muito complexo. A TV a cabo é regulada, a TV aberta é regulada, o cinema é regulado, mas o streaming não passou por nada disso. A luta é parecida pelo pagamento dos direitos conexos e pelo não sucateamento da profissão do roteirista”, afirma o diretor.

Rafael, no entanto, pontuou que a ABRA, como associação, não pode convocar uma greve — mesmo que deixe claro seu apoio à luta da WGA. Em território nacional, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (Sindcine) e o Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (STIC) não se manifestaram sobre uma possível paralisação.

Tetél Queiroz e Marina, por sua vez, concordam com possíveis atrasos em lançamentos no Brasil. “Com um mercado concentrado para títulos hollywoodianos, os cinemas brasileiros podem sentir o impacto de maneira negativa”, afirma a produtora, ao que o roteirista completa:

“Certamente a greve nos principais mercados vai intensificar as conversas internas para solidificar uma pauta ampla capaz de posicionar as necessidades de todo um grupo de trabalhadores no Brasil.”

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