Entenda a guerra nos bastidores pelo Oscar de Melhor Filme
O sistema preferencial de votos da premiação proporciona aos veteranos da indústria uma vantagem sobre novatos
atualizado
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O Oscar é o prêmio audiovisual mais esperado da temporada. Em 2019, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas celebra a 91ª edição e muitas pessoas – dentro e fora da círculo cinéfilo – não sabem como funciona o sistema de votos. Para te ajudar, o Metrópoles preparou um guia da seleção.
Para todas as categorias, mais de 7 mil membros da academia votam em um indicado. No entanto, a principal premiação, a de Melhor Filme, usa um sistema diferente, com base preferencial. Os membros fazem um ranking de primeiro (melhor) até o último lugar. Em 2019, oito longas foram indicados: Pantera Negra, Bohemian Rhapsody, A Favorita, Green Book: O Guia, Infiltrado na Klan, Nasce uma Estrela, Roma e Vice.
Se um dos filmes conseguir mais de 50% dos votos de membros da Academia na primeira contagem, ele é o ganhador. Caso contrário, o sistema usa as porcentagens de escolhas para eliminar o menos popular. Se nenhum longa tiver chegado a 50%, o processo se repete até um dos postulantes superar a marca.
O sistema, segundo o jornalista Tim Gray – especialista em Oscar da norte-americana Variety –, causa confusão entre os próprios votantes. “Há uns 8 mil eleitores e eu só conversei com uma fração deles, mas ninguém entende direito”, disse Gray em entrevista ao Philip DeFranco. “Eles entendem que a primeira escolha e a segunda escolha são importantes, e depois disso é complicado demais”, completa.
Campanhas sussurradas
Esse desentendimento abre espaço para a chamada “whisper campaigns” (campanhas sussuradas, em português), tática usada por cineastas de Hollywood há anos com objetivo de fazer seus filmes ganharem a famosa estatueta dourada. Em matéria da ABC News, Malorie Cunningham afirmou que “os estúdios [de cinema] geralmente dependem bastante dessas ações […] através de propagandas, lobbying, festas, screeners e até, alguns dizem, expondo o passado dos competidores”.
O contribuinte da ABC News, Chris Connelly revela a existência de uma estratégia cada vez mais explorada. “Há, muitas vezes, tentativas dos longas se apresentarem como socialmente relevante aos temas em debate no mundo”, opina. Essa visão ganha reforço com a vitória de Moonlight (2017) e A Forma da Água (2018).
Stu Zakim, um dos eleitores da academia, entende que filmes precisam do burburinho das campanhas para convencer os membros do júri a assisti-los. “A ação ‘tête-à-tête’ é muito mais importante para mim do que as propagandas ou qualquer entrevista dos atores”, explicou.
“A maior parte [das campanhas] são esses jantares. Moonlight teve cinco, seis, sete eventos diferentes apenas em Nova York, onde nós [membros da Academia] tivemos a chance de interagir com o diretor e os atores”, coloca Zakim. Ele reforça que esses encontros dão uma chance aos votantes de entender as obras dos cineastas de uma maneira mais clara.
Ainda de acordo com Malorie Cunningham, as notícias sobre indicados ao Oscar de 2017 – como as alegações de abuso sexual contra Casey Affleck – poderiam ter surgido por conta de uma dessas campanhas. Scott Feinberg, especialista em Oscar do The Hollywood Reporter, acusou representantes dos concorrentes de Affleck – ele disputou contra Denzel Washington, Ryan Gosling, Andrew Garfield e Viggo Mortensen – de espalharem a informação.
“Pode se argumentar [que Affleck] teve esses problemas [de abuso], mas é um pouco estranho falar deles seis anos após o ocorrido”, alegou Feinberg à ABC News.
Em entrevista à NBC News o diretor editorial do The Hollywood Reporter, Matthew Belloni, contou que “[em 2018], as campanhas sussurradas foram que Três Anúncios Para um Crime era racista, A Forma da Água seria um plágio e que Gary Oldman era antisemita“.
Oscar 2019
Este ano, um dos filmes mais controverso é Green Book: O Guia. Com cinco indicações, o longa fala sobre a relação entre o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) e seu motorista ítalo-americano Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen). A repercussão negativa da família Shirley, tuítes antigos e um perfil preocupante do o diretor talvez comprometam o sucesso do longa.
“Todas essas histórias que se juntaram durante o período crucial de votos pode ter um efeito bem significativo nas chances de vitória do filme”, disse Piya Sinha-Roy, analista da Entertainment Weekly. “Se [membros] da Academia estão lendo essas histórias, é difícil imaginar que essas manchetes não irão impactar suas escolhas”, concluiu.