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Elza Soares tinha papel importante na luta contra racismo

A cantora, que morreu nesta quinta-feira (20/1), nunca escondeu sua vontade de um mundo igualitário e sem discriminações

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Elza Soares
1 de 1 Elza Soares - Foto: Divulgação

Considerada a voz do milênio, Elza Soares não fez seu nome apenas no mundo da música. A cantora, que morreu nesta quinta-feira (20/1) aos 91 anos de idade, também marcou a trajetória da luta negra, feminista e LGBTQIA+ no Brasil. Suas músicas costumavam falar sobre racismo, enquanto suas entrevistas à imprensa deixavam clara a vontade que a artista tinha de ver um mundo igualitário para todos, independentemente de credo, gênero ou cor.

Antes da pandemia de Covid-19, por exemplo, o Carnaval do Rio de Janeiro de 2019 teve Elza Soares como enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel. Na época com 89 anos, ela desfilou como destaque do último carro.

Na ocasião, a escola de samba mostrou as partes mais difíceis da vida da artista, como quando ela cantou em circos ou quando apanhou de ex-companheiros. Para marcar o momento, os ex de Elza foram comparados a homens das cavernas na ala Machismo: Os Selvagens do Circo.

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Aos 91 anos, no dia 20 de janeiro de 2022, Elza faleceu de causas naturais, em casa. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da cantora
Ao todo, Elza teve sete filhos. Aos 21 anos, Elza já era viúva do primeiro marido e tinha perdido dois de seus filhos, que morreram de fome
"A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo o mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim"
Mesmo com a dor, Elza presenteou o mundo com seu jeito único de cantar. Ela se tornou uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira. Iniciou a trajetória nos concursos de rádio, no anos 1950. Nas décadas seguintes, construiu uma grande trajetória no samba
Ao longo da brilhante carreira, Elza Soares lançou 34 discos e, nos anos mais recentes, aproximou-se de sons contemporâneos, como o hip-hop e a música eletrônica
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Elza Gomes da Conceição nasceu na favela carioca de Moça Bonita, em 23 de junho de 1930

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Aos 91 anos, no dia 20 de janeiro de 2022, Elza faleceu de causas naturais, em casa. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da cantora

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Ao todo, Elza teve sete filhos. Aos 21 anos, Elza já era viúva do primeiro marido e tinha perdido dois de seus filhos, que morreram de fome

Material cedido ao Metrópoles
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"A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo o mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim"

Michael Melo/Metrópoles
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Mesmo com a dor, Elza presenteou o mundo com seu jeito único de cantar. Ela se tornou uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira. Iniciou a trajetória nos concursos de rádio, no anos 1950. Nas décadas seguintes, construiu uma grande trajetória no samba

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Ao longo da brilhante carreira, Elza Soares lançou 34 discos e, nos anos mais recentes, aproximou-se de sons contemporâneos, como o hip-hop e a música eletrônica

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O disco A Mulher do Fim do Mundo foi eleito pelo jornal The New York Times como um dos 10 melhores do ano de 2016. O último álbum dela foi Planeta Fome, lançado em 2019

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Em 1963, ela gravou a canção Eu Sou A Outra, sobre o assunto, sacudindo a sociedade conservadora do Brasil

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A morte da cantora ocorre exatos 39 anos depois da morte de Garrincha, com quem ela foi casada

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Elza Soares e Garrincha, ídolo do Botafogo, viveram um romance cheio de altos e baixos de 1966 a 1982. O relacionamento entre eles começou escondido, pois Garrincha era casado na época e a cantora foi taxada de amante do jogador e responsável pelo fim do matrimônio anterior dele. A paixão entre os dois durou 17 anos e eles tiveram um filho, Júnior, que morreu em 1986, em um acidente de carro

Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images

Em todo o percurso, que também contou com a ala Fênix: A Reinvenção da Deusa, na qual a escola de samba retratava Elza Soares como porta-voz das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, a cantora esteve sentada em seu trono, observando todo o movimento e marcando o último Carnaval antes de um dos períodos mais tenebrosos que o mundo já enfrentou.

A morte da cantora ocorre exatos 39 anos depois da morte de Garrincha, com quem ela foi casada

Lidei muito com preconceito. É por isso que eu falo tanto das mulheres, especialmente das mulheres negras. Falo muito do racismo e da homofobia, da cultura, do respeito e da tolerância. Ainda é difícil ser uma mulher negra no mundo. Assusta-me muito ver certos governos caminharem para o racismo. Eu já vi e vivi muita coisa, por isso só posso ter esperança e acreditar em dias melhores. A minha experiência ensinou-me que só podemos ter respeito e sermos tolerantes com os outros.

Elza Soares, para o site Delas

Uma das principais músicas de Elza, inclusive, é uma crítica ao racismo. A Carne, lançada em 2002, diz: “A carne mais barata do mercado / É a carne negra”. Na canção, a cantora fala sobre “brigar por justiça e por respeito”.

“Elza foi uma mulher à frente do seu tempo. Ela sempre esteve atenta aos debates sobre racismo e machismo, mas, sem dúvidas, a chegada do disco Mulher do Fim do Mundo deixou a posição sócio-política de Elza ainda mais evidente. Elza cantava e falava sobre isso porque são demandas urgentes no nosso país, que infelizmente lidera trágicas estatísticas quando se trata da população negra e das mulheres. No Brasil, há um genocídio antinegro em curso e o país é o quinto no ranking de feminicídio”, afirmou Maíra de Deus Brito, doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB), ao Metrópoles.

Luta feminista

No programa Falas Femininas, da Globo, Elza interpretou a canção O Que se Cala, e deu seu depoimento sobre o que é ser mulher nos dias atuais. “E as mulheres… continua denunciando: 180, por favor. Você, que é vizinho, meta a colher mesmo, grite, ajude a gritar”, disse ela, em entrevista à Folha.

Ela também não se calou quando o assunto é a luta antirracista: “A gente está vendo o próprio negro sendo racista. A gente tem exemplos na cara da gente”.

Meu nome é agora. Eu acredito que para fazer o bem tem que fazer o bem hoje, não deixar para amanhã o que pode fazer hoje. Faça já. Eu faço meu bem agora, não deixo para depois. Eu não sei o que será de mim depois, o que será do outro lado, não tenho certeza.

Elza Soares, para a Folha de S. Paulo

Ao site Delas, Elza foi sucinta quando questionada se é feminista: “Eu já nasci feminista, a lutar pelos direitos das mulheres. Sou feminista pela minha mãe, por mim. Para mim, ser feminista é brigar, é lutar. Faço isso através da minha música e da minha fala e, embora ache que as novas gerações já estão muito mais conscientes, há muito trabalho a fazer”.

“A morte de Elza impacta não apenas a música, mas todas as áreas. Teatro, cinema, esporte, política. Elza foi e sempre será uma referência essencial. A morte dela é um baque, mas acho importante que a gente sempre se lembre da sorte que foi viver no mesmo tempo que Elza Soares”, completou Maíra.

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