Drag queens do DF se reinventam em meio a desafios por mais espaço
Artistas ganharam espaço no audiovisual, mas enfrentam desafios em busca de espaço e reconhecimento
atualizado
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Visuais coloridos, looks exuberantes e performances de tirar o fôlego! Quem já viu uma drag queen em cena sabe que esses elementos raramente são negligenciados por elas, embora o movimento tenha muitas outras características marcantes, como a capacidade de se reinventar. Primeiro palco de muitas artistas que brilham no cenário nacional, Brasília ainda impõe desafios à cena — que não desanima e segue lançando estrelas.
Reality show com mais Emmys da história, RuPaul’s Drag Race ajudou a popularizar esse universo no mundo. Em 2023, a atração ganhou uma versão brasileira, exibida no Paramount +, no embalo de programas similares, como Queen Stars e Queen Of The Universe — a maioria com uma representante brasiliense no cast.
“Ter um Drag Race Brasil deixou o nosso coração quentinho pedindo por outro. Tivemos a Rubi Ocean que é aqui do DF representando e queremos ver todas as outras lá também”, destaca Nana Antun, responsável por produzir um eventos mais badalados da cena na cidade: a WoW!.
A festa ficou famosa ao trazer as estrelas internacionais de RuPaul’s Drag Race para se apresentar no mesmo palco dos talentos brasilienses e hoje vê pratas da casa tornando-se conhecidas mundialmente.
“Acredito que Brasília é uma das maiores potências em relação a arte. A gente como produtora quer é juntar todo mundo e mostrar pro universo o quão bonita ela é. As pessoas precisam entender que ser artista independente é muito difícil e a gente precisa de um giro financeiro pra poder manter. Além de estabilidades mental e emocional. Mas eu acredito demais nas minhas e na nossa família”, frisa a realizadora cultural, que diz ser chamada de “mãe” por muitas artistas locais.
O protesto de Nana por espaço e reconhecimento é válido. Em julho deste ano, a Victoria Haus, uma dos espaços LGBTQIA+ mais e tradicionais do DF, fechou as portas definitivamente após 12 anos de existência. A notícia, é claro, entristeceu produtores e artistas, mas não paralisou o movimento. “Antes de a Vic fechar já existiam espaços também fomentando a arte drag como o Velvet, Birosca no Conic e o Vale, no Pólo de Modas do Guará 2”, cita.
Espetáculo midiático
Buscar novas residências ou aproveitar a exposição que a TV pode trazer não são as únicas alternativas encontradas pelas queens brasilieses. “Durante e pós-pandemia vários locais que fomentaram arte drag de alguma forma, fecharam por suas razões, mas lembro da frase ‘a única constante é a mudança’. E, diante isso, nos resta buscar novos espaços e possibilidades pra continuar entretendo, isso que mantém a arte viva”, reflete Naomi Leakes, persona de Victor Ruan, natural de Ceilândia (DF).
Meses atrás, a artista chamou atenção de entusiastas da arte drag no Brasil e no mundo ao entregar uma performance emocionance ao som de músicas do álbum Renaissance, de Beyoncé. A apresentação também contou com participação das drags K-Halla, Elloa Negrinny e Adora Black, além de um grande cavalo cenográfico, como usado pela diva pop nos shows da atual turnê.
“Tenho como foco trazer possibilidade pra população negra LGBTQIAPN+ através da performance, música, beleza e arquétipos visuais. Comecei a fazer drag em casa, por necessidade de algo que fosse leve e pudesse explorar o criativo e emocional. Nem imaginava que seria o trabalho que faria pelos próximos anos, mas me encontrei profissionalmente e pessoalmente no processo”, salienta Naomi.
Com o número ainda minguado de espaços para se apresentar em Brasília, a performer tem feito temporadas em São Paulo, “para disseminar arte brasiliense por novos solos”, além de shows em festas, casamentos e eventos em geral. “Também sou DJ. Faço curadoria artística de festas, sou tarólogo, produzo perucas trançadas e muito mais. A arte me da muitas possibilidades”, diz.
“A adaptação tem acontecido, sim, drag já vem desse lugar né? Criar arte com a própria realidade. Estamos buscando acessar novas pessoas, espaços, e não só a noite, mas também de dia e no dia a dia. Espaços onde não somos tão vistas, ainda”, conclui.