Do fracasso ao Oscar: como Lady Gaga se reinventou após Artpop
A artista, vitoriosa na premiação desse domingo (24/2), volta ao topo da indústria pop
atualizado
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Em 2013, Lady Gaga lançou Artpop, um disco que tinha o tamanho da pretensão da Mother Monster àquele momento. A cantora queria, segundo suas próprias palavras, “revolucionar sua indústria”. O resultado não poderia ser mais diferente: turnês esvaziadas, críticas medianas e quase nenhum hit emplacado. Quase seis anos depois, a artista mudou o perfil da carreira e faturou o Oscar 2019 de Melhor Canção Original, por Shallow, de Nasce uma Estrela.
Gaga e seus little monsters podem até não concordar, mas Artpop parecia ter jogado a estrela num poço sem fundo. Depois de criar a Haus of Gaga e assumir o controle de todo o processo criativo de sua carreira, ela não conseguiu manter o status adquirido com The Fame (e o EP The Fame Monster) e Born This Way (2011). Porém, passo a passo, ela foi mudando o estilo e traçando o caminho que a levou à sonhada estatueta.
Da “estética do exagero”, com direito a uma exótica apresentação com vômito sobre as bailarinas, a artista entrou num processo de adequação à lógica da indústria. Já no ano seguinte, ela lançou Cheek to Cheek (2014), parceria com o ícone do jazz Tony Bennett. Aquela Gaga dos vestidos de carne foi dando espaço para uma diva que conquistava cliques em red carpets do mundo todo. A versão mais clean da popstar, inclusive, rendeu a indicação à Melhor Canção Original por Til It Happens to You, do documentário The Hunting Ground. A faixa perdeu para Writing’s On The Wall, de Sam Smith, para 007 Contra Spectre.
Musicalmente, ao lado de Tony Bennett, a cantora revelou um lado menos pop e adentrou o mundo do jazz. Cheek to Cheek faturou prêmios relevantes da indústria – por exemplo, o Grammy 2015 de Melhor Álbum Vocal Pop Tradicional – e críticas entusiasmadas da mídia norte-americana. Marcou a tentativa de a atriz escapar do fracasso representado pela “Era Artpop”.
21 de outubro de 2016 e veio Joanne: de repente, aquela artista cheia de “esquisitices” aparece com um chapéu rosa na capa do disco. Musicalmente, o pop inicia um flerte com o rock e o country – por sinal, certamente das 100 pessoas na sala, apenas Bradley Cooper teria enxergado Ally sendo desenhada naquele momento. A recepção da crítica (e do público, após o susto inicial) foi muito mais positiva, com menções favoráveis da Entertainment Weekly, Consequence of Sound, Rolling Stone e Pitchfork.
A retomada, então, ganhou ainda mais força com a confirmação da estrela no Show do Intervalo do Super Bowl de 2017. No palco, a cantora deixou clara a intenção de apagar Artpop de seu passado artístico: singles do disco foram ignorados da apresentação no NGR Stadium, em Houston. O espetáculo bateu todos os recordes de audiência, chegando à marca de 118 milhões de espectadores na televisão – somado com os números da internet, a marca chega a 150 milhões de visualizações.
O movimento crescente na carreira seguiu com o lançamento do documentário Gaga: Five Foot Two. A produção da Netflix, lançada em setembro de 2017, mostra os bastidores da trajetória da atriz e da gravação de Joanne. Na maioria do tempo, a fita adota um tom extremamente chapa-branca, sem explorar as escolhas ruins feitas pela própria Mother Monster, mas, em poucos momentos, lança um ar de humanidade na imagem pública de Gaga. Em destaque, as questões sobre a fibromialgia e a polêmica com Madonna. A boa acolhida do filme ajudou a estrela a superar a série de shows cancelados – como o do Rock in Rio.
Um pouco antes, no mês de abril, Gaga era uma das estrelas principais do Coachella – ocupando vaga aberta por Beyoncé, que desistiu da apresentação por conta da gravidez. A estrela aproveitou a chance, arrancando avaliações positivas. O L.A. Times, por exemplo, escreveu: “A popstar entregou uma performance complexa e emocionante… Era selvagem, controlada, engraçada, assustadora, terna e cheia de agressividade”. No evento, cenas de Nasce uma Estrela foram gravadas no meio do deserto californiano.
O longa, que rendeu à estrela um Oscar, estreou em outubro de 2018. Foi a quinta vez que a história do conflituoso amor entre uma aspirante a estrela e um decadente nome consagrado da indústria chegou às telonas. Nasce uma Estrela, entretanto, colocou Gaga novamente no topo da indústria pop. Shallow faturou a seguinte lista de prêmios, além da estatueta dourada: Globo de Ouro, Grammy de Melhor Canção Composta para o Cinema, Grammy de Melhor Performance de Duo Pop, Critics Choice Award de Melhor Canção, Música Original no Bafta. Em outras palavras, ganhou tudo o que podia.
Com sua estreia no cinema, Gaga – que já é dona de um Globo de Ouro pelo trabalho em American Horror Story – foi indicada à melhor atriz no Globo de Ouro, Oscar e Bafta. A boa fase ganhou a confirmação, nesse domingo (24/2), com a vitória e a impactante apresentação ao lado de Bradley Cooper.
A star is born… ? #Oscars pic.twitter.com/lh0HZ53XrD
— Channel 9 (@Channel9) February 25, 2019
Por fim, Gaga segue em sua residência na cidade de Las Vegas, na qual utiliza o alter ego Enigma.