Diretor de Som da Liberdade diz que ninguém queria atuar como pedófilo
Alejandro Monteverde afirmou ao Metrópoles que teve muita dificuldade para fechar o elenco do filme por conta dos personagens criminosos
atualizado
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Som da Liberdade estreou nos cinemas brasileiros nesta semana com a alcunha de ser um dos filmes mais polêmicos do ano. Ao abordar o tráfico sexual de crianças, o longa-metragem foi relacionado com pautas políticas, religiosas e conspiratórias.
Diretor da produção, Alejandro Monteverde conversou com o Metrópoles e revelou que teve dificuldade de montar o elenco para a produção por conta dos papéis pesados que precisavam ser vividos em cena: “Ninguém queria atuar como um pedófilo ou um traficante de crianças nesse filme.”
Segundo Monteverde, a maior parte das negativas foram de atores maduros. “Os mais experientes não queriam atuar nesses papéis porque acabam ficando marcados pelos personagens e eles não queriam chegar nesse ponto. Então, foi difícil”, pontuou.
O cineasta, inclusive, contou uma história inusitada que viveu com um “ator muito famoso e talentoso”, sem revelar o nome dele. “Teve um que queria muito trabalhar comigo em um filme. Eu chamei ele e disse que tinha um papel em Som da Liberdade. Ele ficou feliz pelo convite e disse que ia aceitar mesmo sem ler o roteiro, porque era uma grande chance de trabalhar comigo”, começou o diretor.
“Fiquei empolgado ter conseguido um grande ator para viver El Alacrán, um dos pedófilos do filme, e mandei o roteiro para ele. Dois dias depois ele me ligou reclamando que o personagem era um pedófilo e disse que não poderia mais atuar no filme. Eu entendi o lado dele. Isso aconteceu várias e várias vezes no processo”, afirmou Monteverde.
Com outros personagens que são pedófilos na produção, a dificuldade foi a mesma. “O ator que interpreta Buchanan [um dos pedófilos] foi para as gravações querendo viver o Vampiro [um ex-traficante bondoso]. Durante as filmagens, fiquei tentando convencê-lo a viver o personagem do pedófilo. Recebi várias negativas, e só consegui depois que expliquei que precisava de um grande ator nessa função para o filme funcionar”, relembrou o cineasta.
Desafios da produção
O diretor também disse ao Metrópoles que teve dificuldade em produzir Som da Liberdade: “Quando eu fui convidado para dirigir esse filme, acreditava que a primeira coisa a ser feita era muita pesquisa para entender mais sobre o tema. Parte dessa pesquisa era assistir filmes sobre o tráfico sexual de crianças e existem vários filmes sobre isso. A maior parte deles, não consegui terminar de ver porque eram muito pesados.”
Apesar disso, Monteverde encontrou uma motivação em meio aos absurdos que via nas outras produções. “Percebi que minha missão era fazer um filme que as pessoas conseguissem terminar de ver. Isso tornou as coisas muito difíceis, porque precisava explorar o tema de uma forma que as pessoas conseguissem curtir ele. Mas como curtir algo que é perturbador?”, questionou-se.
No fim das contas, o cineasta acredita que fez um bom trabalho. “Foram dois anos para escrever o roteiro e um grande desafio para criar beleza em um filme violento, com cenas horríveis. A beleza era o ponto principal para o público digerir o filme e, para minha surpresa, vários artistas falam que é uma produção que inspira, o que me deixou muito feliz”, conclui.