Dia do Tatuador: artistas brasilienses usam o corpo como tela
Profissionais da capital buscam inspiração e formação nas artes plásticas para produzir seus desenhos
atualizado
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Outrora rodeadas por preconceito e incompreensão, atualmente as tatuagens são vistas e estudadas como expressão artística. É cada vez maior o número de tatuadores graduados em artes plásticas no Brasil. Em Brasília, não é diferente. No Dia do Tatuador, comemorado nesta sexta-feira (20/7), o Metrópoles conversou com alguns profissionais brasilienses com formação acadêmica e que têm na pele a principal tela para expor suas obras.
Apesar de não ser um requisito para atuar na área, o estudo avançado acaba sendo um chamariz para os apaixonados por desenhos exclusivos no próprio corpo. É o que pensa Frederick Albuquerque Nascimento, o Lico – apelido dado pelo pai em homenagem ao jogador rubro-negro Lilico. Com mais de 25 anos de carreira na cidade, o tatuador viu na educação superior uma maneira de evolução e aprimoramento do traço. “Dentro do meu interior, sempre vi a tatuagem como uma arte. Com o amadurecimento e o passar dos anos, senti a necessidade pessoal de obter conhecimento”, afirma.
Lico já exercia a profissão há 17 anos quando decidiu ingressar na Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Segundo o artista, mesmo sendo experiente, o curso foi um divisor de águas em sua carreira. “Com certeza posso dizer que existe um antes e depois, não só técnico, mas na maneira como enxergo a tatuagem. Tive mestres que abriram a minha mente”, ressalta. Em seu estúdio, localizado no Centro Empresarial São Francisco (102 Sul), o tatuador coloca em prática a leitura visual. “Meu conceito de arte era resumido. Eu precisava entender como aqueles artistas criavam a sua postura poética”, explica o brasiliense.
O fato de a tatuagem deixar de ser vista com tanto preconceito, deve-se também a sofisticação do mercado. Assim como tantos tatuadores, Lico se livrou da obrigação de atender a todo tipo de pedido, tendo total liberdade para desenvolver seu próprio estilo, garantindo um público fiel à sua arte. “As pessoas que me procuram não chegam com nada pronto. Me dão a ideia e confiam no que vou criar. Isso é a tatuagem artística”, conclui.
Pioneiro na capital federal, Rogélio Santiago Paz Netto também é formado em artes plásticas. Mas, em sua trajetória, o artista plástico apareceu pouco antes do tatuador. Aos 57 anos, e com mais de 40 anos de tattoo, ele não vê diferenciação de valor entre body art e as demais expressões, como esculturas e pinturas.
O artista não concorda quando algumas pessoas chamam os tatuadores de artesãos, na tentativa de desmerecer o trabalho. “Tudo é arte. Mesmo quando um artesão reproduz uma escultura, ela nunca vai sair exatamente igual a anterior. É o mesmo caso do tatuador”, pondera o veterano.
A mais nova do grupo, Yasmin Borges começou a tatuar há três anos, após ter largado o curso de medicina. Passou seis meses como aprendiz em um estúdio, até sentir a necessidade de estudar artes plásticas. Mas o ofício não foi o único motivador.
“Na verdade, a tatuagem é um dos pilares de eu ter escolhido o curso. Lá, eu conheço vários outros artistas e isso acaba acrescentando. Abre caminho para expandir minha visão e possibilidades dentro da tattoo”, considera. “Tudo que aprendo, reflete na hora de criar, as formas, cores e outras linguagens”, conclui a jovem.