Da fama à fila dos R$ 600: auxílio emergencial foi pedido por 30 ex-BBBs
O reality show representa bem a realidade brasileira: enquanto uns ganham fortuna, outros tantos precisam ralar para garantir o sustento
atualizado
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No imaginário popular, o Big Brother Brasil é um atalho para a riqueza. Esse sonho se tornou realidade para algumas pessoas, como a atriz Grazi Massafera e a apresentadora Sabrina Sato. Mas a maioria das histórias dos ex-BBBs não tem esse desfecho.
Para cada Grazi ou Sabrina, há muitos ex-BBBs bem distantes da fama e do dinheiro. Prova disso? A quantidade de brothers que pediram o auxílio emergencial criado pelo governo federal para diminuir os efeitos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus e ajudar pessoas de baixa renda, trabalhadores autônomos ou informais e microempreendedores individuais (MEIs).
O benefício de R$ 600 por mês foi pedido por 30 ex-BBBs: um em cada 10 participantes do reality show, aproximadamente. Ao todo, a atração da TV Globo teve 320 pretendentes ao prêmio máximo, que era de R$ 1,5 milhão na última edição do programa.
O (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, cruzou a lista de ex-participantes do programa e dos beneficiários do auxílio emergencial para descobrir quem estava recebendo a contribuição do governo. Em seguida, a reportagem entrou em contato com todos para ouvir suas histórias e descartar eventuais casos de homônimos e fraudes.
Na galeria a seguir, você pode conferir todos os nomes, assim como a colocação na edição da qual cada pessoa participou.
“Tenho uma vida normal como 99% dos brasileiros”
Eliane Kheirredine, conhecida como Lia Khey, participou da décima edição do programa e está na lista de beneficiados. Depois de sair da casa, a ex-sister estudou na Escola de Atores Wolfmaya. “No Brasil, é muito difícil se manter trabalhando apenas como ator, a profissão não tem um fluxo de trabalho constante. Por isso, também faço bico em produção de eventos — carrego até caixa se for preciso. Mas o mercado de festas e shows também acabou sendo atingido durante a pandemia. Estou desempregada há uns quatro meses”, contou.
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Segundo a atriz, ela precisou pedir o benefício por necessidade. Seu pai, um idoso de 82 anos, se inscreveu primeiro no programa do governo federal, mas teve a requisição rejeitada. “Decidi solicitar também para poder ajudá-lo. Achei bacana a possibilidade de receber o auxílio”, explicou. O dinheiro, entretanto, não foi suficiente para fechar o orçamento do mês. Para cortar gastos, ela entregou o apartamento onde morava em São Paulo e passou a dividir aluguel com mais dois amigos em uma cidade no litoral paulista.
“Aqueles trabalhos que conseguia por ser ex-BBB não existem mais, e eu não faço publipost porque não juntei seguidores suficientes. Tenho vida normal como 99% dos cidadãos brasileiros, que penam para conquistar o básico. Além disso, esses R$ 600 reais vêm dos nossos impostos”, continuou.
Ainda segundo Lia, muita gente se beneficiou do programa do governo sem precisar. Mas não é o caso dela. “Eu não sou fruto da fama, participei do reality show há 10 anos. Na época do BBB, tive oportunidades muito bacanas, mas isso faz muito tempo”, concluiu.
Analice de Souza, a primeira eliminada do BBB 12, acredita que a porcentagem alta dos ex-brothers necessitando do auxílio reflete a realidade social do país. Quando a empresária entrou no reality show, ela já tinha um bar em Belo Horizonte, o Oliver Art Bar. Após ser eliminada da casa, ela voltou a gerenciar o estabelecimento. Mas, com a pandemia, precisou fechar o local.
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“Meu negócio já não andava muito bem das pernas, estava complicado. Durante a pandemia, tentei entregar as comidas via delivery, mas não deu muito certo. Com o passar do tempo, percebi que a situação econômica ia demorar para melhorar, então optei por fechá-lo, porque não tinha como segurar as pontas”, revelou.
Quando as regras do auxílio emergencial saíram, Analice já havia encerrado as atividades do Oliver. Ela decidiu recorrer ao programa federal e recebeu o sinal verde do governo. “É minha única renda no momento. Existe uma ilusão muito grande do BBB. A maioria das pessoas que passou pelo programa voltou para o anonimato e enfrenta perrengues como todo mundo”, concluiu.
Da vitória ao auxílio emergencial
Nem mesmo a vitória no programa garante uma vida fácil dali em diante. Dois vencedores do BBB estão entre os beneficiários do auxílio emergencial. Gecilda da Silva Santos, nacionalmente conhecida como Cida, ficou em primeiro no BBB4, levando o prêmio de R$ 500 mil.
Ao ser questionada sobre o pedido do auxílio, a ex-BBB pontuou que não ia comentar o assunto. Porém, em recentes entrevistas, disse ter perdido o dinheiro conquistado no fim da atração. Cida é casada com um motoboy – o casal alega receber renda de R$ 1,5 mil.
Vencedor da edição de 2002 do BBB, Rodrigo Fraga Leonel, o “Cowboy”, respondeu, por meio da assessoria de imprensa: “Não é fraude”. Questionado sobre se o pedido realmente foi feito por ele, a reportagem não obteve respostas.
Fraudes
Entre os nomes usados em fraudes, estão os de três ex-BBBs presentes na 20ª edição, deste ano. Daniel Lenhardt, Flayslane da Silva e Ivy Barbosa. Eles negaram ter realizado o pedido e disseram ser vítimas de golpes: “Daniel está completamente capacitado para receber o auxílio, pois atende a todos os quesitos. Mas não sabemos como seu nome se encontra nesta lista, porque ele não solicitou o benefício. Como o dinheiro não foi depositado, acionamos a Caixa Econômica, e a questão já está resolvida”, disse a assessoria de imprensa do rapaz.
Flayslane não respondeu à reportagem, mas publicou postagem sobre o assunto em suas redes sociais. Na legenda, diz não saber como seu nome parou no cadastro de beneficiários. De acordo com os dados do Ministério da Cidadania, o pedido foi feito tendo a mãe de Flay como responsável.
Décima quinta eliminada da histórica edição do BBB20, Ivy Moraes também se diz alvo de fraude. “Ela não fez a retirada e acredita ter sido vítima do golpe/fraude”, comentou a assessora de imprensa da artista, Alessandra Câmara.
Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, Isabella Cecchi participou da edição 19 do Big Brother Brasil, onde foi a sexta eliminada da atração. Segundo a assessoria da ex-BBB, ela não pleiteou o benefício: “Isabella é vítima de uma fraude, usaram o CPF dela e já tomamos todas as medidas cabíveis”.
Franciele Primo de Almeida participou do Big Brother Brasil 14. A gaúcha conheceu Diego Grossi dentro da casa, e os dois se casaram após saírem do reality show. A assessoria de imprensa da sister afirmou que ela, atualmente, usa o sobrenome do marido, mas negou a solicitação da ajuda emergencial de R$ 600. No Instagram, ela é sócia na empresa The Captain e faz publieditorais.
Famosa pela participação no BBB19, Hana Khalil Carvalho Cavalcanti de Albuquerque, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou o recebimento do auxílio, mas nega ter solicitado o dinheiro. “Assim que ela descobriu como poderia devolvê-lo, o fez de pronto”, salienta a nota enviada ao Metrópoles.
Hana aproveitou a repercussão do caso e publicou um vídeo na função stories, do Instagram, para explicar o ocorrido aos fãs. Na ocasião, a digital influencer convidou duas advogadas para tirar dúvidas dos seguidores sobre o auxílio do governo.
Respostas rápidas
Nem todos os entrevistados reagiram bem ao serem procurados pela reportagem. A assessoria de imprensa de Marcos Antonio Caruso Júnior, o Caruso, 9º eliminado do BBB 2018, ameaçou processar o Metrópoles caso a matéria fosse publicada. A assessora alegou não ter autorização para confirmar dados pessoais do cliente, mas disse que ele “está sempre dentro da lei, e é isso o que importa”.
Segundo a Receita Federal, Caruso é dono de uma microempresa – ou seja, tem faturamento anual de R$ 360 mil e, portanto, estaria inapto a receber o auxílio de R$ 600. O empreendimento de publicidade e marketing leva o nome do ex-BBB.
O professor de Educação Física Giulliano Ciarelli, ex-participante do BBB5, confirmou à reportagem que pediu o auxílio emergencial. Por conta da pandemia, perdeu seus clientes e precisou da ajuda. Ele também ameaçou a reportagem de processo. “Não é porque participei de um programa há 15 anos que vocês têm direito de me julgar. Eu exijo respeito”, disse.
Ex-integrante do elenco do BBB14, Jakeline Leal Lucena não respondeu aos questionamentos da reportagem. A assessoria da artista argumentou que a sister passa por problemas pessoais e, por isso, não poderia ser incomodada. Já Solange Cristina Couto Maria, a Sol Vega, visualizou a mensagem, mas não respondeu. Ela foi a 11ª eliminada do BBB de 2004.
Não Responderam
Procurados, Manoela Latini Gavassi Francisno (Manu Gavassi – BBB 2020), Marcos Aurélio Viegas de Carvalho (BBB 2018), Maria Nilza Viana dos Santos (Mara – vencedora do BBB 2006), Marien dos Reis y Carretero (BBB 2013), Tamires Peloso Peixoto (Desistente do BBB 2015) e Vanessa Cristina Soares Dias (Tina – BBB 2002) não retornaram o contato.
A reportagem do Metrópoles também não recebeu respostas de Alan Possamais Barbosa (BBB19), Ana Paula Costa Agustinho (BBB18), Bruna Maria Tavares (BBB7), Fernando Carlos de Medeiros (BBB15) e Luan Patrício dos Santos Rosa, do BBB15.
Sem contato
A reportagem não conseguiu contato com Uilliam Cardoso Carvalho, conhecido como Uil, o quinto eliminado do BBB 2010. Ele é dono de uma microempresa (e, portanto, estaria inapto a receber o auxílio de R$ 600) especializada em artes cênicas, espetáculos e produção teatral.