Crítica: Sophie Charlotte brilha como Gal Costa em Meu Nome é Gal
Escolha do elenco é um dos pontos fortes do filme de Dandara Ferreira e Lô Politi que chega nesta quinta-feira (12/10) nos cinemas
atualizado
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Quase um ano após a partida inesperada de Gal Costa, fãs terão a oportunidade de conhecer mais sobre a trajetória da artista, uma das mais importantes da Música Popular Brasileira, com o filme Meu Nome é Gal, protagonizado por Sophie Charlotte. A produção de Dandara Ferreira e Lô Politi teve sua pré-estreia na semana passada no Festival de Cinema do Rio e chega aos cinemas do país nesta quinta-feira (12/10) sob grande expectativa.
Ao longo de 120 minutos, o espectador acompanha os primeiros anos de carreira de Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gracinha, como a cantora era chamada pela mãe Mariah, o momento em que ela se muda para São Paulo e se junta aos companheiros de vida Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Dedé Gadelha, Tom Zé, entre outros artistas que fizeram a Tropicália.
Mais que resgatar eventos importantes da carreira de Gal, o longa mergulha na personalidade marcante e ao mesmo tempo discreta de Gal Costa, que sempre manteve a vida pessoal longe dos holofotes. Sophie Charlotte encarna uma Gal Costa insegura, tímida e focada, gradualmente consciente sobre a importância de usar sua voz para denunciar as mazelas da época, marcada pela repressão da ditadura militar.
Em Meu Nome é Gal, essa jornada de autoconhecimento da cantora aparece vinculada ao exílio de Caetano e Gilberto Gil, em 1968, também retratado pelo filme.
Um dos pontos altos de Meu Nome é Gal é a escolha dos atores do elenco principal, com destaque para Rodrigo Lellis, intérprete Caetano Veloso, e a diretora Dandara Ferreira, que faz aparições modestas como Maria Bethânia, ambos com caracterizações impecáveis e que dispensam qualquer apresentação ao público.
Outro acerto do filme foi a escalação de Sophie. Mais que uma atriz talentosa, ela emociona ao se apropriar da voz aguda e do sotaque baiano arrastado de Gal, tanto nos diálogos quanto nas performances musicais. Esse esforço da protagonista, somado à reprodução de figurinos icônicos de Gal Costa, emocionam e convencem o espectador.
Intimidade preservada
Quem espera conhecer mais sobre a intimidade de Gal Costa pode se decepcionar quando fotos recentes da cantora aparecem em meio a uma cena do show Fatal, de 1971, e os créditos começam a subir. É que a produção mantém um ritmo intenso, interrompido por um final abrupto que ocorre ainda nos primeiros anos da carreira da cantora — uma escolha arriscada de Dandara e Lô, mas acertada.
A impressão que fica é de que o longa se propôs a contar a história do nascimento de Gal Costa como a grande cantora brasileira que foi, sem expor a intimidade que a artista fez questão de preservar em vida.
Esse cuidado fica claro para quem conhece os rumores de que Gal Costa e Maria Bethânia tiveram um envolvimento no passado, o que nunca foi confirmado pelas duas artistas. No filme, a relação entre Gal e a irmã de Caetano é retratada de modo sugestiva, mas mantém o mistério que permeia a história.
Fica claro que o objetivo de Meu Nome é Gal é homenagear esse grande nome da música e mostrar como ela se tornou também uma das personalidades mais conscientes politicamente e influentes desta geração. Uma narrativa importante sobretudo em um momento em que a mídia especula quem serão as próximas Gals, Caetanos e Gils: é preciso saber que não basta cantar.
Avaliação: Ótimo