Coronavírus provoca crise e instabilidade na indústria cultural
Após o Covid-19 ser classificado como pandemia mundial, shows, estreias de filmes e gravações de programas televisivos foram cancelados
atualizado
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Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou como pandemia o avanço do novo coronavírus — presente em mais de 86 países —, várias medidas vem sendo adotadas para que a doença, com grande capacidade de contágio, não se alastre ainda mais. No Brasil, as medidas de segurança recomendadas pelo Ministério da Saúde, como evitar a aglomeração de pessoas, têm causado grande impacto na indústria cultural.
Mesmo antes de o governador Ibaneis Rocha (MDB), suspender a realização de eventos e shows no Distrito Federal, que exijam licença do Poder Público, com plateia superior a cem pessoas, vários artistas já haviam cancelado ou adiado suas apresentações em Brasília. A banda britânica McFly, o quarteto Il Divo e o digital influencer Carlinhos Maia são alguns deles.
Produtor cultural responsável por trazer cantores nacionais e internacionais à capital federal, João Felipe Maione afirma nunca ter visto na indústria do entretenimento algo que pudesse gerar tanto prejuízo. “São incalculáveis e não digo apenas às produtoras, mas também se estende a milhares de empregos diretos e indiretos que o entretenimento gera”, considera. Segundo ele, um show de médio porte chega a promover quase 2 mil empregos.
Maione alerta, ainda, para a quantidade desproporcional de eventos que foram remarcados. “Com certeza, teremos diversos eventos sendo realizados em datas muito próximas, quando não no mesmo dia, o que não é saudável para o mercado, do ponto de vista do produtor e dos colaboradores, nem ideal para os clientes”, explica.
Apesar das perdas, o produtor tem plena consciência que a medida de segurança é a melhor atitude a ser tomada. “Em nome dos produtores de eventos, faço apenas um apelo, caso você tenha convite de algum show, não peça de prontidão o cancelamento. Aguarde um pouco, estamos nos esforçando ao máximo de modo a adiar para uma data onde seja seguro para todos. E caso o evento seja cancelado, o dinheiro será 100% reembolsado, podem ficar tranquilos”, considera.
O efeito foi sentido em âmbito nacional e internacional. O Lollapalooza Brasil, previsto para abril, precisou ser adiado para os dias 4, 5 e 6 de dezembro. Os tradicionais Coachella, que neste ano contaria com Anitta e Pabllo Vittar, realizado nos Estados Unidos e o Glastonbury, na Inglaterra, precisaram mudar de data devido a pandemia de coronavírus.
Espaço relevante da cultura do Distrito Federal, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental) foi gravemente abalado pela crise de saúde mundial. Segundo Marcos Cumagai, consultor geral do consórcio Capital DF, a agenda de feiras, convenções, reuniões, shows e espetáculos dos próximos dois meses já foi cancelada ou adiada para o segundo semestre.
“Os prejuízos ao setor como um todo é devastador, bem como entendemos que as medidas emergenciais serão tomadas pelo Governo do Distrito Federal. Medidas estruturantes e para a recuperação demandam tempo, pois precisam ser planejadas em beneficio de toda a cadeia do setor”, analisa o consultor.
Televisão
As mudanças na programação das gigantes da televisão brasileira, também pegaram muitos espectadores de surpresa. Pela primeira vez em 50 anos, a emissora carioca deixará de transmitir a novela das 21h. Por conta do coronavírus, as gravações de Amor de Mãe foram interrompidas na última segunda-feira (16/3). Assim como os folhetins Salve-se Quem Puder, das 19h. No lugar, o público vai assistir reprises de antigos sucessos da dramaturgia global.
Regina Casé, uma das protagonistas de Amor de Mãe, usou as redes sociais para tranquilizar os fãs. “É impossível contar histórias como essas sem muito beijo, abraço… a empresa visou não apenas cuidar da nossa saúde – nós atores e milhares de funcionários que colocam essa história no ar. Essa é uma decisão de responsabilidade social. Nós temos que dar o exemplo: Não saia de casa. Se você, como eu, trabalha num lugar que te dispensou, fique em casa”, disse em vídeo.
No mesmo dia, a Record também informou que iria adotar mudanças em sua grade de programação e cancelar alguns programas por conta da pandemia de coronavírus. Mais cedo, a emissora já havia informado o afastamento de Geraldo Luís. A última a aderir as recomendações da OMS foi o SBT. Na terça (17/03), a emissora informou, por meio de nota à imprensa, que restringirá de forma, ainda mais rigorosa, a circulação de pessoas em suas dependências.
Desta forma, as gravações da novela As Aventuras de Poliana foram suspensas. As atrações de grade do SBT também sairão do ar a partir da próxima segunda-feira (23/03). Segundo o comunicado, o departamento de jornalismo e o programa Fofocalizando permanecerão informando e prestando serviços à população. “Esperamos retomar com as gravações dos programas e novela tão logo a pandemia seja controlada”, afirma o canal.
Cinema, museus e afins…
Espaços como museus e coletivos culturais também estão sendo afetados. Desde o decreto do GDF, o Museu Nacional da República e o CCBB Brasília seguem fechados. O cinema brasileiro também está sentindo os efeitos da pandemia. Filmes, com previsão de estreia para o final de março e início de abril no circuito comercial, já adiaram as datas de lançamento. A exemplo, os longas-metragens sobre o julgamento do caso Richthofen, A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais, de Ilana Casoy e Raphael Montes, e Três Verões, com Regina Casé no elenco e direção de Sandra Kogut.
“A saúde e o bem-estar do público são prioritários para a Galeria Distribuidora e a Santa Rita Filmes. Por esta razão, o lançamento dos filmes sobre o caso Von Richthofen, será adiado pela pandemia de Coronavírus (Covid-19), decretada pela Organização Mundial da Saúde”, disse comunicado das empresas responsáveis pelos filmes sobre o crime pelo qual Suzane Von Richthofen foi condenada há mais de 30 anos de prisão.