Conheça Daniel Monteiro, o Divo das Libras do show do The Cure
Durante o show do The Cure, no Primavera Sound, Daniel Monteiro viralizou com suas expressões e ficou conhecido como Divo das Libras
atualizado
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O palco do Primavera Sounds era do The Cure, mas quem brilhou foi Daniel Monteiro. O tradutor de libras, que apresentava a letra das canções para o público, viralizou com as suas expressivas reações e ficou conhecido como o Divo das Libras. Em entrevista ao Metrópoles, o rapaz contou que ficou surpreso com o sucesso na internet.
“Costumo dizer que sou um ser em metamorfose. Eu sempre fui intenso, ligado no 220 volts, então eu não consigo ficar parado. A toda hora faço algo novo ou mudo alguma coisa. Sou muito observador e dizem até que tenho um olhar enigmático. Mas sou uma pessoa que gosta de experimentar”, declarou.
Daniel trabalha na All Dub, tem 37 anos e é natural do Rio de Janeiro. Ele é formado em tradução e interpretação de Libras/Português pela UFRJ e já dividiu o telão com nomes como Maria Bethânia, Caetano, Gilberto Gil, Joelma, Seu Jorge, Emicida, entre muitos outros.
Daniel contou que sempre espera que as pessoas vibrem com a sua “interpretação”. “Meu trabalho como tradutor de Libras é levar acessibilidade de uma forma que todos possam aproveitar, sejam surdos ou não-surdos. Quero que todos vibrem e se envolvam nesse momento em suas diferenças e vontades”, descreveu.
Revelando que não busca “encarnar” um personagem na tradução, o rapaz define o seu trabalho é “um caminho muito bonito e sedutor”. “Sou uma pessoa que consegue se comunicar pelo corpo e mãos em performances distintas, porém bastante singulares. Gosto de mostrar por meio das sensações do meu corpo o que a música entrega em forma de melodias e letras”, disse.
Sobre as letras da música de The Cure, com a qual viralizou, Daniel conta que aproveita essas situações para mostrar ainda mais movimentações. “E vejo que as músicas góticas me deixam bem à vontade para explorar em mim pulsões de vida e morte ao mesmo tempo que na tradução permeia vivências e gostos particulares de quem assiste ao que faço durante a minha performance”, relatou.
Repercussão do vídeo
Após a apresentação, o vídeo de Daniel Monteiro passou a receber diversos comentários nas redes sociais e passou a viralizar. O profissional explicou que ficou “muito surpreso” com toda a repercussão. “Eu nunca imaginei ‘viralizar’ nas redes assim, sabe. É algo que me deixa muito feliz e realizado profissionalmente”, contou.
Ele contou que ficou emocionado ao perceber que diversas pessoas diferentes, surdo ou não, puderam conhecer o seu trabalho. “Ver pessoas de diversos lugares, histórias, caminhos, que puderam, através do show do The Cure, conhecer um pouco do meu trabalho como tradutor de Libras. Fico muito emocionado e grato pelo carinho de todos que puderam através de mim curtir de forma diferente o show dessa banda incrível”, pontuou.
Daniel ainda avalia a repercussão de seu vídeo como uma “virada de chave para a acessibilidade” e que muitas pessoas poderão acompanhar o show de maneira completa. “Creio que os festivais vão perceber a importância de ter intérpretes de Libras para tornar a programação mais acessível e fomentar a inclusão e a participação de surdos nos diversos festivais e shows”, disse.
O tradutor ainda aproveitou para fazer uma reflexão sobre a cena do metal, rock e afins com a inclusão de libras. “Ainda é uma barreira para inclusão de Libras. Eu acredito que o olhar sobre isso irá mudar, pois deixa realmente o festival mais vivo e apaixonante em se viver e aproveitar a cada instante”, completou.
Apaixonado pelo The Cure?
A atuação de Daniel Monteiro na tradução levantou outro questionamento sobre o show no Primavera Sound: com tamanha dedicação, ele é fã do The Cure? O rapaz rasgou elogios ao grupo.
“Eu amo The Cure! Para mim, é a melhor banda gótica já vista, ouvida, sinalizada desse mundo! Como um amante da cultura gótica, foi e ainda é uma honra ter traduzido para Libras o show dessa banda incrível! E falando em tradução, ou melhor, falando em performances musicais em Libras, é algo que gosto muito de fazer”, se emocionou.
Entretanto, o amor pela banda e o consumo das músicas são apenas uma das vertentes que o profissional utiliza para entregar o melhor para os fãs. Há ainda muito estudo para traduzir o que a banda canta da melhor maneira possível.
“Quanto ao meu processo, eu geralmente estudo as letras, assisto a shows da banda e começo a mergulhar no mundo do artista para saber qual o sentido do que ele expõe ou o que deseja também não revelar em seu show. Com base nisso, faço a tradução do sentido da música, que em Libras se torna corpo, mão e imagens”, completou.
Por fim, ele explicou que ama interpretar ideias góticas, como as músicas do The Cure. “Gosto de performar, pois vejo que isso traz, em minhas expressões, as nuances e vivências que a música quer passar ao público. E ser o primeiro a fazer isso é de uma alegria fascinante. Interpretar ideias góticas para formas visuais é lindo e apaixonante”, encerrou.