Como “booktoker” fez clássicos brasileiros virarem ícones da geração Z

A influência do TikTok nos interesses e gostos dos consumidores ganha cada vez mais destaque, alcançando as artes e a literatura. Os famosos “edits” da rede social, por exemplo, fizeram crescer o interesse pelo cinema nacional.

No mundo dos livros — ou BookTok, para quem é da geração Z — não é diferente: o escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908) tornou-se um dos principais ícones do BookTok após uma influenciadora americana detalhar como sua vida mudou após a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra de 1881.

De tão inovadora, a empreitada da escritora Courtney Henning Novak ampliou o interesse nas obras de Assis, inclusive entre os mais jovens, que abandonaram romances atuais ou ficções-científicas pelo clássico autor.

Como tudo começou?

Mas, afinal de contas, como um autor brasileiro morto há 116 anos viralizou nas redes sociais em pleno 2024? Tudo começou após Courtney iniciar um projeto pessoal onde se propôs a ler um livro de cada lugar do mundo, seguindo a ordem alfabética da lista de países.

“Preciso ter uma conversa com o pessoal do Brasil. Por que não me avisaram antes que este é o melhor livro já escrito? O que vou fazer do resto da minha vida depois que terminá-lo?”, questionou a americana ao falar sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas.

@courtneyhenningnovak I have a hundred pages left of The Posthumous Memoirs of Bras Cubas by Machado de Assis and this is already my favorite book. End of discussion. I do not care if the last hundred pages is just the word “banana” printed 10,000 times. Best. Book. EVER. #readaroundtheworld #booktok ♬ original sound – Courtney Henning Novak

O que Courtney não imaginava era que seu vídeo falando sobre o escritor brasileiro, atualmente com mais 1,3 milhão de visualizações, despertasse o desejo dos mais jovens de conhecer Machado de Assis.

A obra superou em vendas títulos como O Amor Nos Tempos do Cólera, do colombiano Gabriel García Márquez, e Os Detetives Selvagens, do chileno Roberto Bolaño, na Amazon dos Estados Unidos, na categoria latino-americana e caribenha.

No Brasil não foi diferente: o box Biblioteca Machado de Assis – Volume 1, entre outros produtos do escritor, elencaram a lista de obras mais vendidas da plataforma de vendas e desbancaram publicações de Colleen Hoover, responsável pelo sucesso É Assim que Acaba.

E não para por aí…

E é claro que os brasileiros não deixariam Courtney sair do Brasil sem conhecer um dos maiores motivos de divergência entre leitores. Afinal de contas, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Isso mesmo, a influenciadora mergulhou no mistério em torno de Dom Casmurro, outro livro de Assis.

“Brasil, Capitu traiu ou não? Sei que é um debate e que as pessoas se dividem em ambos os lados. Não li nenhuma crítica, não pesquisei sobre e essa é a minha opinião inicial: Capitu não traiu”, esclareceu.

Para além de Courtney, criadores de conteúdo que indicam livros ao público, trazendo listas das mais variadas para quem deseja conhecer clássicos, nacionais ou não, têm se multiplicado nas redes sociais.

A influencer Elaine França, por exemplo, dona da página @leiturasfascinantes, indicou recentemente aos seguidores Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski; A Metamorfose, de Franz Kafka; Romeu e Julieta e Hamlet, de William Shakespeare; A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói; e A Revolução dos Bichos, de George Orwell.

No escopo dos nacionais, se destacam O Navio Negreiro, de Castro Alves; A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas; Menino de Engenho, de José Lins do Rego; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior; entre outros.

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