Cobra Kai e mais: entenda como a Netflix tem salvado filmes e séries
O Metrópoles foi atrás de especialistas para entender como o streaming tem resgatado alguns títulos e os transformado em verdadeiros hits
atualizado
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Renovada para a terceira e quarta temporada, Cobra Kai se tornou um dos grandes sucessos no país nas últimas semanas. Lançada em maio de 2018 no serviço premium do YouTube, a série sequência do clássico Karatê Kid se popularizou ao ser disponibilizada pela Netflix, que comprou seus direitos em 2019.
O fenômeno, no entanto, não foi ao acaso e vai de encontro com uma estratégia antiga da principal plataforma de streaming: resgatar títulos cancelados ou até então “escondidos” em outros serviços. Nos últimos anos, vimos produções como Lúcifer, The Killing e Designated Survivor serem resgatadas.
“Parece existir um vínculo dos streamings, em especial da Netflix, com o nostálgico. A Netflix, está se tornando, de fato, uma grande plataforma que lida com elementos saudosistas, desde Stranger Things. Isso tem se tornado um grande produto. Uma estratégia de comprar e dar um boom nessas obras”, explica José Ricardo Miranda, professor do curso de Cinema e Audiovisual do Centro Universitário UNA.
Até então “desconhecida” do grande público, Cobra Kai estreou na Netflix em 28 de agosto e rapidamente entrou para a lista de produções mais assistidas da plataforma. Antes do YouTube Red, a série conta com duas temporadas, mas já teve sua sequência confirmada para janeiro de 2021.
Outra produção, que fracassou na bilheteria, mas esteve entre os títulos mais assistidos da Netflix nas últimas semanas foi Blade Runner 2049. O longa do diretor Denis Villeneuve, de 2017, arrecadou apenas US$ 259,2 milhões nos cinemas – a trama continua a história de Blade Runner, clássico de 1982.
“Lembra o fenômeno das locadoras ou de filmes que tiveram sucesso em países específicos. O que esses canais de streaming tem feito é facilitar a distribuição para um público que já é pagante, e certamente esse produto vai ser ‘bem aceito’ pelos assinantes. O Blade Runner foi um filme que teve problemas na época e acabou ganhando um status “cult” com o passar do tempo – algo parecido com este novo título”, analisa o professor.
No entanto, o especialista acredita que o sucesso de títulos esquecidos deve influenciar em projetos complementares. “Acho que a dinâmica dos streamings vai estar cada vez mais conciliada com as das salas de cinemas, seja pensando em Oscar ou em distribuição, especialmente se o estúdio tiver seu próprio streaming, o que se acelerou com a pandemia”, completa José Ricardo Miranda.
Streamings no Oscar
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas revogou a regra que obrigava os filmes a ficarem em exibição por sete dias nos cinemas. Com isso, longas que estrearam no streaming, em serviços on demand ou drive-in poderão concorrer ao Oscar 2021.
Para o professor do Departamento de Cinema da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Franco, o streaming deve ganhar ainda mais protagonismo. “Corremos o risco de ver a exibição cinematográfica se tornar uma janela acessória do streaming, com os filmes sendo lançados simultaneamente nas duas mídias. Me parece que o resultado da pandemia será a consolidação do streaming como principal janela e financiador da produção audiovisual”, conclui.