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Circos clássicos mantêm a tradição viva no DF: saiba onde achar

Atravessando gerações, os circos possuem uma tradição centenária que passa de pai para filho e mostra resistência em tempos tecnológicos

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“Minha vida é o circo. Se eu parar de trabalhar, acho que eu morro, não é não?” A frase é de Ivan Portugal, conhecido como palhaço Formiguinha. Aos 83 anos, ele é, segundo a sobrinha, o mais velho em atividade nos picadeiros que passeiam Brasil afora e apresenta uma arte centenária que atravessa gerações. 

Ivan faz parte do elenco do circo Real Português, que está montado no estacionamento do estádio Serejão, em Taguatinga. Ele faz parte da terceira geração do empreendimento familiar criado há 160 anos pelo avô dele, Antônio, um português que resolveu trabalhar com essa arte no Brasil. Ao Metrópoles, ele conta que o picadeiro é sua vida e que aprendeu tudo o que sabe com o pai. 

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Circo Real Português
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“Meu pai nos ensinou a fazer, todos nós. Meu pai fez tudo em circo, mexeu com cavalo, trabalhava com cachorro. Ele foi um verdadeiro artista circense, porque nasceu nisso aqui. É a única coisa que a gente tem de valor, é uma escola.”

No contraponto, a pequena Iasmin, de 14 anos, faz parte da quinta geração da família a trabalhar sob a lona. Ela começou a aprender a arte circense aos 4 anos, e hoje é contorcionista.

“O circo é assim, ele vai passando de pai para filho”, comenta a mãe da menina, Joici Portugal, de 38 anos, que cuida da parte burocrática da atração, além de se apresentar como trapezista e mágica.

Atualmente, 30 pessoas mantêm o Real Português em funcionamento, sendo que 14 delas se dividem entre diferentes atividades no espetáculo, que inclui apresentações acrobáticas, mágicas, animais mecânicos e até um King Kong de 11 metros de altura. “A gente trouxe um pouco de tecnologia para dentro do picadeiro, porque temos que nos adaptar todos os dias.”

foto colorida de mulher brincando com elefante mecânico - metrópoles
Circo Real Português conta com animais mecânicos

Seis gerações, diversos circos

Quem também nasceu e cresceu em uma família circense é Kamylla Astros, de 27 anos. A acrobata faz parte do elenco do circo Astros, que se despediu de Águas Claras neste fim de semana e estreia em Sobradinho no próximo dia 29. 

O empreendimento pertence ao pai dela e está em atividade há 10 anos, mas vem de uma história na qual ela representa a sexta geração. Ao todo, ela divide as vivências diárias e os desafios com outras 29 pessoas, que entregam um espetáculo cheio de tradição, com toques que vão além do comum. 

“Nós misturamos acrobatas, trapezistas, mágicos, equilibristas, malabaristas, palhaços e temos também o palhaço mexicano, que é sucesso por onde passa”, explica Kamylla. 

“O circo chega onde ninguém mais chega”

Mesmo com o encanto e a diversão entregue ao palco, a vida de quem trabalha no circo não é fácil. Dependendo exclusivamente do dinheiro arrecadado nas apresentações, as equipes enfrentam o desafio de terem uma arte desvalorizada.

“Infelizmente as pessoas não dão tanto valor a este trabalho árduo, que vai desde a mudança [de uma cidade para outra] até a montagem da estrutura. A publicidade para divulgar que chegamos, os espetáculos, são muitas funções executadas em pouco tempo”, avalia Kamylla Astros.

Joici Portugal chama a atenção para a falta de subsídios aos artistas. “Nós lutamos muito para que a cultura circense seja mais reconhecida, para que receba mais apoio, porque a gente batalha tanto para manter essa arte viva e eu acho que, se não fosse o amor que a gente sente, talvez nem existisse mais. Você não vê um investimento no circo tradicional, de lona, que vem de tradição.”

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Representantes da nova geração, Joici e Kamylla concordam com a importância que essa vertente tem para a cultura popular. A acrobata aponta, ainda, que “o circo abriu e ainda abre portas para todas as artes”, e lembra que é um tipo de entretenimento que circula por todo o país, carregando todos os equipamentos necessários para realizar as apresentações, da lona ao nariz de palhaço. 

“O circo chega onde ninguém mais chega. Seja em uma tribo indígena, uma cidade de 5 mil habitantes ou uma capital. Andamos pelo Brasil levando arte e cultura por um preço acessível”, defende Kamylla. 

Para Joici, “o circo é a mãe de todas as artes”. Ela enfatiza que, apesar da preocupação com o futuro, todos fazem o que podem para manter as tradições. “A gente tem muito medo de que algum dia essa arte se acabe, por isso que somos tradicionais de circo, que carregamos esse amor dos nossos pais, dos nossos avós… A gente faz de tudo para não acabar.”

A lona é a casa do palhaço 

Ao Metrópoles os trabalhadores circenses detalharam como funciona o dia a dia dentro e fora do picadeiro, desde horas  estacionados próximos à lona montada, como viagens pelas rodovias do país. 

Normalmente, o transporte dos equipamentos é feito com carretas, enquanto o elenco viaja em motorhomes e trailers. É nesses espaços que eles moram todos os dias do ano, e também onde cozinham, tomam banho e dormem. 

A ideia da logística de viagem é sempre facilitar a vida dos artistas, que costumam viajar pelas cidades interioranas até chegarem às capitais dos grandes estados. No Distrito Federal, aproveitam para passear em diferentes Regiões Administrativas. 

O valor dos ingressos também pode mudar de acordo com a cidade em que eles estão. Joici Portugal explica que os circos precisam pagar taxas para os governos locais para se instalarem e que o preço das entradas é cotado em cima dessas taxas e do custo de vida de cada lugar. Se é mais caro se manter em uma cidade, o ingresso precisa subir um pouco para conseguir ficar por lá. 

Onde achar os circos

Real Português

Até 7 de abril, às quintas e sextas, às 20h30; e sábados e domingos, às 16h, às 18h e às 20h30; no estacionamento do estádio Serejão (Taguatinga, próximo à QNL). Os ingressos custam R$ 15 a meia e R$ 30 a inteira para o setor lateral, e R$ 20 a meia e R$ 40 a inteira para o setor central. Classificação indicativa. Em 12 de abril, o Real Português estreia em Planaltina.

Astros

A partir de 29 de março, estreia em Sobradinho. Quem apresentar print desta matéria na bilheteria do circo vai pagar R$ 10 a meia e R$ 15 a inteira no setor lateral, e R$ 15 a meia e R$ 20 a inteira no setor central. Demais ingressos serão divulgados on-line mais próximo à estreia. Classificação indicativa livre. 

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