Voo do Anjo busca ressignificar a vida por meio do luto, diz diretor
Ao lado de Othon Bastos, Emílio Orciollo Netto estrela o filme Voo do Anjo, de Alberto Araújo. Os dois falaram sobre a sensibilidade do tema
atualizado
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O que seria da vida sem a morte e o luto? Mesmo que um ponto só exista alinhado com os outros dois, o assunto sobre o fim se tornou um tabu e, muitas vezes, algo evitado de ser conversado. Há, ainda, a questão do suicídio. Esses temas foram alvos de Alberto Araújo em O Voo do Anjo, estrelado por Emílio Orciollo Neto e Othon Bastos.
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Ao Metrópoles, o ator, de 51 anos, explicou que assuntos como esses estão alinhados na carreira de um artista, que busca, por meio de seu trabalho, levar uma nova visão e uma reflexão à audiência, buscando provocar uma mudança no público.
“Que chegue a emocionar as pessoas, porque nós temos o poder de ressignificar e transformar as emoções. Só faz sentido se a gente realmente for um instrumento para levar uma mensagem, seja ela qual for. Quando você encara o seu trabalho, seja onde for, como uma ponte de comunicação genuína, sagrada e profana, tem a possibilidade de acontecer”, declarou.
Na trama, inclusive, Orciollo dá vida à Arthur, um homem que vai a uma festa de aniversário com a filha criança, mesmo contra a vontade de sua esposa. A menina cai do alto do prédio e morre. A partir daí, ele busca o suicídio, como forma para acabar com a culpa, mas encontra o professor Victor, que muda a perspectiva dele.
O filme trouxe muitas dificuldades para o ator, já com 30 anos de carreira, por se tratar de um tema bastante sensível. Ele é pai de um menino de 7 anos e falou sobre como foi entrar no personagem, já que a produção o pegou em um lugar diferente, e ressignificar o valor da vida.
“Até eu mergulhar de fato, eu me protegi muito porque é uma dor muito grande. A arte acaba se misturando, tem alguns personagens que não dá para ser burocrático, não dá para você apenas ler o texto e vivenciá-lo de uma forma que não seja respeitosa”.
Emílio Orciollo Neto
Ligação de Alberto Araújo
Além de diretor, Araújo ainda é poeta e vê os filmes como forma de dar à poesia um lugar no mundo. Segundo ele, hoje essa forma de arte está um pouco “fora de moda”.
“Parece que deixa o filme mais leve. Quando você tem atores desse gabarito no filme, a poesia soa como natural”, elogiou.
A sua conexão entre poesia, luto e morte vem desde muito cedo, quando ainda tinha 12 anos de idade. O diretor relembrou quando um amigo da escola morreu ao ser atropelado e ele escreveu uma frase: “A morte no ser vivo sempre a nos rodear, esperando a nossa hora e a gente fazer hora, esperando ela chegar”.
Ao falar sobre o tema suicídio, ele explicou que as pessoas não gostam de abordar esse tema, mas que não aceitar o problema, não significa que ele deixe de existir. “Eu procurei tocar nesse assunto de uma forma menos crua e mais sensível. Acho que [o tema] precisa ser tratado porque está muito presente, infelizmente, nessa sociedade que chamamos de moderna”, completou.
Alberto Araújo ainda ressaltou a mensagem de uma música utilizada no final do filme, que fala sobre esperança. “Eu vi a esperança fazendo as malas, não deixa a esperança partir, o lugar dela é aqui”.