Veja “Hush – A Morte Ouve”, terror esperto disponível na Netflix
No filme, uma escritora surda e muda tem sua casa invadida por um estranho mascarado
atualizado
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Desde que o diretor John Carpenter revolucionou o terror com “Halloween” (1978), em que um mascarado friamente esfaqueia quem encontra pelo caminho, os bons exemplares do gênero buscam renovar os sustos com novos truques. Recém-lançado pela Netflix, “Hush – A Morte Ouve” brinca com as possibilidades sonoras fornecidas pela trama: uma mulher surda e muda tem sua casa invadida por um assassino. Um duelo entre barulho e silêncio.
A atmosfera minimalista
Diretor de “O Espelho” (2013), o cineasta Mike Flanagan volta a burlar os limites do olhar – e, agora, da audição – em “Hush”. Maddie é surda desde os 13 anos e mora sozinha numa casa de campo. Quando o invasor (John Gallagher Jr., também em “Rua Cloverfield, 10”) bate à porta – literalmente –, ele logo percebe que tem uma vantagem sobre a vítima.
Se Carpenter em “Halloween” causou incômodo ao compartilhar o ponto de vista de Michael Myers com o público, Flanagan tenta provocar a mesma sensação ao espalhar ruídos pelo filme. A natureza lá fora emite seus rangidos, os passos parecem mais pesados do que de costume e a arquitetura da casa, recheada de vidraças, joga a favor dela e dele. Nós e o assassino estamos curiosamente do mesmo lado: podemos ouvir. Mas Maddie luta sozinha – com a nossa torcida.
Quando cai a máscara
Lá fora, filmes como “Hush” são inseridos num subgênero do terror chamado “home invasion”. Na tradução literal, “invasão de casa”. Eles têm como trunfo o mistério em torno do assassino: são figuras sem motivo aparente, obviamente hostis e frias, e incansáveis em seus atos de violência. Usam máscaras genéricas e impessoais.
O homem que invade a casa de Maddie deixa de usar a máscara bem cedo na trama. Em certo sentido, ele acredita que poderá matar a escritora sem muitas dificuldades. Que ela veja quem ele é, então. E que o público reconheça prontamente a face do matador. Ele segue misterioso, sem nome nem razão para matar. Eis o único “alívio” dado pelo diretor a Maddie: um rosto para temer e odiar.
Uma heroína de poucos clichês
Antes de se revelar para Maddie, o assassino chega a entrar na casa mansamente. A escritora está concentrada no computador, falando com amigos, lendo mensagens e tentando ensaiar um novo livro. Centímetros atrás, o matador sabe que não pode ser ouvido. “Isso está fácil demais”, ele pode ter pensado. Sai de cena e decide brincar com a vítima.
Fora o fato de que a heroína é surda e muda, em nenhum momento o filme fragiliza a personagem para além de sua incapacidade auditiva. Maddie faz o que pode para evitar que o homem consiga entrar. Ela precisa basicamente confiar em seu olhar e no fator surpresa para dobrar o matador. Cada novo revide da escritora deixa a constatação: lutar como uma mulher nunca foi nem nunca será um demérito.