Único cinema aberto no DF, Drive-in lucra alto e vê público aumentar 325%
O cinema ao ar livre conta com programação de filmes infantis e adultos, sendo as única opção de diversão em meio à pandemia de coronavírus
atualizado
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Assistir a um filme com a família na televisão de casa acabou se tornando uma das únicas opções de entretenimento em meio à pandemia do coronavírus. Por isso, as plataformas de streaming como Netflix, Amazon Prime e Globoplay registraram significativo aumento de audiência. Porém, após dois meses em quarentena, o tédio apertou e, um velho conhecido da cena brasiliense, ganhou um protagonismo inesperado: 0 Cine Drive-in.
Com decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), no último dia 24 de abril, o cinema foi reaberto – tornando-se a única sala comercial com programação no Distrito Federal. A estrutura única do local ajuda as pessoas a obedecerem as normas de distanciamento social: os frequentadores assistem o longa de dentro do próprio carro com a frequência do áudio do filme no som do veículo. A exclusividade, é claro, ajudou ao Drive-in, que registrou um aumento de, aproximadamente, 325% na procura.
Dados da ComScore Brasil, levantados junto ao Cine Drive-in, corroboram o sucesso do cinema ao ar livre em tempos de pandemia. A consultoria indica que os três filmes em cartaz no espaço (Uma Aventura Lego 2; Sonic – O Filme; e Creed III) registraram a venda de 2.328 ingressos no último fim de semana (de 14 a 17 de maio). Cerca de 582 entradas por dia.
A operação do local, no entanto, teve que se adequar para evitar a disseminação da Covid-19. Para funcionar, o Drive-in precisou deixar o espaço de uma vaga livre por carro, visando evitar o contato entre famílias – diminuindo a capacidade total de 396 para 198 carros. Além disso, o uso de máscara de proteção é obrigatório, apenas uma pessoa por vez pode ter acesso aos banheiros e a lanchonete do local foi fechada por segurança.
A redução na capacidade, no entanto, não virou um problema. Afinal, o cinema ao ar livre, com uma tela de projeção de 312 m², viu a média da ocupação quadruplicar. Marta Fagundes, em entrevista ao Metrópoles, contou ter ficado impressionada com a repercussão que o Cine Drive-in ganhou após a reabertura em meio ao coronavírus. “É muito gratificante ver todo nosso trabalho sendo reconhecido, o Drive-in tendo o seu valor”, disse ela, que trabalha no negócio de família desde 1975.
Marta e a filha, Bruna Fagundes, responsável pela bilheteria do local, afirmam que os frequentadores respeitam o uso de máscaras e aceitam as regras de funcionamento do espaço. “A maioria está bem preocupada com tudo que está acontecendo”, garantiu. Segundo as administradoras do cinema, os funcionários do local fizeram teste para o novo coronavírus e os resultados deram negativo.
Escolha de filmes
Na última sexta-feira (15/05), o Metrópoles acompanhou uma noite de filmes no local. O primeiro longa, Uma Aventura Lego 2, começava às 18h10 e, às 17h10, os primeiros carros começaram a fazer fila na porta do Drive-in.
Sendo o primeiro e segundo filme (Sonic) voltados ao público infantil, era difícil encontrar um automóvel que não estivesse cheio de crianças, acompanhadas dos responsáveis, evidentemente. O casal Ana e Daniel, por exemplo, foram acompanhados dos filhos pequenos para conhecer o local e se distrair.
Daniel aprovou a experiência e afirmou que pretende voltar. “As crianças (até 10 anos) não pagam, o que nos faz querer vir mais vezes, até para mudar um pouco a rotina”, disse o pai. O cinema oferece outra vantagem, quem chega na primeira sessão pode permanecer no local até o encerramento: uma espécie de pague um e veja três.
Segundo Bruna, mesmo assim, as famílias costumam assistir apenas um filme. Daniel e Ana confirmaram a informação da administradora do local: viram apenas Uma Aventura Lego 2, já que os filhos pequenos não conseguiriam ficar acordados até o encerramento dos outros dois longas.
Escolha dos filmes
Tendo se tornado a única sala de cinema aberta em todo o Distrito Federal, o Cine Drive-in faz sucesso, mas, igualmente, precisa lidar com críticas de cinéfilos e brasilienses interessados em quebrar a rotina da quarentena. No Instagram, o público tece reclamações sobre as escolhas de filmes, afirmando que são produções antigas ou que estão disponíveis na televisão. Os longas em exibição mudam todas às quintas-feiras.
Bruna explica que, ao contrário de uma transmissão caseira, o Cine Drive-in obedece a regras e regulamentações do mercado, precisando, entre outras coisas, adquirir licenças de exibição. “Não é só colocar um DVD ali e passar, existe renda, existe uma negociação por trás. Da Disney, por exemplo, não conseguimos nenhum filme porque a companhia não libera”, justifica.
Pelo Brasil
Antes do coronavírus, 0 Cine Drive-in de Brasília era o único em operação no Brasil – parte dessa história é contada por meio da ficção no longa O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho. No entanto, a pandemia fez aumentar iniciativas do gênero – Marta Fagundes revelou que tem recebido contato de pessoas de outros estados com pedidos de dicas sobre a administração do espaço.
No Rio de Janeiro, por exemplo, tem um projeto de Drive-in previsto para o final de maio, na Barra da Tijuca. A previsão é para iniciar os trabalhos em 28 de maio e seguir até o final de junho. Cada sessão, com duração de quatro horas, custará R$ 100 por automóvel. Já na Cidade das Artes, será inaugurado um espaço de filmes ao ar livre até o final do mês, com capacidade para 150 automóveis.
Em São Paulo, a rede de cinema Cinesystem se uniu a um shopping de Praia Grande para abrir um drive-in de improviso no estacionamento do local. As opções de filmes serão produções em cartaz antes do fechamento do cinema, sempre variando entre infantis e terror.
Cine Drive-in
Área Especial do Autódromo. Diariamente. Início da primeira sessão às 18h10. Ingressos a partir de R$ 14 (segunda a quinta) e de R$ 15 (sexta a domingo e feriados). Valores de meia-entrada. Classificação indicativa de acordo com o filme. Mais informações no site